quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O mistério das muletas abandonadas do Tietê

O mistério das muletas abandonadas do Terminal Tietê



Apenas mais um dia de trabalho como outro qualquer para aquele funcionário responsável pela seção de achados e perdidos no Terminal Tietê. “Mais um par de muletas... Eu não consigo entender como alguém pode esquecer um par de muletas!” Naquela entulhada sala, entre os milhares de objetos deixados, havia um espaço dedicado somente para as muletas. Era um mistério que ninguém conseguia desvendar.
Mas voltemos àquele par de muletas do início para se saber quem havia deixado ele lá no terminal.
Severino, com muito custo, conseguira chegar à plataforma de embarque com uma hora de antecedência. Não sem antes passar pelo transtorno no corredor norte-sul – uma rotina insalubre para quem mora na maior cidade do país. “Obrigado Roberval, não se preocupe comigo que daqui em diante eu me viro sozinho”. Agradeceu ao amigo e ficou aguardando pacientemente o horário de embarque. Sentou-se numa cadeira e alguns minutos depois estava dormindo. Não percebeu quando aquele homem se aproximou. O estranho então puxa conversa: “Que agitação hein!” “Aqui é sempre assim no final de ano, todo mundo viajando para ver a família...”
O estranho disse a Severino que ali estava em uma missão especial. “Na verdade eu estou aqui para lhe dar um presente... “Como assim?” – interrompeu-o Severino. “Você não vai mais precisar dessas muletas ai... “Como assim?” – berrou Severino, agora incrédulo. O estranho apenas olhou nos olhos arregalados de Severino e abriu um sorriso. “Não fica assustado não meu filho, há coisas nessa vida que não tem explicação, que simplesmente acontecem; alguns chamam isso de milagre, de obra divina, e tantas outras designações, mas o que lhe ofereço é algo que lhe é de direito; é de seu merecimento. Eu estou muito feliz por ter sido o escolhido para lhe trazer este presente. Você é uma pessoa especial e já aprendeu o que tinha que aprender com a sua condição, agora enfrentará uma nova etapa que, desde já eu lhe alerto, vai ser mais difícil.”
Severino não se conteve e começou a chorar. Sentiu um sei quê de bondade nos olhos de anjo daquele homem.


Severino desperta de repente e leva um susto quando olha para o relógio. “Meu Deus, faltam apenas dez minutos para o embarque!” Levantou-se rapidamente e esbarrou-se naquele par de muletas. “Mas que estranho! Quem será que deixou isso aqui?” – pensou. “Bom, vou entregar para algum guarda”, concluiu.
E assim terminava mais uma missão para aquele estranho que contribuía para tornar o espaço da seção de achados e perdidos, destinado para as muletas, cada vez mais entulhado.
Dona Severina – mãe de Severino, ao ver o filho chegar, ajoelhou-se no chão e pôs-se a chorar. “Valei-me minha nossa senhora! Milagre!” Desmaiou.



Fim – Isaías Gresmés 31/12/2008

domingo, 28 de dezembro de 2008

O SAFADO

O Safado



Ele chegou de mansinho sem se anunciar,
Destrancando a porta sem barulho causar,
Na esperança que eu estivesse dormindo.
Mas pra sua surpresa eu estava sorrindo,
Com o controle do vídeo na palma da mão,
Já pronta pra pôr o meu plano em ação.
Ele sem entender já quis se desculpar:
“Fiquei até mais tarde pro trabalho acabar...”
Mas eu o interrompi e disse “Psiu! –
Preste bem atenção, o seu imbecil:”
Dei inicio então à exibição
De um filmeco sacana na televisão.
O safado entendeu e ficou com pavor,
Quando viu que era ele o traste do ator,
Que protagonizava aquela imundície,
Digna de um verme, safado e patife.
No filme ele urrava feito um leitão
Na hora da morte pela aflição.
Mas não era de dor que o biltre gemia,
Era por um negão que ele o fazia,
Pois estava de quatro, fungando no chão
E por cima, engatado, estava o negão...
“Mas como que foi que você filmou isso?”
“Não interessa pilantra, verme sem juízo!
Você some daqui e nunca vai voltar!
Pois amanhã o doutor vai te procurar,
Você vai assinar nossa separação,
Depois disso poderá viver com seu negão!”
Fiquei muito triste por assim ser traída
Mas não dei por fim ali a minha vida:
Mais tarde conheci um homem de verdade,
Que me trouxe amor, paz e felicidade.
Hoje tenho dois filhos e um macho na cama
Que todo dia me faz sentir uma dama.

Isaías Gresmés 28/12/2008

quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

O Stradivarius

O STRADIVARIUS


-Com licença Rafaela, desculpe-me por interrompê-la em seus estudos meu anjo, mas a sua mãe te chama para o jantar.
-Tudo bem Alberta, diga a ela que já desço.

Rafaela, linda moça
Estudava as lições,
De Vivaldi, grande mestre,
As suas Quatro Estações.

Só faltava mais um dia
Para a apresentação,
Da sua orquestra de câmara,
Em Campos do Jordão.

Ansiosa, não estava conseguindo nem dormir direito. “Ai meu Deus, olhai por mim e por meus companheiros para que tudo saia perfeito...” Rafaela não se cansava de pedir ao alto. E isso era consequência, principalmente do seu perfeccionismo.

A linda adolescente
Desceu para o jantar.
E assim que terminou
Voltou para ensaiar.

Ela era a única filha da Sra. Elga e do Sr. Rudolph – ambos alemães – que já estavam morando no Brasil havia vinte e três anos. Rudolph trabalhava em uma montadora de carros alemã como engenheiro mecânico e Elga era professora de música do Conservatório de São Paulo, tendo sido a responsável pelo gosto musical refinado da filha.
Apesar da sua posição social, no entanto, Rafaela sempre se mostrou muito dócil com os empregados humildes da residência e estes a adoravam. Alberta, a governanta, a tinha como uma filha.
Os pais de Rafaela não gostavam muito dessa aproximação da filha com os empregados: “Não se misture com esta gente minha filha...” – ela sempre ouvia por parte deles, recomendações dessa natureza.

Narrador

No mundo material
Os homens não são iguais:
A maioria ganha pouco
E muito poucos ganham mais...

A linda moça pega o lindo violino que ganhara da mãe em seu aniversário de quinze anos. Ainda lembra-se das recomendações da mãe: “Esse violino tem quase 300 anos minha filha! Ganhei-o do seu avô quando tinha mais ou menos a sua idade... Ele me disse que o achou em uma casa destruída pela segunda guerra na Polônia... Só não me disse mais detalhes... Recentemente solicitei uma análise de um perito de renome internacional e ele me afirmou que se trata de um Stradivarius legítimo e que vale uma fortuna... Cuide bem dele querida.”
Com essa doce recordação ela recomeça o ensaio. Executa os primeiros acordes de “A Primavera”. Seu pensamento viaja com as notas sublimes da bela canção... Seus dedos delicados percorrem as as cordas do raro instrumento extraindo delas as mais divinas combinações de notas, dignas de estarem na obra do padre gênio.
Duas horas depois, já exausta, decide parar. Acondicionou o instrumento em uma bela caixa de madeira, dirigiu-se ao banheiro... banhou-se... entrou dentro de uma linda lingerie de seda e se deixou deitar-se suavemente em acolhedora cama...

Desperta harmoniosamente no outro dia, com um lindo canto de pássaro.


Narrador

Rafaela é acordada
Com o som do Bem-te-vi
Que todas as manhãs
Ia cantar por ali

A bela moça adorava
A suave melodia
De arranjo bem simplório
Que aquela ave fazia



Seis horas da manhã. Mais ansiosa que de costume, Rafaela toma seu café rapidamente, despede-se de Alberta com um abraço e um beijo. “Vai com Deus meu anjo”. Na frente da arborizada residência, Roberto, o motorista, esperava-a no automóvel.
A viajem transcorria normalmente. Rafaela ensaiava na mente os detalhes da apresentação que seria a céu aberto. De repente Rafaela percebe que o automóvel para no acostamento da rodovia.
“O que está acontecendo Roberto” – pergunta ela. “Eu já vou te explicar”, adianta ele. Nesse momento encosta um veículo e logo em seguida saem duas pessoas de dentro dele: um homem e uma mulher.

Rafaela

Roberto, o que está acontecendo?
Quem são estas pessoas?
Eu não estou entendendo...

Narrador

E Roberto relatou para Rafaela tudo o que estava acontecendo. Explicou que fazia parte de uma organização internacional que visava recuperar o patrimônio roubado dos judeus pelos nazistas durante a segunda guerra mundial. A bela moça ficou muito chocada quando ele lhe relatou que seu avô, Fritz Nensk, fora um membro importante do terceiro Reich, e participara de experiências desumanas com seres humanos, pois era médico. Foi amigo íntimo de outra figura tétrica, o médico Joseph Mengele. Atuou, principalmente, nos campos de concentração da Polônia e em meados de 1943 fora mandado para uma missão no norte da África. Viajou com a mulher e a filha Elga, de apenas dois anos.
Com a derrota da Alemanha nazista, ficou morando durante cinco anos, utilizando outra identidade, como médico, em Argel – capital da Argélia.
Em 1948, após receber uma correspondência do seu amigo Joseph, decide vir para o Brasil, onde fixa residência em um sítio no município de Embu. Foi nessa cidade que, quinze anos mais tarde, Elga se casa com Rudolph, filho mais velho de outro imigrante alemão.


Roberto

Parte do patrimônio que seu avô deixou
Foi fruto de várias famílias que ele surrupiou

Rafaela, aos prantos, custava a acreditar que tudo aquilo era verdade, mas ficou convencida depois que Emanuelle, a mulher que estava no carro com o outro homem, explicou-lhe com mais detalhes como aquela ONG atuava no mundo.

Emanuelle

Nós tínhamos como objetivo principal
Levar o seu avô à corte internacional
Isso só não aconteceu
Porque antes ele morreu

Narrador

E assim foi feito. O raro Stradivarius seguiu com aquelas pessoas rumo aos herdeiros de direito na Polônia. Rafaela recebeu outro violino de Roberto e ambos seguiram rumo à Campos do Jordão.
Era uma manhã ensolarada, mas fazia frio, pois iniciava o inverno.
Rafaela entendeu que era melhor não envolver a polícia neste caso, pois sua família correria o risco de ser envolvida em um grande escândalo internacional.
A apresentação foi maravilhosa. O Festival de Inverno em Campos do Jordão estava se tornando, a cada ano, mais belo. Rafaela, apesar de tudo, sentiu-se muito feliz.
Após as devidas explicações, Roberto se despede da família. Tanto o Sr. Rudolph quanto a Sra. Elga ficaram convencidos que o melhor era se conformar coma perda do raro violino.

Uma semana depois é veiculado no mundo inteiro mais um feito daquela organização. Os jornais estamparam a foto dos verdadeiros donos do Stradivarius.


FIM

Isaías Gresmés 24/12/2008

sábado, 13 de dezembro de 2008

A vida de um guerreiro

A vida de um guerreiro.


Às margens de uma rodovia, em uma pequena cidade do interior, havia um cemitério - pequeno como a cidade - e bem ao lado da diminuta morada dos mortos, existia também um lixão. Mais abaixo, depois de um brejo, corria livre um rio – que começava a tornar-se poluído devido à contaminação do lixo. Foi neste cenário peculiar que essa história aconteceu.

Às margens da rodovia
Ao lado do cemitério
Deu-se esse caso sério
Em manhã chuvosa e fria

O pequeno Joseval
Na companhia do irmão
Juntos iam pro lixão
Na rotina habitual

JOSEVAL:

Vamos logo Zé Maria
Que já estamos ensopados
E é melhor tomar cuidado
Ao cruzar a rodovia

Pois com essa fina garoa
É melhor não se arriscar
E na hora de atravessar
Só passa na hora boa

ZÉ MARIA:

Não esquenta Joseval
Que cuidado eu vou tomar
Na hora de atravessar
Pois não quero me dar mal

Depois de uma caminhada de trinta minutos, os dois chegam ao ponto da travessia... O trânsito não estava tão intenso, porém todo cuidado era pouco, pois naquele ponto já havia acontecido muitos acidentes fatais. “Toma cuidado com seu irmão meu filho! Não deixa ele atravessar sozinho!” Joseval relembrava as recomendações da mãe.

Neste momento a chuva engrossou
E a visibilidade já não existia
Nuvens carregadas escureceram o dia
E a tempestade, então desabou



Parte II

Joseval se apressou na hora de atravessar. Olhou para os dois lados, viu que ao longe vinha uma carreta com os faróis acesos... Sentiu que dava para ir... foi.
Zé Maria titubeou... Ameaçou ir, voltou... Assustou-se com um raio... decidiu ir... O caminhão não conseguiu frear, havia muita água na pista...

Em uma poça de água os pingos de chuva dissolviam o que restou do pequeno menino.


Alguns anos se passaram. Joseval, agora um adolescente, ainda buscava o sustento da família no lixão do cemitério.
Sempre quando terminava de fuçar os detritos em busca de materiais recicláveis, passava no cemitério para visitar a humilde cova do irmão.
Um dia percebeu que no setor onde os ricos eram sepultados, as pessoas que visitavam os mausoléus, sempre deixavam alguns vasos de flores, que depois de alguns dias eram jogados lá no lixão. Algumas plantas já estavam mortas, outras apenas ressecadas. Joseval começou a pegar esses vasos. Com algumas plantas ele enfeitou a humilde cova do irmão.
Decorridos alguns meses, Joseval ficou tão feliz, pois a cova do irmão estava coberta de vida.

Na cova outrora triste
Agora bailava a vida
Onde lindas borboletas
Ensaiavam piruetas
Em torno das margaridas

Os crisântemos amarelos
Abriam-se para o céu
E as abelhas num zum-zum
Visitavam um a um
Extraindo o néctar em mel

O administrador local, quando viu o trabalho do Joseval, fez uma proposta a ele:
“Meu rapaz, você leva jeito para jardinagem... Você gostaria de trabalhar aqui no cemitério, para cuidar das sepulturas?”
Claro que Joseval aceitou. Ficou radiante de alegria. Começou naquele dia mesmo o seu novo ofício. E executava o serviço com todo amor do mundo.
Em pouco tempo ele já havia transformado aquele humilde cemitério em um lindo e perfumado jardim.
Os freqüentadores ficavam encantados com o trabalho dele e sempre contribuíam com uma bela gorjeta.
A vida da sua família melhorou vertiginosamente. “Olha mãe, o que eu comprei: uma cadeira de roda para senhora...” A velha naquele dia chorou muito, mas não foi de tristeza, como sempre fazia... desta vez foi diferente.


Parte III


Joseval não se conformava com a poluição que o lixão estava provocando no rio que corria ali ao lado do cemitério. Começou a estudar algumas soluções durante vários dias. Foi a uma Lan house, digitou toda ideia, imprimiu e se dirigiu à prefeitura local.


Joseval

Bom dia, eu trabalho perto do lixão
E gostaria de apresentar
Uma forma de acabar
Com o problema da poluição

Pois o nosso rio está morrendo
E isso é uma judiação
Por isso uma grande ação
Ele clama nesse momento


Secretário do meio ambiente

Alto lá seu moleque
Quem você pensa que é
Sai pra lá seu Zé Mané
Se manda seu mequetrefe!

Joseval saiu arrasado da prefeitura. Sua vontade era de matar aquele homem, mas mesmo após esse triste episódio, ele não desistiu de salvar aquele rio.
No outro dia conversou com o administrador sobre o seu projeto. “Que idéia boa Joseval! Tem tudo para dar certo... Eu vou te ajudar.”
Havia um pequeno salão desocupado nos fundos do cemitério onde antes eram guardadas as ferramentas e outros apetrechos; porém com a reforma recente, ele ficou sem uso. Joseval recebeu a autorização do administrador para guardar os materiais ali.
Alguns dias se passaram. Joseval falou sobre o seu projeto para seus antigos amigos do lixão.

Joseval

A ideia é a seguinte
Vamos trabalhar em união
E depois, no fim do dia
Faremos a repartição

Não vai ter atravessador
Para nos engambelar
E o mesmo que ganha um
O outro irá ganhar


Mas não é só isso irmãos
Por isso prestem atenção
O nosso rio ta morrendo
Devido à poluição

Além das latas
Do plástico e do papelão
Nós vamos salvar o rio
Por meio de nossa ação

Começaremos nas margens
O nosso plano em questão
Recolhendo lixo reciclável
E iniciando a plantação

De mudas da flora nativa
E, com isso, iniciar
A recuperação fundamental
De toda a mata ciliar

Quanto ao lixo orgânico
Aproveitaremos tudo
Através da compostagem
Transformá-lo-emos em adubo

Com isso tiraremos uma renda
Bem melhor neste lixão
E teremos garantido
Na nossa mesa o pão

É claro que nem todos concordaram com o plano do Joseval. É claro que alguns falaram por trás que ele estava era querendo roubar os demais. Mas o fato é que a ideia deu certo. Quatro meses depois, aquele quartinho no cemitério não era mais suficiente para guardar todo o material recolhido. Mas a cooperativa dos catadores do lixão do cemitério já tinha os recursos necessários para alugar um espaço maior. Um ano depois a CCLC já era uma empresa aberta e muito bem administrada.
O lixão não representava mais ameaça para o meio ambiente, pois tudo que ali era depositado também era reciclado.
O prefeito da cidade quis se aproximar de Joseval, mas ele não se deixou levar pela conversa dele. Há muito se desencantara com a política.
Uma emissora de televisão exibiu uma longa reportagem no horário nobre sobre o trabalho da CCLC. Com isso a cooperativa ganhou um prêmio muito importante do governo federal.
Joseval conseguiu uma bolsa para estudar Gestão Ambiental. Formou-se. Três anos depois conseguiu, juntamente com os companheiros da cooperativa, comprar a empresa que recolhia lixo na cidade. Bem, mas essa é outra etapa na vida desse bravo brasileiro.

FIM – Isaías Gresmés 13/12/2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

Novo Lar

NOVO LAR

Em uma calçada encontrei um colar,
De fino cordel e simples labor,
Com uma letra “I” a se destacar,
E nela, um escrito era instigador:

“Dentro desta letra há uma instrução
A qual deverá cumpri-la direito.
No fim ganhará como premiação
A magia do amor que está no meu peito.”

Meia noite... confuso e ressabiado...
Dirigi-me então ao local combinado:
Uma velha e erma estação de trem...

Foi então que uma deusa surgiu do além,
Ofertando a mim um lindo sorriso:
Era o meu bilhete para o paraíso.

Isaías Gresmés 07/12/2008

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Paixão Oriental

PAIXÃO ORIENTAL

Foi numa manhã de primavera ensolarada,
Em que as flores do Ipê já descansavam nas calçadas
Das discretas e estreitas alamedas do Embu,
Que eu avistei Mishiko, em um lindo traje azul.
Ela estava concentrada no entalhe da madeira,
Esculpindo um bebê que segurava a mamadeira...
Fiquei ali observando-a como que paralisado,
Desejando, algum dia, ser por ela desejado
E também ficar pra sempre residindo em sua mente...
(E morar junto com ela na Terra do Sol nascente...)
De repente acordei do lindo sonho repentino,
Com a certeza de que ela era a luz do meu destino.
Decidido, resolvi ir até ela e conversar.
Mas Mishiko era muda... não podia falar...
Ela se comunicava somente com gestuais
E conseguia fazer isso com sutileza e paz...
Do seu semblante emanava um sei que de alegria;
Do seu todo - uma canção de engenhosa harmonia...
“Conversamos” sobre tudo e juntos demos risadas,
Até que fomos despertos por ruidosas trovoadas:
Do céu, Deus anunciava que a chuva ia cair
E nos avisava assim, que já era hora de ir.
No momento da despedida eu não puder me conter,
Segurei a mão da deusa – e ela pôde perceber
Que as minhas mãos tremiam por causa da emoção
Que percorria meu corpo – das unhas ao coração...
Então a ela nada disse... Me virei e saí correndo...
Atitude que, aliás, hoje, eu muito me arrependo
Porque, dias depois, ao voltar para o Embu
Eu já não mais avistei a minha linda flor azul.
Perguntei a um artista que trabalhava no local
E o que ele me disse me deixou passando mal:
“Um raio que aqui caiu fulminou a japonesa
Para o nosso sofrimento e nossa grande tristeza...”
Naquele triste momento morreu parte de mim
Pois, de uma grande paixão, eu só fiquei com o fim...

Isaías Gresmés 04/12/2008

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

Esquecer você

ESQUECER VOCÊ

Esquecer você?
Receio não conseguir
E vou te explicar porquê:
O cantinho da memória,
Onde gravo minha História,
Sucumbiu ao esgotamento,
Desde o primeiro momento
Em que eu te conheci...
E a partir de então
Todo meu pensamento,
Resume-se em você...
Por isso que eu te digo:
Esquecer-te não consigo...
Hoje eu vivo pra você...
Mesmo com os olhos fechados
Eu não deixo de te ver...
Pois a parte da memória
Onde gravo a minha História,
Sucumbiu ao esgotamento,
Desde o primeiro momento
Em que na minha vida
Você veio aparecer...

Isaías Gresmés 02/12/2008

sábado, 29 de novembro de 2008

Perdoe minha maluquice

Perdoe minha maluquice


Confesso minha maluquice
No ato de escrever,
E também minha chatice
Em obrigar o alheio a ler.

E fico feliz assim,
Com o mimo recebido;
Isso é presente pra mim,
Sinto-me agradecido.

Sei que nunca vou chegar
A ser Camões ou um Pessoa.
Mas pretendo poetar
Coisas más e coisas boas,

Até findar minha existência-
Quando irei pra um novo lar
E viver nova experiência,
Com os nativos do lugar.

E eles irão presenciar
A minha declamação.
No fim espero escutar
Aplausos de aprovação.

Confesso minha maluquice
No buscar do reconhecimento.
Perdoe a minha chatice
E a falta de dicernimento...

Isaías Gresmés 29/11/2008

Roubo das idéias

ROUBO DAS IDÉIAS

Roubar é um ato cruel:
Um alfinete, um banco, um papel -
Enfim: não importa o objeto roubado.
Esse ato é cruel àquele que foi surrupiado.
Mas talvez o roubo mais feio
É aquele em que o sujeito
Se apossa da idéia alheia...
E passa semear a centelha
Da chama que não lhe pertence....
Fazendo com que outros pensem,
Que os versos elaborados
Foram por ele lapidados
Com paciência e primor;
Por certo desconhece o amor
Ao próximo e ao que penou na cruz...
Desconhece o ensinamento do nosso senhor Jesus...

Isaías Gresmés 29/11/2008

Poema idealizado para campanha pelo respeito aos direitos autorais idealizado pela Betânia.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

O Portal da Vida

O Portal da Vida (Pedido do meu amigo Rui, na comunidade Cantinho Poético...)

O começo de uma vida
Acontece pela união,
De partes, cuja atração
Não se faz despercebida.

A tal processo divino
Dá-se o nome concepção,
Em que as partes em questão
Juntam-se em solo uterino.

E neste ambiente de amor
Crescerá pequena flor,
Protegida, com guarida:

Que esperará paciente,
Vários dias de sol poente,
Pra estrear sua nova vida.

Isaías Gresmés 28/11/2008

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

CARÊNCIA

CARÊNCIA

Vou te dizer uma coisa:
Sou carente de você.
Sou louco pelo seu cheiro, essa espécie de feromônio
Que emana da sua pele e que me entorpece...
Não vejo a hora de cheirar cada centímetro do seu corpo,
Não para sufocar-lhe, mas sim para saciar minha carência.
Eu gostaria de puxar seus cabelos,
Não para te machucar, não!
Bem de leve, para eu poder sentir a sedosa textura deles.
Eu gostaria de amassar o seu corpo contra o meu,
Mas suavemente,
Para sentir os batimentos do seu coração...
Para sentir o ritmo da sua respiração.
Eu gostaria, enfim, de fazer amor com você,
Desde o nascer do sol até o dia escurecer
E depois ficar feliz com o seu cheiro impregnado em mim.

Isaías Gresmés 20/11/2008 – para amiga Betânia

Sonho X realidade

SONHO x REALIDADE

Não há mais estradas para trafegar,
Porque as pessoas viajam pelo ar.
Onde havia os altos espigões,
Predominam hoje arbustos, aos milhões.
Os carros que antes poluíam o ar,
Já não perturbam a paz do lugar.
As fronteiras que separavam nações,
Hoje não existem em nossos corações.
As pessoas vivem em grande harmonia,
Semeando a paz - colhendo alegria.
É no subsolo, o lar, a moradia,
Mas com abertura para luz do dia.
A água da chuva é aproveitada.
E a do esgoto é sempre reciclada.
A poluição é coisa do passado,
Pois da natureza, o homem é aliado.
No passado a guerra ensangüentou o mundo.
Hoje só há paz, por todo segundo.

Desperto do sonho lindo,
Ainda alegre sorrindo,
Em plena segunda-feira.

Enquanto faço o café,
Assisto a TV em pé,
As notícias de primeira:

Fiquei sabendo então,
Da greve da lotação,
Em toda minha cidade.

Minha expressão mudou,
Meu bom humor azedou,
Disse: “puta que pariu!”

“Mas que porra de país!
Por que fui fincar raiz
Nessa merda de Brasil...”

Ainda meio transtornado,
Fiquei então conformado,
E fui pra cama dormir.

Logo, logo eu já roncava,
Nessa altura já sonhava -
Nele voltei a sorrir.


Isaías Gresmés 20/11/2008 – para amiga Diná

terça-feira, 18 de novembro de 2008

SELVA DE PEDRA

SELVA DE PEDRA


Ontem, floresta, rios, animais
Hoje, trânsito e empreendimentos prediais

Ontem, harmonia com a natureza
Hoje, água morta – Tietê – tristeza

Ontem os curumins podiam nele brincar
Hoje, no seu Vale, meninos vão roubar

Ontem a visão eurocêntrica prevalecia
Hoje a prevalência é a da burguesia

Ontem, bosques, flores perfumes
Hoje vielas estreitas, fedor, estrume

Ontem, podia-se ver o belo João-de-barro
Hoje, pra onde se olha, só se vê os carros

Ontem, a Vila de São Paulo de Piratininga
Hoje, os botecos que só vendem pinga

Ontem uma selva, intacta, genuína
Hoje, mortos vivos pela cocaína

Ontem já passou, já se foi, já era
Hoje somos frutos da selva de pedra


Isaías Gresmés 18/11/2008

Sensualidade

Sensualidade

Eu sou olhar que te atrai
O magnetismo que te chama
Eu sou a mão te guia
Eu sou o fogo que te inflama
Eu sou sua transpiração
Entre um tremor e outro
Ao segurar sua mão
Sou até a sensação de sufoco
Eu sou a sua salvação
Durante essa falta de ar
Eu sou o poder do beijo
Que te faz levitar
Eu sou a força que te leva
Para um ninho de amor
Eu sou o cheiro que te apaixona
Sou o murmúrio que te emociona
Sou a sua satisfação
No ápice do prazer
Que te faz enlouquecer
Sou a loucura que te provoca embriaguês
Eu sou sua cura
Eu sou a criatura
Que lhe resgata a lucidez

Isaías Gresmés 18/11/2008

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

VAIDADE

VAIDADE


Peço a Deus nesse momento
Um pouco de inspiração,
Para que eu possa escrever,
Aquilo que eu entender,
Estar perfeito na razão.

É um assunto complicado,
Vou falar da vaidade:
Pois pra quem é vaidoso,
Cultivá-la é prazeiroso
E não vê nisso uma maldade.

O sujeito vaidoso,
Cuida da imagem com zelo,
Se penteia e passa gel
E para ele é um troféu,
Quando elogiam seu cabelo.

Para ele é muito pouco
Um vidrinho de perfume,
O seu corpo perfumado,
Não disfarça o enjoado,
Bafo fétido de estrume,

Que emana da sua mente
Poluída com ignorância;
Vazia no essencial,
Repleta com o banal,
Desde a sua tenra infância.

Bem, esse é apenas um
Dos vários tipos de vaidoso.
Pois muitos não se acham,
Outros até disfarçam
Esse defeito horroroso.

Existe por exemplo, o poeta vaidoso,
Que - às vezes - escreve asneira.
Mas que, mesmo assim,
Espera que quem leu - no fim-
Elogie sua besteira.

E se isso não acontece,
Fica mal consigo mesmo.
Ele atira chateação,
Por causa dessa questão,
Pra todo lado: a esmo.


Começa a se lamentar
Que se sente desprezado
E espalha seu azedume
Tal qual o porco, o estrume,
Tornando-se um “pé-no-saco”.

O poeta vaidoso
Adora ser elogiado.
Quando isso não acontece,
De cara ele se aborrece
E diz sentir-se desprezado.

Certamente é o caso
De apelar pro analista.
Ou quem sabe de arrumar,
Um padre pra confessar,
Os queixumes da sua lista.

Vaidade é defeito
Disso eu tenho certeza
É tão ruim quanto a ganância,
A raiva, a arrogância,
A preguiça ou a avareza.

É pecado capital.
É tapume pra visão.
Quem dela é escravo,
Está preso com um cravo,
Espetado no coração.

Sua visão é deformada
Pela imagem narcisa -
A sua própria imagem.
Certamente uma miragem
Disforme e imprecisa.

Não há ser aqui na Terra
Desprovido de vaidade:
Há alguns bem mais que outros;
No saco dela estamos todos -
Isso eu afirmo em verdade.




Isaías Gresmés 14/11/2008

sábado, 1 de novembro de 2008

Quando um homem ama uma mulher

Quando um homem ama uma mulher



Quando um homem ama uma mulher
Não há frio ou calor
Nem tristeza nem dor
Nem dor de tristeza
Só há delicadeza
E versos de sobremesa
Murmurados no ouvido

Não há lugar certo para o amor bendito
Só há fogo da paixão
Pode ser no sofá ou no chão
Na cozinha, na pia
No escuro ou de dia
O tempo perde o sentido

Quando esse amor acontece
Ele vive para ela
Ele torna-se parte dela
Ele ri e chora contente
Sem tirá-la jamais da mente


Pode-se afirmar que este homem
Deu razão à sua existência
E dessa nova experiência
Dar-se-á lindos rebentos
Fontes de doces momentos
Pétalas perfumadas de bem-me-quer
Pois quando um homem ama uma mulher
Ele ama uma mulher
Só isso é importante
E o que importa é o que ele mais quer



Isaías Gresmés 01/11/2008

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Pôr-do-sol

Pôr-do-sol

É um vermelho com tom de dourado
Que predomina no findar do dia
parece que Deus pintou com cuidado
O céu, sem marcas de melancolia

E o Sol despede-se bocejando
Caindo, gradualmente, no horizonte
Os passarinhos passam voando
Para descançarem no alto do monte

Fica aqui eu em delírio admirando
A singular visão do sol se pondo
Em cores divinas no entardecer

Diante do show eu só posso pedir
Que enquanto a vida o pai me permitir
Me conceda também forças pra agradecer


Isaías Gresmés 29/10/2008

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Uma competição

Numa competição
Cujo prêmio seria a vida,
Venci.
E nem vi a morte dos meus
Milhares de oponentes.
Uni-me a minha outra metade
E juntos formamos um.
Logo em seguida
Subdividimos-nos
Em milhares,
Em bilhões de partes distintas.
E cada parte com funções distintas,
Mas intrinsecamente ligadas,
Para formar um todo maior.
Como isso tudo começou?

No princípio era um ponto
Contido dentro de não sei quê;
Que também não sei porquê,
Quis expandir-se.
E assim o fez...
E assim tudo se originou...


Isaías Gresmés 21/10/2008

sábado, 4 de outubro de 2008

No Vale dos Bons Poetas

No Vale dos Bons Poetas

Agora meu mestre está
No Vale dos Bons Poetas,
Soltando o seu beabá
No reino das rimas certas.

Onde o chão é pura luz
Em sua vasta imensidão,
E esse clarão lhe conduz
Ao jardim da inspiração.

Lugar belo, de magia,
Um ambiente perfumado.
(Onde brota a poesia,
Nascem flores bem ao lado).

Encantado com o lugar
E cheio de inspiração,
Decide então versejar
O que está no coração.

Escreve um verso de amor
E logo nasce, ao lado,
Um lírio, de viva cor:
Ele fica deslumbrado.

Alguns poemas vão surgindo
De seu talento brilhante,
Várias flores eclodindo
Sem parar nenhum instante.

O velho mestre, apaixonado
Com a beleza estonteante,
Contempla emocionado
Flores belas no horizonte.

Neste mágico ambiente
Descansa o menestrel:
Onde dorme o sol poente,
Num lugar chamado céu.

Isaías Gresmés 4/10/2008

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Corpos morrem


Corpos morrem


Todos morrem
Todos os corpos
Máquinas orgânicas
Moléculas carbônicas
Que se desagregam
Que se acomodam
De novo no solo
mas a alma não
Essa é como rio
Busca o seu mar
E quando voltar
Certamente terá
Outra configuração

Isaías Gresmés 03-10-2008

domingo, 31 de agosto de 2008

A voz de Deus em melodias

Raiou o dia,
E os passarinhos iniciam
Uma doce melodia,
Repleta de harmonia,
Em belo arranjo musical.

O sabiá no embuzeiro
Faz um dueto maneiro
Com o estranho urutau.

As pequenas andorinhas,
Com um perfeito bailado
Buscam os cupins alados,
O alimento preferido
Enquanto isso as maritacas
Iniciam algazarras,
Em verdadeiro alarido;
A singela corroíra
Faz seu ninho no telhado,
E constrói um lar amado
Pra criar a sua cria.

Todo dia é assim:
Fica aqui, eu escutando
A voz de Deus se propagando
Nos confins da minha terra.

Contente e feliz
Decido então cantar.
E sinto que a voz de Deus
Ajudo a propagar.
Assim faço a minha parte
Externando a alegria,
Que em mim o Pai plantou,
Logo ao nascer do dia
Aqui, neste canto preservado,
O meu lar idolatrado:
A minha terra querida.

Eu amo os passarinhos;
Essas beldades aladas
Que trazem no coração
O cantar com paixão:
A voz de Deus em melodias


Isaías Gresmés 31/08/2008

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Minha bela flor

Minha linda flor
Singela, tão bela:
Seus olhos são duas sementes
De amor.
Quando eu te vejo
Sorrindo,
Meu peito, feliz,
Zabumba
Com todo fervor.

Pequena criança
De rosto tão belo,
Seu jeito singelo
É apaixonante.
Você é uma joia,
De gema brilhante,
É um diamante
De brilho eterno;

Sua voz é música,
De linda harmonia,
Que traz alegria
Aos meus ouvidos.
Sua fala errada,
Meio atropelada,
Me faz dar risada
Das suas frases
Sem nenhum sentido.

Bela flor, linda criança,
Você, minha princesinha,
Simboliza a esperança
De um futuro lindo,
Pois você é uma joia
E seu destino é brilhar.
E eu, enquanto vida tiver,
Já sei que a minha sina
E te amar menina,
Até quando Deus deixar.

Isaías Gresmés 29/08/2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um berimbau na minha vida

Fui buscar no matagal
Uma madeira perfeita,
Bem formosa, bem direita
Pra fazer meu berimbau.

Não! Não pode ser bambu!
Nem peroba ou aroeira;
Jatobá ou castanheira;
Mas serve o guatambu.

Achei a verga ideal.
Agora é só esperar
Ela naturalmente secar,
Pra então levar um grau.

Faz-se necessário lixar
Com toda delicadeza,
Pra tirar a aspereza
E ela, lisinha ficar.

O courinho vai na ponta,
Fixado com tachinha,
Com espessura bem fininha
E com uma forma redonda.

O arame eu vou tirar
Do pneu com a turquesa,
Sem força, só com destreza;
Sem pressa, bem devagar

É dele que sai o som.
Por isso eu vou lixá-lo
Para, com isso, limpá-lo
E torná-lo, assim, bom.

Quem escolhe a cabaça
É a verga, não sou eu.
Não importa o gosto meu:
Até parece pirraça

Amarrei no arame o cordão,
Para um som, enfim, tirar.
Se ele grave soar
É um gunga muito bom.


Mas se o som não for assim
Muito grave, meu irmão:
É um médio ele então;
Esse será o seu fim.

Entretanto, se o som soar
Com um timbre bem agudo,
Pode se esquecer de tudo:
É viola – de improvisar.

Está pronto meu berimbau,
Que é parte da minha vida;
E voz da gente sofrida
Que penou levando pau.

Mas que viu aqui nascer
Uma arte magistral,
Que no toque do berimbau
Faz qualquer mortal tremer.

Isaías Gresmes 21/08/2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O girassol

O girassol acompanha
o seu amor com o olhar
Sem nem um instante se desviar

Quando o dia está fechado
Ele fica cabisbaixo
Esperando o sol voltar

E quando as nuvens se vão
Ele começa a veneração
Até a noite chegar
Uma vez que ela chega
Ele fica ali quetinho
No silêncio do escurinho
Esperando o sol voltar
No horizonte da mãe terra.
Sempre foi assim
Do princípio ao fim
No passar de tantas eras

E eu que já os observei
Também me apaixonei
Por este amor tão intenso
Que só pára por um momento:
Quando a força do vento
Lambe as pétalas já murchas
E espalhalha as sementes
Sobre o solo fecundo
Ofertando assim, ao mundo
Milhares de girassóis
Que iniciar-se-ão
Uma nova geração
No equilíbrio da natureza
E com certeza eles serão
Movidos pela paixão
E amigos das borboletas


Isaías Gresmés 20-08-2008

sábado, 16 de agosto de 2008

Rosa

Ela era uma menina ainda, tinha apenas quatorze anos. Rosa era seu nome. Embora tivesse nome de flor, não trazia em seu semblante nada que lembrasse pétalas; sua áura era carregada não por perfume, mas por pontiagudos espinhos.
As pessoas, quando a viam murmuravam em coro:


Pessoas:

Olha quem tá indo à feira
É a rosa
A asquerosa
A lixeira

O resto ela vai catar
Das coisas que cai no chão
Ela não tem nojo não
Dá ânsia só de pensar

Entre aquelas pessoas, poucas, bem poucas, sentiam alguma compaixão e não ridicularizavam a menina. Diziam sentir dó da sua situação infeliz.

Pessoa “boa”:

Amigos, pobre coitada
É essa menina Rosa
Coitada, tão maltratada
Se eu pudesse ajudava
Essa pobre tão judiada

Mas o que ganho
É tão pouquinho
Que não sobra nem um restinho
Pra fazer ação de graça


E assim, entre maledicências e caridade só da boca pra fora, Rosa seguia sua triste sina.
Toda quarta-feira, dia da feira local, Ela era despertada aos berros, por sua mãe:

Mãe:

Acorda logo Rosa
Vai lá pegar o que achar
Não tem nada pra preparar
Na peste dessa palhoça
E vê se não me enrola
Volte logo sem demora

O nenê está chorando
E meu leite ta secando
Seu pai já foi lá pro bar
Encher a cara de mé
Só volta de quatro pés
Com aquele bafo horrível
Então vai logo, anda!
E não demora
Senão acaba a sobra
Traga tudo que for possível


Rosa, embora fosse mulher, não costumava chorar com facilidade; aquela vida de sofrimento foi endurecendo seu coração. Mas em pensamento ela sofria demais. No caminho para feira, chorou, e chorou muito, mas foi um choro da sua alma; dos seus olhos não saíram uma lágrima.

Rosa

Oh, meu Deus que agonia
Como é triste minha vida
Minha alma está doída
E sinto isso todo dia

Por que tem que ser assim
Por que esse sofrimento
Oh meu Deus, por um momento
Por favor, pense em mim

Rosa estava muito triste, mas seguiu rumo ao seu destino. Chegando à feira, foi entrando embaixo das bancas de frutas e legumes, catando tudo aquilo que dava para aproveitar. Alguns feirantes não aprovavam a sua presença.

Feirante:

Sai pra lá! Sai pra lá
Senão minha freguesia
Você vai espantar

Vai! Some daqui!
Senão minha freguesia
Não compra o meu kiwi

Ela estava com bastante fome, pois não havia comido nada ainda, pega uma banana, metade estragada, metade boa e devora a parte aproveitável ali mesmo. Uma freguesa vendo aquilo se assusta:

Freguesa

Menina, não come isso não!
Pois isso caiu no chão
E o chão tem porcaria
Sua mãe não está aqui não?

Rosa balançou a cabeça negativamente. A freguesa continuou suas compras, indignada com a miséria daquela menina. Ainda comentou com outra mulher do seu lado: “ É fogo né! Tem gente que coloca filho no mundo somente para sofrer...”

Com o saco de estopa
Repleto até a boca
Rosa volta contente
Com a comida garantida
Já não sentia mais fome
Esse monstro que só consome
As pessoas esquecidas

No caminho Rosa encontrou-se com seu pai. Vinha cambaleando, costurando a rua, tropeçando nos próprios pés. Ela, pacientemente segura numa mão o pesado saco e na outra auxilia o pai a equilibrar-se.
Chegando em casa Rosa entregou o saco e o pai à sua mãe. O saco a mãe pegou. O marido a mãe xingou, bateu e empurrou para o quartinho imundo deles.

Mãe

Dorme lazarento
Traste vagabundo
Verme imundo
Burro! Jumento!

Rosa se afastou da casa para fazer aquilo que era a sua única diversão: cuidar da horta que havia feito junto com sua mãe. Chegando à horta ela se sentia no céu. Ali ela se esquecia de todas as mazelas da vida.

Minha querida plantinha
Que da semente vi nascer
Você é tão bonitinha
Com essas suas folhinhas
Como é bom vê-la crescer!

E você, linda abobrinha
Vejo que está bela
Já tem até cinturinha
Já, já estará gordinha
Com a casca toda amarela

Olá meus tomatinhos
Vocês, verdes ainda estão
Mas depois, bem vermelhinhos
Bonitos e graudinhos
Garanto que ficarão

Naquele lugarzinho Rosa não se sentia triste. Ali sua alma se libertava das amarguras da vida e era também ali que ela sonhava os mais belos sonhos, embora estivesse sempre acordada.
Estava viajando num mundo onde todas as pessoas eram felizes quando foi desperta por um homem que a chamava, no outro lado da cerca, seu nome era Gabriel:

Gabriel:

-Olá menina, estou vendo que você cuida bem da sua horta. Qual é o seu nome?
- Meu nome é Rosa.
-Muito bem Rosa, eu poderia conversar com seu pai ou sua mãe?

A vida da menina Rosa
Mudou naquele dia
Gabriel, alma bondosa
Conversou com a mãe da Rosa
E disse que compraria
Toda a produção da horta

E como adiantamento
Deu como garantia
Uma expressiva quantia
Num total de mil e quinhentos
Mas não foi em dinheiro não
Foi em alimentação
Pra família ter sustento

E comprou roupa prá Rosa
Para que ela fosse à escola
Essa era a condição
Que o contrato de ocasião
Foi imposto à família
Gabriel, homem bondoso
Aceitou com todo gosto
Ter a Rosa como filha


Os meses foram passando. A Rosa agora já não ia à feira buscar resto, muito pelo contrário, agora ia para trabalhar ao lado do seu segundo pai na barraca de legumes. Gabriel se sentia orgulhoso do que fez e sempre pensava contente: “Como foi bom eu seguir a minha intuição naquele dia, quando ouvi a Rosa conversando tão alegremente com as plantinhas...”.
A vida daquela menina, que outrora era tão triste, tal qual uma flor murcha, transbordava alegria. Sua mãe ajudava seu pai, que graças à ajuda do Gabriel, conseguira largar da bebida e pegava cedo no trabalho lá na horta. Dava prazer em ver o que aquele cantinho se transformara.

Com a graça do céu
Foi enviado Gabriel
Amigo, homem comum
Que tocado por Deus,
Sendo apenas um
Fez o que o coração
Pediu-lhe naquele dia
Quando ouviu o que Rosa dizia
Tão feliz na plantação

E assim a menina Rosa prosseguiu na sua nova vida. Quando passava na rua, as pessoas comentavam:

Lá vai a Rosa
Tão bonita
Tão cheirosa

Olha só as unhas dela
Tão lindas
Tão brilhantes

Olha o vestido dela
Parece uma linda flor
Com cores tão vibrantes....


É , a Rosa agora finalmente desabrochara.


Isaías Gresmés 16/08/2008


































segunda-feira, 11 de agosto de 2008

AMOR PATERNAL

O AMOR PATERNAL

Seu José:

-Acorda filho! Já passa das 7h00 da manhã! Vamos, senão não encontraremos mais nada. Seu José desperta o filho João para mais um dia de trabalho duro. Sabe que aquela rotina é pesada para ele, mas não há outra forma de sustentar a família, composta por mais três filhos menores: Camila, um bebê de um ano, Danilo, de 6 e Regina, de oito anos.

S. José
Acorda filho meu
Vamos para o batente
Antes que o sol esquente
Pois o dia amanheceu

João:
Meu pai, deixa eu dormir
Somente mais um pouquinho
Aqui está tão quentinho
Hoje eu não quero ir


Seu José se sentia culpado por não poder proporcionar ao filho uma infância normal, como de quase todas as crianças da sua idade. João ajudava o pai das 8h00 às 14h00, de segunda a sábado; depois freqüentava a escola, onde cursava o ensino fundamental. Seu José sempre se lamentava em pensamento “... até quando meu Deus, vamos levar essa vida?! Ele só tem 11 anos!”

O trabalho é iniciado
Pela dupla de valentes
Retrato da nossa gente
Em troca de alguns trocados

A carroça, o pai puxando
E o filho indo atrás
Catando materiais
Pelas ruas vão andando

Parando aqui e ali
Pegando toda tranqueira
No plano e na ladeira
Amarando pra não cair

João:
Meu pai, veja o que eu achei
É um livro de poesias
De um tal de Jeremias
Por ele me encantei

S. José:
Meu filho, larga mão disso
Que isso não vale nada
Atenha-se à catar latas
Estamos aqui pra isso

Poesia é ilusão
Não enche a barriga não
Então vê se me ajuda
Largue disso e não se iluda

João, obediente, acatou o conselho do pai e prosseguiu na busca pelos materiais recicláveis, mas no seu coração, aquelas poucas palavras que tinha lido naquele livro velho e sujo do tal Jeremias, já tinham sido gravadas. “Quando eu chegar em casa, vou ler todo o livro”, pensou João.

Com a carroça entulhada
Deu-se fim à empreitada
E os dois seguem para a missão
De vender a produção

E o que der de dinheiro
Será gasto por inteiro
No mercadinho Comprebem
Onde o preço não convém...

Com dois quilos de arroz, um quilo de feijão, dois quilos de batata, três quilos de farinha, um quilo e meio de “retalhindo” e um litro de leite, seguem pai e filho para casa, após cumprir mais uma jornada.

S. José:

Só falta a lenha meu filho
Encheremos a carroça
Com algumas madeiras grossas
Seguras com amarrilho

Depois disso vamos embora
Pois está quase na hora
De você ir estudar
Então vamos nos apressar


Com a compra e a madeira, seguem finalmente os dois para casa, onde esperam por eles D. Conceição e as demais crianças.
Após tomar um banho rápido, João vai para a escola – sem comer – pois sua mãe estava esperando que o marido e o ele próprio, trouxessem alguma coisa para fazer. “Eu como o lanche lá da escola”, conformou-se.
No caminho João foi folheando aquele livro que achara no lixo e ficou encantado com a beleza dos versos. Leu um poema que falava dos pais e lembrou-se do seu velho. Uma lágrima rolou na sua face:

“O pai é o porto onde ancoramos nosso barco.
Da nossa vida, é a estrutura;
Da nossa ponte é o arco;
É o bronze da escultura
Da nossa vida futura -
Em nossa lembrança será um marco.”

Na hora do lanche João devorou a refeição rapidamente e procurou um cantinho mais sossegado para continuar a ler o surrado livro. Enquanto isso, seu José iniciava mais uma rotina... triste rotina. Dirigiu-se para o boteco da esquina para iludir sua mente com cachaça.

S. José
Vou beber no bar da esquina
Porque ando descontente
Dessa vida inclemente
E da loucura da minha sina

Eu não agüento mais ver
Minha família sofrendo
O meu peito está doendo
Acho que quero morrer...

E essa rotina prosseguiu. Seu José chegava em casa cada vez mais embriagado e D. Conceição discutia com ele. As crianças ficavam chorando. João entristecia com a situação do seu querido velho.
Certo dia, voltando da escola, encontrou seu velho caído no campinho de terra perto da casa.

João
Acorda pai! Levanta!
Aqui não é lugar de ficar
Anda!

Meu pai, mas que pele fria
Mas está tão quente o dia
Levanta!

Meu pai, num durma aqui não...

Seu José não mais acordou. João seguiu na luta sozinho, ou melhor, na verdade agora acompanhado dos dois irmãos: Danilo e Regina. Era ele o comandante agora. Era ele que ensinava aos irmãos mais novos a dura batalha da busca pelo sustento diário. Mas no seu coração ficara gravado as lições que aprendera com o pai: “trabalha meu filho, que Deus há de olhar por você”.
Hoje João é pai. Possui uma vida confortável que foi construída à custa de muito trabalho. Sua estante é repleta de livros. E há um lugar especial dedicado à foto de seu querido pai e àquele livro surrado, do tal poeta Jeremias, que serviu também como base em sua formação.

FIM

Isaías Gresmés 11/08/2008

domingo, 3 de agosto de 2008

O amor maior é Deus

O amor maior é Deus
Vem meu amor
Cai, com se fosse a chuva
No momento de secura
De fazer bicho arfar

Vem meu amor
Como se fosse fartura
Num momento de amargura
Quando a fome está no ar

Vem meu amor
Assim, como a paz
Onde a vida não quer mais
Neste solo germinar

Vem meu amor
Vem acabar com a guerra
Triste invenção da Terra
Que faz o homem chorar

O amor maior é Deus
Isso eu posso afirmar
Ele fez o universo
E fez um “cisco” aqui, em versos
Esse amor se expressar


Isaías Gresmés 3/08/2008

sábado, 26 de julho de 2008

Mitologia grega

Mitologia grega

A mitologia da Grécia antiga
É algo bonito e que muito intriga
Lá encontramos Zeus, deus maioral
Em relação aos outros, está no pedestal

O Monte Olimpo é sua moradia
De onde observa todas as cercanias
Das ilhas gregas no mar Egeu
E os confis de todo reino seu

De lá ele viu Hercules, menino
Separar a Europa da África sorrindo
E essa façanha fez aflorar
Hoje o conhecido Estreito de Gibraltar

Também viu e vê o amor
De Eros, quentíssimo, deus do amor
Amor carnal, herança de Afrodite
Da qual herdou todo seu apetite

De Ares herdou a força masculina
E a fertilidade tornou-se sua sina
Nos dias de hoje seu poder aparece
Por entre os amantes, cada vez que anoitece...

Paro por aqui, mas não pára a mitologia
Ela é muito extensa, é muito mais rica
Paro por aqui – falta-me conhecimento
Da mitologia só mostrei um momento.


Isaías Gresmés 26/07/2008

Vampira que um dia amei

Vampira que um dia amei

Adeus Vampira que um dia amei
Deixei você sugar meu pescoço
Mordeu minha alma
Corroeu meus ossos
Mas dessa paixão, hoje me livrei
Meus sentimentos foram exauridos
tal qual um porco, em sua triste sina
Não te amo mais, sua assassina
Das sua presas já me libertei

Adeus Vampira que um dia amei
Hoje, meu sangue você já não suga
E com certeza, não sugará jamais
Adeus Vampira, sua demônia
Parte pro inferno e até nunca mais
Lá te espera, feliz, o Satanás

Adeus Vampira, hoje amo a vida
E essa vida me mostrou alguém
E esse alguém me fez sentir melhor
Muito melhor de que quando te amava
Adeus vampira, não te quero mais
A sua vítima já se foi, já era
vai criatura! Rume pro além!

Hoje eu amo e também sou amado
tenho uma linda musa do meu lado
Vivo feliz, não quero mais ninguém!

Isaías Gresmés 26/07/2008

Quando te vi sorrindo...

Quando te vi sorrindo
Rompi todos os limites do meu pensamento
Sei que posso até estar enganado
mas foi concreto aquele momento
Uma linda luz fluía dos seus olhos
E com ela me banhei
Ausentei-me por alguns instantes
Pois naquele momento
Sonhei
Sonhei que te beijava e que já fazia parte
Da pureza dos seus pensamentos

Acordei com você me balançando
Me arrepiei

Hoje sei
Deus plantou na minha vida você
E isso me proporcionou um universo de prazer.

Isaías Gresmés 26/07/2008

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Declaração de um matuto

Declaração de um matutoVou contar para vocês
O que me deixa contente
É acordar bem cedinho
E tomar o meu leitinho
Que acabei de tirar
E ainda está quente!

E depois trilhar o caminho
Que me leva até o roçado
Então eu trabalho a terra
E faço o que ela espera
Até chegar o almoço
Hora do descanço sagrado

Assim que a bóia assenta
Eu volto para o batente
E vou carpinar o mato
Vencendo o calor do mormaço
Até terminar o dia
Pois sou matuto valente

E no final do dia
Eu faço uma oração
À minha mãe Maria
E agradeço pelo dia
Por minha família
Pela saúde e pelo pão

Valei-me meu bom Deus!
Pois o que tem de melhor
Na minha palhoça é a paz
Agradeço a você meu senhor
Por meu cantinho feliz
Ao senhor não peço nada mais


Isaías Gresmés 23/07/2008

Bach, um Deus da música

Bach, um Deus da música

Um dia, nosso pai mandou-nos um guia
Que em pouco tempo virou um estandarte
Com ele as notas fluíam com arte
transformando o ar em pura magia

Jesus Alegria dos Homens - é amor
A tocata e fuga em ré - só beleza
As suas cantatas transmitem leveza
E juntas são obras de grande valor

Bach, nome simples, gênio sem igual
Fazia, com as notas, a sua poesia
De maneira única, individual

Seu cravo, o tempero, é bem surreal
Quem sente seu gosto já se extasia
E a alma viaja no oposto do mal

Isaías Gresmés 20/05/2008

terça-feira, 22 de julho de 2008

MALDITOS DIAS DE MULHERES

MALDITOS DIAS DE MULHERES
Eu não sei por que te amo
Veja, você me amedronta com esses seus olhos de gente ruim
Por que às vezes você fica assim?

Eu não sei por que te amo
Olha, ontem você arranhava sensualmente meu peito
Por que hoje arranca minha pele desse jeito?

Eu não sei por que te amo
Escuta, ontem você cantava em meu ouvido
Hoje grita! Xinga! Meu Deus! O que é isso?

Eu não sei por que te amo
Presta atenção, ontem era só alegria
Por que diabos hoje é essa agonia?

Eu não sei por que te amo
Aprendi, todo mês é a mesma ladainha
Alguns dias me ama; outros me aporrinha

Ó malditos “dias de mulheres!” Ó insanos dias!
Elas ficam loucas; choram, gritam
Ficam roucas, por tudo se irritam...

Agora sei por que te amo
Sou louco por você e mesmo com a tal TPM,
Não sei, sem seu, amor viver...

ISAÍAS 07/06/2008

O que se passa na mente do poeta?

O que se passa na mente do poeta?


O que se passa na mente do poeta?
Ora! Não sabes?
É uma nuvem tempestuosa de palavras incertas!
E ele, confuso, prepara as calhas para aprisionar algumas
Em modelos pré-determinados;
Alguns conjutos de palavras formar-se-ão trovas;
Outros, sonetos;
Outros livros:
Porque não?

Providência divina, em forma de frente fria:
Transformai esses vapores divinos,
Em forma de pingos -
Chuva!
E que ela seja aprisionada em minhas várias cisternas...

Deus!
Não permita, nunca! que o mundo dos meus versos
Seque, devido à falta de amor
Pela poesia!

Isaías Gresmés 22-07-2008

Meu livro - O Sonho de Um Mundo Melhor

Isaías Rodrigues de Oliveira







O sonho de um mundo melhor



















Este livro começou a ser escrito em julho de 2007; tendo sido concluído em 16/09/2007; o primeiro exemplar foi impresso pelo autor
na Clicheria Oliveira ME
R. Cláudia Maria, 04 – Vila Guiomar – SP
CEP 04961-060 – Fone (11) 5517-0983
E-mail: gresmes@uol.p.br
















© 2007 – Todos os direitos reservados












“Dedico esta obra a todos os humanos que sonham com um lugar melhor para se viver”.


Isaías Rodrigues de Oliveira













ÍNDICE


PARTE I – CAPÍTULO I

O começo do fim------------------------------------------------------------8

Conflito mundial devido à escassez do petróleo---------------------9

O começo da substituição da matriz energética---------------------10

O aparente sucesso dos países produtores de biocombustíveis--11

O conflito mundial pela água-------------------------------------------13

A Terra contaminada-----------------------------------------------------14

Canibalismo----------------------------------------------------------------15

Surge uma esperança-----------------------------------------------------15

CAPÍTULO II

O plano de reconstrução------------------------------------------------17

O estudo dos estragos... -------------------------------------------------18

Lixo e esgoto, grandes problemas...-----------------------------------19

O começo da mudança--------------------------------------------------22

A alimentação humana-------------------------------------------------23


CAPÍTULO III

A produção energética e os meios de transportes----------------25



CAPÍTULO IV

A nova sociedade----------------------------------------------------------28


CAPÍTULO V

A ciência voltada ao bem-estar dos terráqueos--------------------38


CAPÍTULO VI

A recuperação do meio ambiente-------------------------------------42


CAPÍTULO VII

O tratamento dado a quem não cooperava... -----------------------44


CAPÍTULO VIII

As novas indústrias------------------------------------------------------46


CAPÍTULO IX

A organização comunitária--------------------------------------------50




PARTE II

CAPÍTULO I

Os desafios-----------------------------------------------------------------55

CAPÍTULO II

O relacionamento entre as pessoas-----------------------------------58



CAPÍTULO III

As novas tecnologias-----------------------------------------------------60


CAPÍTULO IV

Missão Marte-------------------------------------------------------------66


CAPÍTULO V

As transformações-------------------------------------------------------71


CAPÍTULO VI

Meio século mais tarde-------------------------------------------------74


CAPÍTULO VII

A exploração consciente dos recursos do planeta-----------------76


CAPÍTULO VIII

As novas descobertas e a busca pelo progresso-------------------80


CAPÍTULO IX

Intercâmbio com outra civilização-----------------------------------84

CAPÍTULO X

Novas tarefas-------------------------------------------------------------92


CAPÍTULO XI

A Terra em transformação---------------------------------------------93



CAPÍTULO XII

Novo dia, o despertar... ------------------------------------------------94


CAPÍTULO XIII

O homem orientado por objetos--------------------------------------96


Biografia do autor------------------------------------------------------100
















Parte I - Capítulo I
O começo do fim...

Durante mais de duzentos anos a Terra fora castigado por inúmeras guerras e, muito mais ainda, pelas mudanças climáticas devastadoras. O homem do passado, com sua sede insaciável pelo petróleo, não deu a devida atenção aos efeitos maléficos que a queima deste combustível fóssil produzia na atmosfera do planeta. Também não se conscientizou que seu estilo de vida era incompatível com o futuro do seu lar maior. Apesar de inúmeras entidades ambientais de todo o mundo alertarem sobre o perigo, quase nada foi feito. Quando o problema começou a tornar-se cada vez mais grave, os países mais influentes da época reuniram-se e assinaram tratados de redução de emissões de gás carbônico e substituição da matriz energética. Mas estas medidas só adiaram a agonia do planeta...
No início dos anos setenta do século XX, os principais países produtores de petróleo reuniram-se e criaram o OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo). A partir de então esta organização passou a ditar o preço do barril de petróleo, que foi parar nas alturas.
Alguns países começaram a desenvolver programas alternativos como forma de substituir o petróleo que estava cada vez mais caro. O Brasil cria, nesta ocasião, um programa cuja matriz energética era o álcool combustível derivado da cana-de-açúcar. Este programa recebeu o nome de “Proálcool”.



Conflito mundial devido à escassez do petróleo
Passadas várias décadas, o mundo assimilou a alta do petróleo e voltou a consumi-lo em muito maior quantidade.
Mesmo com toda a pressão dos países da OPEP, o petróleo começa a tornar-se escasso em meados do século XXI e seu preço alcança níveis jamais imaginados. Os conflitos tornam-se inevitáveis. As grandes potências mundiais se reúnem e decidem assumir o comando da já parca produção mundial do óleo negro. É o início de uma grande guerra de proporções mundiais: uma parte do ocidente contra uma parte do oriente. As potências mundiais aniquilam os exércitos dos países da OPEP; usaram para isso, todo tipo de armamento de que dispunham; até bombas nucleares. A barbárie se fez presente e não mais chocava a opinião pública: o mundo queria petróleo e isto era o que mais importava.
Terminada a guerra com a vitória das grandes potências, outra questão veio à tona nas mesas de discussões: já se sabia que as reservas de petróleo acabariam em menos de uma década e que só dariam para abastecer os vencedores da guerra (alguns países). E o restante do mundo? E o aquecimento global que estava mudando a vida no planeta? O que fazer com a multidão de miseráveis que tiveram de abandonar os locais onde nasceram devido às catástrofes climáticas?


O começo da substituição da matriz energética

Estas discussões tornaram-se o foco das atenções dos chefes de estado das principais economias do planeta. Programas alternativos, como o que fora desenvolvido pelo Brasil, passaram a ser incentivados e a matriz energética principal do mundo começou a ser substituída pelos “biocombustíveis”.
Países tropicais passaram a receber incentivos das grandes potências para plantarem cana, soja, mamona, dendê, milho e outras dezenas de plantas que servissem de matéria-prima para a produção de combustíveis (óleo ou álcool).
O clima na Terra já havia mudado consideravelmente neste período. Várias cidades litorâneas ficaram inundadas com a elevação do nível do mar; os refugiados da mudança climática eram cada vez em maior número no mundo; as pestes dizimavam as pessoas aos milhares...
Solos outrora destinados ao cultivo de alimentos, agora eram utilizados para o cultivo de plantas voltadas à produção de biocombustíveis. Até a Amazônia, que já fora a maior floresta tropical do mundo, com a mudança da temperatura global e a intensa derrubada das árvores para o cultivo de plantas como: a soja, mamona e outras; foi, aos poucos, transformando-se em um imenso cerrado. A criação de gado alcançou grande destaque nesta parte do mundo porque ela é a região mais próxima dos grandes mercados consumidores. Além da carne, a gordura dos animais passou a servir de matéria-prima na fabricação de óleo combustível.
Esta atividade acelerou a degradação da região, pois, além da grande área, da já agonizante floresta, que fora derrubada para ser transformada em pasto, já se sabia, também, que os gases produzidos durante a flatulência destes animais (principalmente o gás metano) contribuíam para o agravamento do efeito estufa.

O aparente sucesso dos países produtores de biocombustíveis

O Brasil e outros países da América Latina; a Índia; grande parte dos países africanos e asiáticos; durante um considerável período experimentaram uma sensação de desenvolvimento jamais sentida. As economias destes países desenvolveram-se vertiginosamente. Mas os seus povos não gozavam plenamente desta pujança econômica na sua plenitude, pois algo que era muito comum nestas nações não fora extirpado mesmo com o sucesso econômico: a desigualdade social, a corrupção, o despotismo. Boa parte da população, notadamente os refugiados climáticos, era explorada de todas as formas nas lavouras e nas refinarias de combustíveis. Os governos pouco se importavam com os novos e graves problemas resultantes do aquecimento global. Os casos de câncer de pele ocorriam aos milhares e tornara-se um dos principais problemas de saúde pública. Além disso, moléstias causadas por vetores de doenças (ratos, morcegos, insetos), eram cada vez mais corriqueiras.
Com a demanda cada vez maior por biocombustíveis, os países produtores foram desmatando cada vez mais suas parcas reservas florestais. Não se respeitava mais nem matas ciliares; os grandes rios do mundo já estavam seriamente comprometidos pela poluição e pelo despejo de agrotóxicos em seus cursos. A escassez de água nas cidades cada vez mais populosas, era, sem dúvida, o maior problema mundial.




O conflito mundial pela água

Fenômenos devastadores aconteciam com freqüência em praticamente todas as regiões do planeta: enchentes onde outrora era árido; seca em regiões onde as chuvas outrora eram regulares; furacões de forças descomunais; ondas de frio, etc. Essas intempéries freqüentes, somadas à falta d’água, estavam comprometendo peremptoriamente o futuro da vida até do homem no planeta.
Durante várias décadas a humanidade presenciou, alarmada, a extinção de várias espécies de animais sem nada fazer. Agora via que a sobrevivência da própria raça humana corria perigo. Os conflitos começaram a ocorrer. Inicialmente em algumas regiões. Países vizinhos travavam guerra sangrenta na disputa de cursos d’água; logo outros países entravam no conflito e isto foi se tornando corriqueiro.
À medida que o aquecimento se acentuava, a falta de água aumentava. Até que as grandes potências decidiram, em reuniões, que elas deveriam assumir o controle dos principais reservatórios de água doce do mundo. Em um documento amplamente divulgado pela imprensa mundial, afirmavam que a medida era necessária para “assegurar o futuro de toda a humanidade” e “que as nações que possuíam estas reservas não eram capazes de preservar a integridade das mesmas”. Foi o início de um conflito de proporções mundiais. O saldo foi catastrófico: milhões de pessoas morreram neste conflito; países inteiros foram arrasados; quase nada restou porque, mais uma vez, a irracionalidade prevaleceu, e os principais líderes mundiais utilizaram artefatos bélicos de potência arrasadora.


A Terra contaminada


Devido às guerras nucleares, à escassez de água potável e um saldo devastador de quase toda a humanidade dizimada; além da quase totalidade das áreas do planeta ter ficado contaminada com a radiação nuclear e inutilizada pelas armas químicas e bacteriológicas; poucos humanos conseguiram sobreviver às sucessivas desgraças. Os grupos humanos que viviam em regiões isoladas e aqueles que se refugiaram em abrigos nucleares conseguiram sobreviver. Mesmo assim, a vida, no quase inóspito planeta, tornara-se muito difícil. A fome matava aos milhares, pois a oferta de alimentos era cada vez mais rara. As doenças causadas pelos efeitos da radiação nuclear, pela contaminação da água, do solo, ar e tudo, ceifavam milhares de vidas todo dia.

Canibalismo


Nesta época a humanidade enfrentou, talvez, seu pior período, em sua longa história no planeta. Em conseqüência da falta de alimentos, os casos de canibalismo começam a ocorrer com muita freqüência em toda parte do mundo. Não havia mais limites à crueldade; os sobreviventes tinham como única meta sobreviver. Inicialmente as crianças e os mais velhos foram sendo consumidos. Logo depois era qualquer um que não estivesse atento. Este período de trevas foi bem longo. A Terra parecia estar condenada a transformar-se em uma espécie de inferno.


Surge uma esperança


Em meio à barbárie que assombrava o que restou do mundo, alguns líderes decidem unirem-se em torno de uma idéia audaciosa: criar uma entidade para atuar a nível mundial, com uma missão nada fácil: reconstruir o planeta. Criaram então a “Força Conjunta Mundial para Reconstrução do Planeta” (FCMRP). Não foi nada fácil para os bravos guerreiros desta entidade começar a colocar o plano para funcionar. Inicialmente tiveram que criar um exército para avançarem nas áreas onde os mais variados crimes ocorriam com freqüência. Houve muitos confrontos sangrentos com baixas tanto por parte das forças da FCMRP como das forças rebeldes.
Essas guerrilhas ocorreram por vários anos. À medida que a FCMRP avançava nas zonas de conflito, o plano de reconstrução ia sendo implantado e os resultados começavam a aparecer.
A idéia de um mundo melhor começava a se desenhar.













Capítulo II

O plano de reconstrução


O plano era realmente audacioso. Consistia na mudança de vários paradigmas que, no passado ditavam o modo como os humanos tratavam o planeta. Consistia-se de uma verdadeira constituição universal que fora redigida segundo os anseios daqueles que almejavam um planeta melhor. Dentre as centenas de medidas adotadas, as principais contribuíram de maneira definitiva para o início de um novo rumo por que a humanidade haveria de trilhar a partir daquele momento:
a) as atividades humanas só poderão ser desenvolvidas se elas não oferecerem nenhum risco, o menor que possa existir, ao meio ambiente e a todos os habitantes do planeta;
b) não haverá mais fronteiras separando nações; todo homem passará a trabalhar, não somente em benefício próprio, mas, também, pela humanidade como um todo;
c) os seres humanos mais capacitados terão a nobre missão de transmitir seus conhecimentos aos menos favorecidos intelectualmente;
d) todos deverão conscientizar-se da importância do constante aprendizado;
e) nenhuma medida será imposta por um indivíduo em particular; todas as diretrizes adotadas devem constar no plano;
f) todo indivíduo deve trabalhar pelo bem comum;
g) a educação deve ser continuada, ou seja, pelo resto da vida;
h) ainda sobre a educação: cada indivíduo que ingressar na nova escola será direcionado para a área em que apresentar maior aptidão;
i) a língua não poderá ser barreira ao desenvolvimento; tampouco os costumes;
j) o ser humano passa a ter o dever de ser útil a toda a humanidade;
l) a ciência deve colaborar constantemente para o progresso dos habitantes da Terra.


O estudo dos estragos causados pela radiação nuclear, contaminação química e bacteriológica.

Criou-se uma enorme equipe para pesquisar e se chegar a soluções definitivas para resolver os problemas dos efeitos nefastos da radiação nuclear sobre os habitantes do planeta. Os cientistas decidiram dar foco nas pesquisas em cima dos indivíduos que, sabe-se lá a razão, não eram afetados pela radiação ao serem expostos a ela. Descobriu-se que estes indivíduos apresentavam uma mutação genética que os imunizavam daquele mal.
Após, decorridos vários anos, chegou-se a uma vacina que resolveu definitivamente este terrível problema. Toda humanidade fora vacinada, assim como todos os animais.
Uma vez resguardadas deste mal, as pessoas foram, gradativamente, reocupando as áreas outrora ocupadas, só que desta vez, de uma outra forma, como veremos mais à frente. Mas este não era único problema: além da contaminação nuclear havia também os malefícios resultantes dos efeitos da contaminação química e bacteriológica. Foi necessário um outro esforço conjunto para resolver esta questão. Os pesquisadores, mais uma vez, conseguiram desenvolver vacinas para imunizar a humanidade contra estes dois males.

Lixo e esgoto, grandes problemas;
Moradia inteligente, uma ótima solução.

A FCMRP sabia que um dos maiores problemas do planeta era a contaminação causada pelo lixo e também pelo esgoto. Ficou estipulado que este problema deveria ser sanado de forma definitiva nas próximas décadas. Inicialmente ficara determinado, seguindo o conceito de que nenhuma atividade humana poderia ser desenvolvida se causasse algum mal à saúde do planeta e dos seus habitantes, que todo lixo produzido deveria ser reciclado. Aboliu-se a produção de embalagens plásticas; as pessoas voltaram a utilizar sacolas de materiais biodegradáveis. Através de pesquisas, vários engenheiros criaram a casa inteligente. Este modelo de moradia era construída no subsolo, porém com aberturas em pontos estratégicos para que a luz solar a penetrasse; estas casas davam abrigo para, em média dez famílias, número que poderia variar se fosse comprovada a sua viabilidade seguindo um critério pré-determinado pelo plano da FCMRP. Cada família possuía um espaço adequado ao seu convívio e todas as famílias eram responsáveis pela plena manutenção e pelo pleno funcionamento da moradia coletiva. Toda a energia gasta na residência era gerada, parte pelo sol, pela ação do vento, pelo atrito causado pelos passos dos próprios moradores e, também pela utilização dos gases produzidos na decomposição dos dejetos orgânicos produzidos na residência. É importante salientar que a produção de energia para a moradia era de responsabilidade dos seus moradores e também, no caso da produção de energia oriunda da queima de gases produzidos pela decomposição de dejetos, cabia a eles também, utilizar sistemas eficientes de filtragem dos gases resultantes da queima e jamais lançar à atmosfera qualquer gás nocivo.
O lar coletivo era abastecido com fontes de água que fosse mais adequada à região. Sendo assim, ela poderia ser de poços artesianos, ou qualquer outra fonte. Havia também um sistema de coleta eficiente da água da chuva. Toda água utilizada na residência, fosse para higiene pessoal ou para qualquer outra atividade cotidiana, era reciclada e reutilizada. Desta forma evitava-se o desperdício.
A moradia só era construída em um local onde o seu projeto fosse viável. Se durante a análise do projeto aparecesse algum item que inviabilizasse o cumprimento de todas as normas estipuladas, o projeto não seria executado.
Como a moradia localizava-se no subsolo, na área da superfície, as famílias produziam boa parte dos alimentos que consumiam. Aquilo que não conseguiam produzir era trocado. Desta forma, uma relação de união passou a fazer parte das vidas de todos os moradores.
O esgoto passou a ser tratado de forma adequada. Não mais se utilizava a água para os mecanismos de descarte das fezes humanas. Foram desenvolvidos mecanismos de sucção e neutralização de odores através de processos químicos com substâncias naturais. Com estas medidas, a economia de água se mostrou mais eficiente; um produto tão precioso que num passado não muito distante foi o motivo principal de uma guerra que quase aniquilou a vida na Terra. As fezes, assim como todo o lixo orgânico produzido na residência, eram transformadas em adubo orgânico, seguindo normas de manejo que dispensavam a força braçal humana. Desta forma, a moradia coletiva era quase que auto-suficiente neste item, dependendo muito pouco da produção externa.



O começo da mudança

Finalmente os terráqueos começaram a desfrutar de todos os benefícios por que tanto lutaram durante os três últimos séculos. Após longos períodos de guerras, falta de alimentos, água potável, moradia, energia, solos férteis e tantos outros itens essenciais à vida – a humanidade, enfim inaugura um período de fortes mudanças no planeta. Um futuro melhor começava a ser construído e prometia ser maravilhoso.
Graças ao esforço de honrosos seres humanos sintonizados com o bem, que com muito esforço conseguiram implantar o plano de reconstrução do planeta, as mudanças benéficas começaram a surtir efeito.
Seguindo o conceito de que nenhuma atividade humana poderia, a partir de então, ser desenvolvida sem que se comprovasse, por meio de estudos, que a mesma não oferecesse nenhum risco ao futuro do planeta e seus habitantes, as cabeças mais brilhantes da época trabalharam dia e noite para encontrar soluções que estavam em sintonia com esta idéia. Desta forma, nenhum dejeto era mais descartado no meio ambiente. Tudo era reciclado. A produção de alimentos agora era planejada e não se praticava mais a monocultura; da mesma forma, não se praticava mais a criação de animais em confinamento. No lugar da monocultura, a humanidade voltou à prática das culturas diversificadas. A criação de gado, porcos, aves e outras espécies terrestres, foram deixadas de lado, porque eram atividades que causavam sérios danos à saúde do planeta. A humanidade chegou à conclusão que a alternativa mais viável para o fornecimento de proteínas era, primeiramente, a criação de peixes e crustáceos e também, o consumo de proteína vegetal.


A alimentação humana


Todos os esforços foram realizados em vários anos de pesquisas para se chegar a uma dieta saudável e perfeitamente equilibrada. A humanidade já sabia que a alimentação adequada era aquela composta por alimentos cem por cento naturais, isenta de qualquer substância que pudesse causar algum dano à saúde. As carnes vermelhas foram abolidas da alimentação e em seu lugar, introduziu-se a carne de pescados; estes que por sua vez, eram criados em fazendas, seguindo todas as normas de manejo para assegurar impacto zero ao meio ambiente. Tudo era aproveitado.
Equipes enormes de nutricionistas pesquisaram exaustivamente durante anos e chegaram a um padrão de alimentação adequado às várias fases da vida humana. Sendo assim, os indivíduos passaram a seguir o novo procedimento que, a partir de então, foi amplamente divulgado e ensinado nas escolas e nos cursos de reciclagem. Aliás, todas as descobertas da ciência passaram a ser adotadas como novas normas por toda a sociedade humana.

Capítulo III

A produção energética e os meios de transportes

A humanidade já sabia havia séculos que a energia produzida pelo Sol e oferecida à Terra era de uma quantidade imensa. Só que nunca houve esforço coletivo para desenvolver um sistema eficiente e viável para a captação desta energia; a desculpa sempre foi o preço alto da produção, pois no passado, a ênfase era produzir energia em abundância, não importando se para isso fosse necessário comprometer o futuro do planeta. Seguindo este conceito errôneo a humanidade construiu enormes hidrelétricas que inundaram uma vastidão de áreas florestais; termoelétricas poluidoras; usinas nucleares que produziam lixo radioativo.
Agora a nova nação humana não queria repetir os erros do passado e, novamente os melhores cérebros trabalharam dia e noite para desenvolverem métodos eficientes de captação de energia solar, e todos os projetos deveriam ter impacto zero no meio ambiente. Mecanismos rudimentares como painéis solares pintados de preto para aquecer a água, foram amplamente utilizados, assim como luzes naturais que eram, nada mais, que garrafas plásticas recicláveis, cheias de água limpa, colocadas estrategicamente para refletirem a luz solar no interior das residências. Depois os cientistas conseguiram finalmente desenvolver um mecanismo eficiente para produção de energia, assunto que será abordado mais adiante. E, a partir de então, cada residência recebeu este engenho, evitando, com isso, os erros do passado, de se produzir energia longe e transportá-la por meio de fios e postes, que consumiam enorme quantidade de energia em sua fabricação. Conseguia-se assim toda energia às residências.
Alem da energia solar, a energia eólica também passou a ser amplamente utilizada, pois era outra forma conhecida de produção de energia que apresentava impacto zero ao meio ambiente. Mas o que determinava qual seria o sistema adotado para a produção de energia em determinada região era o estudo de viabilidade estipulado pela FCMRP. Se a região fosse ensolarada, o sistema seria o solar; se fosse uma região cujos ventos fossem regulares, a alternativa seria o sistema eólico.
Os pesquisadores avançaram nos estudos e após longo período, desenvolveram um mecanismo simples e eficiente de produção de energia limpa: tratava-se da fusão nuclear. A humanidade já podia sonhar com uma nova era de desenvolvimento.
Com o auxílio desta nova tecnologia, foi possível desenvolver transportes coletivos que não poluíam o ambiente. Tratava-se de veículos alados que foram fabricados obedecendo a idéia de impacto zero ao meio ambiente. Não havia mais a necessidade de estradas. Não existiam mais os veículos individuais e poluidores do passado distante, somente o coletivo. Tudo que precisava ser transportado seguia por via aérea. Devido ao manejamento criterioso da FCMRP, sabia-se com antecedência, qual era a necessidade de transporte de cada região e nada, absolutamente nada, era executado sem prévio estudo.
Após estas conquistas, tanto no setor energético, quanto no de transporte, os vitoriosos cientistas se debruçaram em cima de outro projeto audacioso: o teletransporte. Sabiam que a maior dificuldade neste campo era como conseguir converter a matéria bruta a ser transportada, em energia codificada; e depois, a mesma ser reconvertida novamente. Nos experimentos a dificuldade era que durante o processo de conversão, parte da energia era perdida sob a forma de calor, o que comprometia o resultado final. Mas segundo as expectativas mais otimistas, eles conseguiriam o sucesso do empreendimento nas próximas décadas do século XXIII.






Capítulo IV
A nova sociedade

Como foi descrito anteriormente, não foi tarefa fácil o início da reconstrução do planeta devastado. As boas almas tiveram que enfrentar as mais terríveis adversidades no que restou do planeta terra. Quase todas as regiões estavam destruídas e contaminadas; a radiação, em conluio com as mais nefastas doenças, aniquilava milhares de vítimas nos quatro cantos do nosso mundo; a fome matava os homens e também o que restou dos animais. Havia muito que se fazer. E mais uma vez, os homens de bem tiveram que enfrentar aqueles que eram, sem dúvida, seus piores inimigos: os homens sintonizados com o mal.
Após a criação da “Força Conjunta Mundial para Reconstrução do Planeta”, uma das primeiras medidas posta em prática foi criar um exército para dar retaguarda aos voluntários que avançavam nas zonas de conflito. O objetivo era nobre, a FCMRP objetivava levar um novo conceito de mundo, pois aquele que todos conheciam estava destruído. Mas nem todos acreditavam nesta organização. Os confrontos eram sangrentos com baixas de ambos os lados.
A FCMRP enfrentava as mais terríveis situações: lideranças fanáticas que não abriam mão do seu “poder” político e religioso; ladrões e assassinos; grupos que praticavam o canibalismo, etc. À medida que ela avançava em terreno inimigo, iniciava a implantação do novo conceito de mundo e plantava mais uma semente de esperança. A tarefa era dura, pois o inimigo não era nenhum ser vindo de outra galáxia, eram os homens.
Quando o exército da FCMRP conquistava uma área, imediatamente iniciava os trabalhos de recuperação da mesma. Primeiramente era feita uma análise criteriosa sobre todos os estragos ocorridos na região e, então se elegiam as prioridades e imediatamente os trabalhos de reconstrução eram iniciados. As pessoas de bem da localidade eram convocadas a fazerem parte do mutirão. Estas pessoas recebiam, a partir de então, todo um treinamento para se adequarem aos ideais da FCMRP.
Os ideais defendidos pela FCMRP estavam descritos, de maneira clara, num extenso documento. Tinha como principal objetivo, um audacioso e ardoroso trabalho, que era reconstruir o mundo; torná-lo adequado à vida não só humana, mas para todas as criaturas que restaram após as sucessivas guerras. As pessoas de bem eram convidadas a somarem os esforços para a implantação do plano. No plano todas as pessoas eram iguais e seriam reconhecidas pelos seus méritos. Iniciava-se um período novo em que o indivíduo não buscava mais ser reconhecido pelos bens que possuía e sim pelo bem que produzia para a sociedade. Ficava determinado o compromisso de cada um zelar pelo bem comum, trabalhando por uma sociedade justa e fraterna. Cada cidadão se comprometia a aprender as diretrizes do plano e a transmiti-las às novas gerações.
Um dos pontos principais do plano de reconstrução era a chamada educação para o resto da vida. Cada indivíduo se comprometia a se auto-reciclar constantemente; e quando chegasse a sua aposentadoria, prestaria serviço voluntário como professor na área em que antes atuava, aos mais novos.
Outro ponto da educação que foi, sem dúvida, um dos principais pontos que contribuiu para o sucesso do plano foi o conceito da “Educação Segundo a Aptidão”. Consistia em descobrir no início da idade escolar da criança, qual era o campo de conhecimento que ela apresentava maior facilidade de aprendizado. Através desta seleção inicial, a criança passava a receber um ensinamento mais focado no seu talento individual. Desta forma aquela criança que demonstrava maior facilidade para cálculos e lógica, passava a receber uma educação mais voltada às ciências exatas. Mas, se ao contrário, a criança demonstrasse maior gosto pelas ciências humanas, sua educação partia nesta direção. O plano da FCMRP catalogava todos os indivíduos desde o início da idade escolar para convocá-los mais tarde para um trabalho bem maior.
Nesta época boa parte do mundo agonizava e era preciso grandes esforços direcionados nos mais variados problemas. Desta forma, fazia-se necessário o trabalho de especialistas nas mais diversas áreas. Seria um trabalho longo e ardoroso. Os bons homens da força de reconstrução chegaram à conclusão acertada de que somente com indivíduos bem educados, mais ainda, especialistas, seria possível tornar realidade o sonho de um mundo melhor.
Outro conceito importantíssimo era o que determinava que, a partir de então, nenhuma atividade humana poderia ser desenvolvida, se a mesma oferecesse algum risco, - o menor que fosse - ao ser humano ou qualquer outra criatura do planeta. Na prática era o seguinte: todo aquele conceito errôneo da cultura do descartável que levou a humanidade a quase total destruição, fora deixado de lado. Não se admitia mais despejar dejetos no planeta. Todo lixo ou qualquer outro detrito produzido tinha que ser totalmente reciclado. Da mesma forma, a cultura do individualismo também foi sepultada de uma vez por todas. Os carros poluidores do passado que levavam na sua imensa maioria, no máximo, duas pessoas, foram aposentados. Suas carcaças foram transformadas em matéria-prima para os transportes coletivos. Inicialmente optou-se por veículos movidos a eletricidade. Mais tarde esta modalidade de transporte foi substituída por veículos alados.
As fronteiras foram abolidas e a partir de então passou a existir somente uma nação: a humana. A FCMRP ensinava que todo ser humano era igual, independente do local do planeta onde habitava. Desta maneira, decretava o fim do privilégio que alguns povos possuíam no modelo de mundo do passado. Cada indivíduo passava a fazer parte de uma só família: a humana; e devia zelar por ela como zelava por si próprio. Não importava onde a pessoa nascera, se a FCMRP solicitasse os seus serviços em qualquer parte da terra, ela devia comparecer, pois, da mesma forma, seria beneficiada quantas vezes fosse preciso, por outras pessoas de qualquer recanto da terra. Era justamente por este motivo que a força determinava que os indivíduos tivessem que receber educação diferenciada desde a mais tenra idade: e assim lapidar desde cedo os talentos e colocá-los para servir a humanidade quando fosse preciso.
O sistema capitalista de antigamente, sem dúvida o principal agente causador da destruição em massa no passado, foi banido da face da terra. Em seu lugar nasceu o conceito de uma sociedade igualitária que, de certa forma, fora ensinado por alguns valorosos homens de um tempo distante, mas que devido ao egoísmo humano - característica maléfica que quase o levou à destruição - nunca de fato se concretizou. Mas é preciso deixar bem claro que o plano da FCMRP não poderia ser comparado a nenhuma tentativa fracassada de se implantar um sistema que visava criar “uma sociedade igualitária” no passado. Ao contrário do comunismo implantado outrora, o plano de reconstrução não concentrava poder na mão de apenas um líder ou um pequeno grupo; as decisões eram tomadas por todos que demonstrassem a plena capacidade para tais responsabilidades. Para tanto, todos os indivíduos do mundo inteiro foram cadastrados e eram constantemente avaliados pelas lideranças locais. Devido a este trabalho, tinha-se mão de obra da mais alta qualificação para os mais variados propósitos, inclusive para contribuir para o aprimoramento do plano.
Como não havia mais disputas mesquinhas entre nações, a chama que impulsionava o ser humano da nova era, era o velho conceito que fora ensinado por um homem há muito tempo: o amor ao próximo. Só que desta vez esta idéia começava a funcionar porque um indivíduo, quando saía de casa para prestar serviço aos seus semelhantes em um outro local, sabia que haveria reciprocidade quando precisasse de ajuda também.
Logo de início surgiu um problema que precisava ser solucionado. Qual seria a língua adotada como a oficial para se realizar a comunicação com os vários povos? Por unanimidade as lideranças concluíram que cada comunidade deveria preservar a sua própria língua; entretanto, a partir daquele momento, todos os especialistas dos quatro cantos do planeta somariam todos os esforços para desenvolver um software que fosse capaz de traduzir qualquer língua falada. Ou seja, se uma informação fosse transmitida em uma língua “A”, poderia ser traduzida instantaneamente para qualquer outra língua “N”, preservando o seu real sentido. Este objetivo foi rapidamente conquistado, representando um passo importantíssimo para as comunicações. Da mesma forma, foram desenvolvidos aparelhos individuais que possibilitavam ao seu usuário se comunicar na sua própria língua com qualquer cidadão do mundo. A língua não representava mais barreira à humanidade.


Sempre existiu bastante resistência por parte de pequenos grupos que insistiam em continuarem apostando no modelo antigo de se viver e praticavam crimes bárbaros contra a nova sociedade que almejava um mundo melhor. Foi necessário um esforço muito grande para que a parcela boa da humanidade começasse a resolver a questão. A maioria das pessoas já havia percebido que o maior responsável pela quase destruição do planeta era o egoísmo humano. Devido a este terrível defeito moral, as nações entraram em conflitos cada vez mais letais, pois estavam motivadas por este sentimento mesquinho.
Os líderes da força de reconstrução chegaram à conclusão de que seria necessário criar um sistema corretivo para as pessoas perversas que não estavam compartilhando com a boa sintonia do restante da humanidade. Era sim um sistema prisional que tirava a liberdade das pessoas de ir e vir, porém não se podia compará-lo aos modelos antigos existentes na Terra – verdadeiros depósitos de pessoas. Foi desenvolvido o conceito: “O preso se recupera por si só”.
Foram construídas várias casas de recuperação aonde os presos mais perigosos iam cumprir penas. Nestes locais existiam vastas áreas onde os presos começariam o trabalho de recuperação. Não se castigava ninguém. Havia um software que fora desenvolvido exclusivamente para possibilitar ao apenado uma chance de retornar à sociedade livre.
Neste local o preso encontrava tudo o que precisava para se recuperar: muito trabalho. Para garantir o seu alimento, tinha que cultivá-lo nos campos da prisão, juntamente com os seus companheiros, seguindo as diretrizes da FCMRP. Se recusasse o trabalho em detrimento da revolta, ficava sem comer apressando a sua estada na Terra. O preso não recebia nada de graça. Todos os benefícios eram conseguidos por mérito. Aqueles que demonstrassem terem aprendido a lição eram premiados e passavam a trabalhar na recuperação de outros delinqüentes.
O preso que se recusava em esforçar-se na busca da sua recuperação, nada era feito por ele, pois já se sabia que cada indivíduo possui um determinado grau de adiantamento espiritual e nada pode ser feito enquanto uma criatura estiver em conluio com o mal.
As prisões foram desenvolvidas para impossibilitar a fuga. Não havia sentinelas humanas. Tudo era controlado por meio de um poderoso programa que administrava todas as rotinas da casa. Quanto o apenado adentrava nas instalações da prisão passava a receber constantemente todas as orientações sobre todas as normas do recinto. Desta forma ficava sabendo já no primeiro dia de sua pena, que para se alimentar teria que dar a sua parcela de esforço todos os dias nos campo de cultivo da prisão. Caso não contribuísse com o esforço coletivo, ficaria sem o alimento e conseqüentemente estaria decretando a sua própria morte. Obviamente que houve muita resistência, vários motins violentos com centenas de mortos nas prisões. Mas, à medida que os presos foram se conscientizando de que não havia possibilidade de fuga, e que a única maneira de se viver naquele ambiente fechado era executando o trabalho diário, a ordem começou a aparecer.
Assim como na sociedade livre, na prisão também os presos tinham que seguir às determinações da FCMRP quanto ao total respeito ao meio ambiente. Então todos os dejetos produzidos na cadeia eram reciclados e reaproveitados. Os presos eram constantemente lembrados por meio do software administrador que este preceito deveria ser fielmente respeitado. Eles sabiam, de antemão quais eram os recursos de que dispunham e quais eram os procedimentos a serem seguidos. Desta forma, se quisessem banho quente ou energia para iluminação e lazer, teriam que gerar a carga necessária, que, no caso das prisões somente era produzida por meio da queima controlada dos gases oriundos da fermentação dos detritos (restos de alimentos e as fezes) e por meio do esforço físico: todos os dias os presos eram orientados pelo programa administrador, à prática de exercícios em uma área destinada a este fim. Este local possuía terminais que transformavam a energia do atrito produzido pelos presos em energia elétrica. Desta forma, conseguia-se um esforço concentrado e, também, uma maior sociabilização dos apenados.
Com a implantação deste sistema corretivo, os resultados positivos começaram a aparecer e a sociedade começou a tornar-se definitivamente mais igualitária. Não existia mais lugar nela para o indivíduo que queria apenas usufruir de algo que não conseguido através de seu esforço. Só havia lugar para pessoas comprometidas com o trabalho coletivo, sintonizadas com o bem maior que era o bem de toda a humanidade. O homem não queria mais repetir os erros do passado. Queria sim construir aquela idéia que já demonstrava ser a mais correta. Cada indivíduo sentia-se útil neste esforço coletivo e doava a sua parcela de trabalho com todo o amor. O mundo finalmente começava a mudar a sua feição.


Capítulo V
A ciência voltada ao bem-estar dos terráqueos

A ciência passou a ser uma aliada importante para o progresso da humanidade. Parece uma falta de bom senso afirmar isso, mas, a verdade é que no passado a ciência fora utilizada muitas vezes voltada para o mal. E o resultado deste erro grotesco de pura miopia da humanidade foi a quase destruição do planeta. A FCMRP colocou a ciência no seu devido lugar: a serviço do progresso material e espiritual da humanidade. Esta maravilhosa ferramenta seria o item principal que possibilitaria à raça humana consertar os terríveis erros do passado.
Inicialmente as lideranças da FCMRP procuraram reunir as melhores cabeças nas mais variadas áreas da ciência tendo como objetivo comum buscar soluções para os mais variados problemas que surgiam.
Os cientistas de todas as áreas passaram a trabalhar em conjunto durante vários anos seguidos para desenvolverem um software que fosse capaz de gerenciar todas as atividades humanas. Este programa deveria ser capaz de acompanhar o desenvolvimento de todos os seres humanos e determinar quais seriam as decisões corretas a serem tomadas.
Quando finalmente conseguiu esta façanha, a humanidade estava pronta para conquistar mais uma etapa no esforço coletivo de reconstrução do planeta.
O software era na verdade uma versão eletrônica das diretrizes da FCMRP. Ele era capaz de saber quantas famílias poderiam conviver em determinado local, qual seria a pessoa ideal para realizar uma determinada tarefa, não importando se esta pessoa morasse do outro lado do mundo; mostrava de maneira bem simples o que cada indivíduo poderia fazer para dar a sua parcela para recuperar o mundo; determinava qual seria o índice de natalidade ideal para uma região; mostrava o que precisava ser feito para que não faltassem os produtos essenciais à vida.
Nada era realizado sem que se consultassem as simulações do programa FCMRP. Desta forma, todas as decisões passaram a contar com um poderoso aliado. E a razão passou a ditar as regras.
Os governantes de antigamente quase destruíram o planeta devido às suas decisões erradas. Agora quem ditava as regras era um programa que atuava a nível mundial e que fora desenvolvido pelas mentes mais brilhantes da humanidade. Era constantemente atualizado pelos benfeitores do bem, garantindo assim a busca pelo constante progresso.
Apesar de não ser um ser físico, o programa fora desenvolvido segundo um conceito amplamente discutido entre os seus milhares de idealizadores: deveria ser ele, como um ser humano perfeito, como um modelo a ser seguido; sábio em suas decisões em todas as áreas da atividade humana.
O homem tinha plena consciência de suas fraquezas e sabia que deixar as decisões importantes sobre os rumos por que a humanidade deveria seguir, nas mãos de um ou de alguns líderes, poderia representar a repetição dos erros cometidos no passado.
Os bons homens ainda não haviam se libertado de um dos principais cânceres da humanidade: o egoísmo. Em virtude desta constatação acertada, a maioria dos líderes decidiu “construir” um ser humano perfeito. Tratava-se de um ser virtual, que reunia em si todas as virtudes às quais todos desejavam possuir. Buscaram inspiração nos grandes expoentes do passado; em ensinamentos universais de bondade e fraternidade; nos grandes vultos da ciência humana das mais variadas vertentes. Este ser idealizado não devia jamais diferenciar ou privilegiar um humano ou um grupo isoladamente; deveria sempre buscar a melhor alternativa que fosse capaz de melhor atender a coletividade. Toda decisão apresentada teria que estar coerente com as suas diretrizes, não sendo, portanto aceita nenhuma dubiedade.
A partir do momento em que a humanidade começou a trabalhar fazendo o uso da razão com o auxílio do poderoso software, o progresso foi imenso. As boas idéias pipocavam de todas as partes do mundo. Estas idéias eram analisadas pelo programa e se demonstrassem ser uma boa alternativa, era posta imediatamente em prática, propiciando benefício a todos. Desta forma o progresso avançava a passos largos.
Neste período a humanidade já havia dominado a tecnologia da fusão nuclear. Tratava-se de um grande salto tecnológico, pois energia não representava mais um problema. Mesmo assim, as formas rudimentares de se conseguir energia como a tecnologia eólica e outras formas que não agrediam o meio ambiente, foram mantidas.


Com a tecnologia da fusão foi possível desenvolver veículos alados que foram substituindo os terrestres. Seguindo o ideal da coletividade, estes veículos eram coletivos.
Uma vez que a humanidade conseguiu atingir um nível de desenvolvimento capaz de construir veículos alados, seguros e não polidores, foi possível começar a implantar um plano há muito tempo idealizado por todos: a destruição total das antigas estradas e os velhos modelos de moradias. Como as pessoas viajavam com segurança voando para todas as direções da Terra, não fazia mais sentido manter estas terríveis chagas no planeta.
Já se sabia, através dos estudos que, para o planeta voltar a ser um local agradável de se viver, as ruínas do modelo de civilização de outrora deveriam ser destruídas e em seu lugar devia voltar a viver os seus antigos habitantes. Então havia muito que ser feito. Era preciso derrubar os restos de edificações, fazer proveito dos materiais, iniciar o plantio de espécies nativas, e mais tarde, repovoar o ambiente recuperado com os animais que habitaram a localidade no passado.


Capítulo VI
A recuperação do meio ambiente

Como já vimos anteriormente, a preocupação com o meio ambiente passou a ser a principal foco da humanidade. Com o auxílio do software foi possível elaborar um plano de recuperação para as áreas degradadas. Inicialmente se derrubavam as ruínas das cidades. Logo em seguida todo material resultante da demolição era reciclado e armazenado para ser reutilizado quando se fizesse necessário.
Quando o terreno já estava limpo e despoluído, iniciava-se o plantio de espécies nativas da região. Mais tarde, com a área já em franca recuperação, soltavam-se os animais em seu antigo habitat.
Além da terra firme, iniciou-se um imenso trabalho de revitalização dos rios e outros reservatórios d’água do planeta. Os canais foram limpos, as matas ciliares foram recuperadas e os peixes puderam voltar a povoar esses locais.
Passados vários anos e em virtude destas medidas ambientais, já se sentia que o clima na terra estava começando a mudar para melhor. O nível dos oceanos começou a regredir. Através das simulações do programa já se sabia que parâmetros ideais das condições ambientais estavam próximos de serem alcançados.
A humanidade teve que aprender da pior forma possível que jamais poderia ser adversária da natureza. Deveria sim fazer parte dela, pois era apenas mais uma entre tantas outras criações deste mundo. Agora cada pessoa vivia como realmente sempre deveria viver: respeitando a natureza, retirando dela somente o que era necessário a sua existência. Todas as suas intervenções no meio eram cuidadosamente calculadas e só eram feitas se não apresentassem risco algum.
Respeitando a natureza, a humanidade passou a imitar os animais irracionais que, embora desprovidos de razão, só retiram dela aquilo que necessitam. Assim o único ser racional, copiando os seres “inferiores” começou a viver de forma realmente racional no planeta.
A responsabilidade pela recuperação do meio ambiente foi igualmente dividida entre todos os seres humanos. O trabalho era árduo, entretanto valia a pena. Todos sabiam o que era preciso ser feito para garantir um futuro promissor a todos os habitantes da Terra. E todo homem de bem firmou o compromisso de doar a sua parcela de esforço nesta grande empreitada.



Capítulo VII
O tratamento dado a quem não cooperava com os trabalhos coletivos

Aqueles que não queriam participar do esforço coletivo não era obrigado. Cada um possuía como direito o livre-arbítrio. Mas o indivíduo também teria que se responsabilizar pelos seus atos. Era simples: se uma pessoa não participava do esforço coletivo e se a mesma apresentava plena saúde, em conseqüência desta atitude individual, era negada à ela os benefícios coletivos. Naturalmente esta pessoa estaria burlando as diretrizes que ditavam a vida em sociedade, pois um dos principais pontos era que cada indivíduo deveria doar a sua parcela de esforço por uma sociedade mais justa e fraterna. Não havia lugar para individualismo. Essas pessoas acabavam por ter sua liberdade perdida e eram encaminhadas para centros de reciclagem. Lá, não importava quanto tempo fosse necessário, teriam que aprender a viver em sociedade com pessoas que pensavam da mesma forma. Pode até parecer injusto, mas se analisado racionalmente, esta medida serviu para mostrar às pessoas que somente tem direito ao bem coletivo quem dele fizer parte. A sociedade era igualitária sim, mas não se permitia mais indivíduos, que no modelo antigo de civilização, nada produziam e somente consumiam do bem produzido por outrem.
O indivíduo ganhava assim uma nova oportunidade de aprender como viver na nova sociedade. Certamente que esta não seria uma tarefa fácil, pois estaria confinado em um ambiente onde as pessoas compartilhavam da sua mesma visão egoísta. Mas não restava outra alternativa senão trabalhar pelo bem comum. Nestes locais estas pessoas tinham que produzir os próprios alimentos, administrar os meios de produção de energia, racionalizar o consumo da água, dentre outras tarefas ditadas pelo programa de recuperação. Estes trabalhos só eram possíveis se houvesse um esforço coletivo.
Com o tempo estas pessoas começavam a perceber que não havia mais espaço para parasitas. Quem não contribuísse para o bem comum não era punido por ninguém. Com esta atitude errada a pessoa naturalmente não tinha direito de usufruir dos benefícios conseguidos coletivamente. Assim, se não ajudou a produzir o alimento, era-lhe negado o mesmo; se não participou do esforço para a produção energética, não teria o direito de consumi-la. Em conseqüência destas atitudes errôneas, o indivíduo padecia até a sua morte.



Capítulo VIII
As novas indústrias


Os antigos modelos de indústrias surgiram há muito tempo, num período que ficou conhecido como Revolução Industrial. Antes deste período, a humanidade vivia mais em harmonia com a natureza. Com o início da industrialização e o surgimento das grandes cidades, a degradação da natureza começou a se tornar um problema cada vez mais grave. Mas as indústrias necessitavam de matéria-prima e, o homem, cego para estes problemas ambientais, não conseguia enxergar que aquele modelo de sociedade proposto pela revolução industrial, não era compatível com o futuro do planeta.
Inicialmente a madeira das árvores foi fartamente utilizada para abastecer as caldeiras das indústrias. Também foi utilizado o carvão mineral para este fim.
Com o surgimento do carro, inicialmente a vapor d’água, depois o movido a gasolina, a humanidade avança consideravelmente rumo a um falso progresso. O carro a gasolina representou um enorme salto da humanidade, mas foi, na verdade, um grande erro estratégico. Se o homem, neste período tivesse feito um esforço no sentido de desenvolver somente veículos coletivos e mais ainda, a idéia do trabalho em coletividade, talvez não tivesse sofrido tanto.
A indústria cresceu, a partir da Revolução Industrial, seguindo um princípio egoísta de desenvolvimento. O homem retirava tudo que podia da natureza e não parava para analisar os impactos desta atitude certamente errada. E este modelo avançou até o início do século XXII, período em que a Terra já estava mergulhada nas trevas da destruição.


Muito tempo se passou até a humanidade chegar ao período atual, com uma nova visão estratégica. Agora não se admitia mais indústrias poluidoras iguais às de antes. Muitos produtos produzidos pelas antigas indústrias foram simplesmente abolidos pela nova sociedade por serem altamente poluidores.
Seguindo o princípio de impacto zero, as novas indústrias não podiam emitir nenhum resíduo tóxico ao meio ambiente. Tinha como obrigação executar todos os procedimentos ensinados pelo programa da FCMRP.
Ficava estipulado neste plano que primeiramente as indústrias iriam atuar na reciclagem dos materiais que foram utilizados no passado e que era, sem dúvida, um grande problema a ser resolvido. Todos os seres humanos capacitados foram mobilizados para tal tarefa.
Primeiramente estes materiais eram recolhidos, separados e limpos. Logo depois eram catalogados e registrados pelo programa. Após ser analisado, cada material seguia o seu destino de reaproveitamento.
Absolutamente tudo era reciclado. Nada que pudesse ser reaproveitado ficava no meio ambiente causando poluição.
Desta forma, as novas indústrias estavam contribuindo de uma forma bem racional para o desenvolvimento da sociedade como um todo.
Os operários destas fábricas eram pessoas das mais variadas localidades da terra. O programa sabia exatamente qual indivíduo era o mais qualificado para assumir tal tarefa e o convocava para exercê-la onde ele estivesse. Desta forma, a humanidade avançava decisivamente rumo a um mundo mais fraterno.
Os produtos produzidos pelas fábricas só eram fabricados quando se comprovasse a sua eficiência no que dizia respeito à inexistência de riscos ao meio ambiente e, também no que se referia à sua funcionalidade. Não se produzia mais nada que fosse supérfluo; somente aquilo que realmente era necessário para toda humanidade.
Os produtos que apresentavam riscos à saúde das pessoas e dos animais foram banidos da face da Terra.
A ciência foi, sem dúvida, uma grande aliada das indústrias. Todo dia aparecia uma inovação em alguma parte do mundo, que era rapidamente implantada pelas fábricas.
Como não havia mais a idéia de acúmulo de riquezas, as indústrias trabalhavam em comunhão com outras do mundo inteiro. A principal obrigação da indústria era produzir produtos que atendessem às necessidades da sociedade em alguma parte do mundo.
Todo este processo era controlado pelo programa da FCMRP que tudo sabia. Ele era o maestro da nova sociedade. Representava o lado racional do novo homem, que passou, então a agir de forma mais acertada.
Aboliu-se a produção excedente. A produção estava voltada para atender somente às necessidades comprovadas previamente.
As pessoas usufruíam toda assistência que necessitavam. Eram incentivadas às práticas de atividades físicas regularmente.
Cada indivíduo recebia treinamentos periódicos para aprender sobre os novos avanços tecnológicos. Desta forma, as indústrias não ficavam estacionadas no tempo e estavam se aprimorando constantemente.



Capítulo IX - A organização comunitária


Como vimos anteriormente, o conceito de família foi bastante ampliado. As pessoas foram conscientizadas de que teriam que desenvolver relações de convivência amigável. Desta atitude dependia o sucesso da nova comunidade mundial.
Com o auxílio do poderoso software da força, as famílias foram reunidas em grupos que, na média, comportavam dez famílias. Esta seleção levava em consideração todas as características das pessoas destas famílias. O programa analisava qual seria a combinação mais perfeita para que a futura comunidade pudesse obter êxito na união.
Nestas pequenas comunidades havia indivíduos capacitados nas mais variadas áreas do conhecimento humano. Desta forma cada um poderia doar a sua parcela de esforço para promover o bem maior, que neste caso era o sucesso da comunidade.
Surgiu então o conceito de moradia inteligente. Este projeto audacioso foi desenvolvido com o auxílio do programa da força. Era uma idéia que para dar certo dependia de absolutamente todos os integrantes da grande casa.
O programa chegou à conclusão que a melhor alternativa para as novas moradias das pessoas seria o subsolo. As superfícies seriam ocupadas, em sua maioria com culturas para se produzir alimentos. Era, de certa maneira, uma forma de acelerar a recuperação da superfície degradada.
O local onde a residência seria construída era escolhido após uma análise criteriosa do programa.
A grande residência foi desenvolvida para ser um local que oferecesse conforto e funcionalidade. Quase toda a sua superfície era ocupada por variadas culturas orgânicas voltadas à produção de alimentos. Também existiam canais construídos para captar água de chuva. A água era dirigida para um sistema de filtragem, composto por diferentes tamanhos de pedra; areias, grossa e fina; e, por último, uma camada formada por materiais germicidas. Desta forma, toda água captada servia para abastecer a residência. Havia um controle rígido no consumo de água. Neste sentido, não se permitia o desperdício. Toda água utilizada era controlada. Foi desenvolvido um eficiente sistema de filtragem que conseguia retirar do esgoto a água e torná-la potável novamente. Cada pessoa da casa executava uma função na manutenção dos setores essenciais da residência.
Outra preocupação era a respeito da produção de energia para abastecer a residência. Boa parte dela era produzida através da queima dos gases produzidos na decomposição dos dejetos produzidos na casa comunitária. Consistia em acondicionar os detritos em um enorme recipiente chamado de biodigestor (uma tecnologia antiga); ali os detritos sofriam fermentação e emanavam gases; estes gases eram então encanados até queimadores que movimentavam motores de geradores de energia. Mas os poluentes produzidos pela queima dos gases não eram despejados na atmosfera; eram filtrados para garantir poluição zero no processo. O que restava de todo este processo era reaproveitado sob a forma de adubo orgânico.
Todo o lixo produzido na comunidade era cuidadosamente reciclado no próprio local. Nada era descartado.
Outros recursos de produção energética eram utilizados em associação a este, como a sistema eólico, que utiliza o vento e o sistema de produção por atrito. O próprio vai-e-vem das pessoas, assim como os movimentos realizados durante as atividades esportivas, eram convertidos em energia elétrica para a moradia coletiva.
Uma iniciativa que deu muito certo nesta questão de moradia inteligente foi a de oferecer educação para as crianças na própria moradia. Devido a esta preocupação, em cada residência havia vários indivíduos capacitados para esta empreitada. Os adultos também passaram a freqüentar as aulas. Consistia em apresentar desde o básico aos mais avançados estudos nas mais variadas áreas. Todo o processo de ensino era estipulado pelo homem virtual, que traçava um cronograma de ensino especialmente desenvolvido para suprir as necessidades específicas daquela comunidade. Desta forma ficava garantida uma educação de qualidade a todos os membros da grande moradia. Sem obstáculos técnicos, pois com a educação direcionada se conseguia formar pessoas qualificadas para vencê-los, a comunidade só precisava trabalhar unida.
Aquilo que não era produzido na comunidade era conseguido através da troca com outras comunidades e também através dos empreendimentos comunitários.
Empreendimentos comunitários eram benfeitorias construídas próximas à residência que foram feitas para suprirem as necessidades da comunidade. Um exemplo eram as fazendas de criação de peixes. Consistiam em vários tanques construídos dentro das mais rígidas normas, que produziam variadas espécies de peixes. Todas as pessoas qualificadas para esta finalidade trabalhavam nela. Assim se conseguia abastecer a toda comunidade com proteína da melhor qualidade. Os peixes eram alimentados com produtos naturais produzidos em equilíbrio com a natureza na mesma localidade. Desta maneira evitava-se o gasto desnecessário com transporte e desperdício de mão-de-obra. Quando aparecia um problema que não poderia ser solucionado por nenhum integrante da comunidade, o programa então incumbia alguém, de algum lugar da Terra, para auxiliar aquela comunidade. O conceito de fazer ao próximo o que se pretendia a si mesmo, alcançara, finalmente, o seu real sentido.


Parte II

Capítulo I
Os desafios


Depois de muito tempo de sofrimento, a humanidade chega ao século XXIII apresentando uma forma mais racional de lidar com os recursos do planeta. Os grandes desafios passaram a ser superados de forma inteligente, sempre com o cuidado de não comprometer a integridade do planeta - sua moradia maior.
No passado vários líderes ensinaram que o ser humano deveria tratar o seu semelhante sempre com amor; que deveria ser fraterno; que o respeito à vida de todas as criaturas da Terra era necessário. Mas eles não conseguiram tais objetivos porque o ser humano sempre foi um ser egoísta. Devido a este defeito moral, quase deu cabo de sua própria existência.
Mas finalmente aprendera um pouco com os erros do passado e se conscientizara de sua principal fraqueza. Através dos ensinamentos de grandes expressões humanas do passado, chegou à conclusão de que para a humanidade conseguir resolver seus principais problemas, seria necessário então criar “homem perfeito”. Construíram o já descrito “homem virtual”.
Este ser virtual foi construído seguindo a colaboração de pessoas do mundo inteiro. Suas virtudes eram conceitos universais de benevolência. Não diferenciava a pessoa pela sua origem étnica, tampouco pela região onde nascera. Classificava as pessoas segundo as suas qualidades. Não se inclinava para nenhum grupo específico.
Com esta ferramenta poderosíssima a humanidade conseguiu iniciar uma nova era.
Um dos principais desafios foi enfrentar a intolerância. E ela estava enraizada na humanidade desde seus primórdios. Devido à intolerância muitas pessoas morreram no passado. Talvez a principal dela fosse a relacionada à religião. Durante muito tempo pessoas matariam em nome de Deus. O que obviamente era uma incoerência imensa.
Foi, sem dúvida, um dos maiores desafios da nova sociedade. Após muitos conflitos, com um saldo assustador de baixas, as coisas começaram a mudar.
Muitas pessoas simplesmente recusavam a entender os novos conceitos de igualdade e fraternidade apresentados. E faziam uso da selvageria, alimentados pelo ódio que, infelizmente sempre fora ensinado por muitas religiões. Estas pessoas foram isoladas em locais de recuperação. Muitas morreram em respeito às suas convicções e outras, poucas é bem verdade, conseguiram entender os novos conceitos.
A nova sociedade preocupou-se muito com a questão da religiosidade. Havia a certeza que o homem era fruto de um ser maior que tudo criou. O programa que auxiliava a humanidade em todas as questões possuía como diretriz que definia religião, um conceito que foi ensinado por um grande líder do passado: “Amar ao próximo como a ti mesmo e a Deus sobre todas as coisas”. Segundo esta idéia, nada, absolutamente nada que fosse contrária a ela era posta em prática.
Muitas religiões importantes do mundo ensinavam conceitos que se contrapunham a este ensinamento, no todo ou em parte. Não foi trabalho fácil enfrentar este terrível problema o qual a humanidade sempre negligenciou.
Através de um estudo bem elaborado, o programa mostrou que esta questão precisava ser enfrentada, se a nova comunidade almejasse realmente um futuro melhor para todos. Apresentou um plano detalhado de como este problema deveria ser solucionado. Foi necessário muito tempo e muitas vidas para resolver a questão.
O homem da nova comunidade terráquea não mais se prendia a questões fúteis de vaidade. Já tinha consolidada a certeza de que a vida neste plano era apenas uma etapa a ser vencida. Haveria outras em outros planos. Então não mais gastava energia pessoal na busca da longevidade. Tinha plena consciência de suas limitações físicas e as aceitava. O sentido da vida na terra passa a ser a busca pelo dever de ser útil ao próximo. E o próximo assume um significado bem amplo. Poderia ser desde aquele irmão da própria família, ou qualquer outra pessoa da grande comunidade humana.



Capitulo II
O relacionamento entre as pessoas

Quando o programa da FCMRP elaborava um plano direcionado à determinada comunidade, levava sempre em consideração o equilíbrio de sintonia entre seus membros e também um equilíbrio no número de mulheres e homens. As lideranças eram escolhidas, segundo critérios científicos e passavam a administrar a comunidade seguindo o plano elaborado pelo homem virtual. Casais formavam-se com o tempo e assim a comunidade se renovava constantemente.
Era uma preocupação o controle de natalidade. Neste sentido, as pessoas recebiam todas as orientações sobre este tema. Aprendiam que não poderiam ter atitudes irresponsáveis que comprometessem o futuro da comunidade. O homem virtual ensinava e apresentava números que alertavam sobre o perigo de uma explosão populacional. Mas onde se fazia necessário mais pessoas, ele incentivava o aumento populacional.
O sexo deixa de ser encarado como tabu e passa a ser discutido de forma bem racional. Todos aprendiam, por meios adequados, a lidar com esta poderosa força genésica. Todos tinham plena consciência de que o sexo não deveria ser praticado somente para procriação; também era uma forma de fortalecer a união de um casal. Neste sentido o que deveria ser abolido era a promiscuidade que sempre foi uma prática irresponsável em se tratando de ato sexual. Com o auxílio eficaz da educação, este desafio também foi superado.
Toda a pessoa se conscientizava de que seu papel na comunidade era importante e, conseqüentemente beneficiaria a todos. Assim a mesquinhez não tinha mais vez no novo mundo. Era preciso existir uma espécie de simbiose entre todos, onde os benefícios seriam recíprocos.










Capítulo III
As novas tecnologias

Como já vimos anteriormente, neste intervalo de tempo a raça humana começou a dar saltos tecnológicos consideráveis. E isso aconteceu porque houve um investimento enorme em educação direcionada por aptidão. Não demorou e os resultados surgiram em forma de boas idéias que foram amplamente divulgadas e implementadas no mundo inteiro.
A primeira grande inovação tecnológica foi o domínio da tecnologia da fusão nuclear. Sem o impasse da limitação energética que esta nova forma de produção energética superou, foi possível criar os veículos alados que contribuíram decisivamente para o progresso da comunidade mundial e, também para a eliminação dos veículos poluidores do passado.
O homem já tinha certeza que poderia iniciar outro projeto audacioso e muito importante para a humanidade: a colonização de Marte.
Graças ao uso dos veículos alados, as estradas puderam ser abolidas e suas áreas foram reflorestadas. Conseqüentemente houve uma sensível melhora no clima que começava a voltar aos patamares normais.
A produção agrícola cada vez mais recebia inovações. E o mais importante: nesta área o homem finalmente se convencera que deveria ser sempre aliado da natureza, jamais seu inimigo. Todos os procedimentos nocivos do passado como, por exemplo, o uso de agrotóxicos e a monocultura, foram banidos. O homem passou a realizar a cultura diversificada e em pequena escala. O controle das pragas era feito manualmente e através do uso de inimigos naturais. Desta maneira se conseguia produtos saudáveis que não ofereciam risco algum para quem os consumissem. A adubação do solo era feita com húmus de minhocas ou matéria orgânica processada.
Estas técnicas agrícolas eram, na verdade, técnicas muito antigas, conhecidas pelo homem desde a antiguidade, mas durante bom tempo caíram no esquecimento e então o homem passou a usar venenos de forma descontrolada. Em busca gananciosa por ganhos rápidos, poluiu o solo e os cursos d’água do planeta. O resultado foi desastroso para ele próprio.
O homem moderno aprendeu a observar a natureza à maneira do homem antigo, e a interpretar os seus sinais. Assim soube lidar melhor com os problemas que surgiam. Como não havia mais a busca a qualquer custo por enormes safras, visto que só se produzia o que era realmente necessário, as áreas cultivadas passaram a ocupar pequenos espaços calculados meticulosamente. Com este cuidado a comunidade responsável pela área conseguia exercer o controle necessário das pragas que, porventura, atacasse a plantação. Esse controle era feito, na maioria das vezes, através da captura e eliminação, no caso das larvas e insetos; por meio do uso de inimigos naturais, quando o controle manual se mostrava ineficaz ou as duas técnicas somadas a uma terceira, que consistia no uso de repelentes naturais feitos à base de plantas.



Os meios de comunicação haviam alcançado um alto nível de desenvolvimento tecnológico em meados do século XXIII. Como já foi descrito anteriormente, os vários dialetos humanos não representavam mais barreiras às comunicações. Não havia mais a necessidade de um indivíduo especializar-se em um determinado idioma, pois a tecnologia resolveu, de forma definitiva, esta questão. O homem virtual criou um software que era capaz de traduzir simultaneamente qualquer língua falada ou escrita.
As pessoas utilizavam um pequeno aparelho, que em conjunto com o poderoso programa, conseguia traduzir qualquer mensagem pensada, escrita ou falada. A primeira versão tinha uma dimensão de 3x2 cm. Ele poderia ser transportado em qualquer parte do corpo. Normalmente era carregado no bolso. Possuía um código exclusivo que era criado segundo a seqüência de DNA do dono e também pelo coeficiente de personalidade; cálculo utilizado para eliminar qualquer resultado idêntico (no caso de gêmeos).
Este mecanismo representou um enorme salto para a humanidade.
Como as pessoas de diferentes origens passaram a comunicar-se pelo pensamento, passaram a ter mais disciplina em relação aos maus pensamentos.
Antes da invenção do mecanismo de tradução a pessoa podia refugiar-se em seus pensamentos mais profundos e ocultar a falsidade por detrás de um sorriso; depois deste revolucionário aparato, as pessoas começaram a sentir que deveriam promover uma mudança radical também em seus pensamentos.
Quando uma pessoa queria se comunicar com outra pessoa, bastava ligar o aparelho com um comando de voz; em seguida era só direcioná-lo para quem fez a solicitação e iniciar a comunicação. O aparelho recebia a informação emitida pelo pensamento em qualquer língua e repassava para o seu usuário na língua que ele entendia. Por isso que era muito importante para as pessoas terem disciplina durante o processo de troca de mensagem. Qualquer pensamento fortuito era passado, o que inicialmente causou muito desconforto.
Mais tarde inventaram um mecanismo mais moderno. Tratava-se de uma pequena cápsula que era implantada atrás da orelha. Quando o indivíduo quisesse se comunicar com outro alguém bastava dirigir seu pensamento a ela que a comunicação era iniciada. Desta forma, os homens romperam de vez as barreiras da comunicação, pois não havia mais distância que pudesse impossibilitar a comunicação.
Uma pessoa poderia receber uma mensagem mesmo quando estivesse dormindo. Quando acordasse receberia a informação.
Esta invenção colaborou muito para o progresso tanto material quanto moral da sociedade. As pessoas podiam receber informações importantes de qualquer parte do mundo através deste canal. Desta maneira as novidades passaram a serem compartilhadas de forma mais acelerada. Uma pessoa podia também ser educada à distância, por meio deste método revolucionário, pois o micro aparelho tinha capacidade de guardar uma infinidade de informações.
O homem virtual enviava um programa educacional desenvolvido exclusivamente para cada pessoa. Como ele sabia exatamente quais eram os pontos fortes e fracos de cada um, possuía todas as informações adequadas para ministrar a dose certa de conhecimento. Isso representou um avanço espetacular na educação mundial. Poder-se-ia dizer que a humanidade avançara cem anos em matéria de desenvolvimento educacional.
Esta nova forma de comunicação também colaborou para higienizar a forma de pensar dos humanos. Não era mais socialmente aceito os pensamentos negativos em suas “n” formas.
Tendo alcançado tamanho aprimoramento tecnológico e também por ter conseguido, após muito esforço por parte dos homens de bem, a recuperação do planeta - a humanidade já podia concentrar seus esforços na colonização de Marte.


Havia muito tempo que o homem tinha plena consciência de que apesar de todo esforço para preservar a Terra, ela não seria suficiente para comportar todos os seus habitantes de forma harmoniosa para sempre. Sabia também que a própria existência da Terra não era para toda eternidade: chegar-se-ia um dia em que ela seria destruída pelo Sol. Na verdade, não só ela, boa parte do sistema solar.
Tinha consciência de que isso só ocorreria em alguns bilhões de anos, mas que, por ser ele a única espécie racional do planeta, devia começar a pensar já neste problema. Já se sentia capaz de começar a arquitetar um plano de conquista do espaço desconhecido. Percebeu que Marte seria um bom laboratório para o início de aprendizado.
Este planeta, em especial, sempre foi objeto de desejo da humanidade desde quando nossa raça iniciou sua trajetória de exploração do espaço antes das guerras. Mas naquela época os interesses eram mesquinhos, não era toda a humanidade envolvida em torno de um nobre objetivo; era apenas uma pequena parcela da raça humana atrás de vantagens financeiras.
Agora era diferente. O objetivo era iniciar a colonização no planeta vermelho; torná-lo adequado à vida humana. A humanidade iria usar para alcançar este objetivo, toda a experiência adquirida na reconstrução da Terra.


Capítulo IV
Missão Marte

O homem foi, gradualmente, conscientizando-se de que o bem maior que sempre possuiu e que o diferenciava do restante dos habitantes do planeta Terra era a sua inteligência superior. Aprendera com os erros do passado que quando o intelecto é utilizado para o mal, não se pode dizer tratar-se de sabedoria; é, antes de qualquer coisa, ignorância com curso de pós-graduação. E usando desta característica peculiar, não foi difícil concluir, conseqüentemente que a Terra não seria suficiente para comportar - não só a humanidade - mas todos os seus habitantes, para sempre.
Cálculos antigos, somados aos recentes, elaborados pelo homem virtual, alertavam para um distante colapso do sistema solar. Ocorreria assim: Passados alguns bilhões de anos o Sol finalmente chegaria ao fim da sua vida. Antes disso começaria a buscar combustível externamente; e, assim, nesta fase de agonia, cresceria bastante e consumiria os planetas mais próximos, dentre os quais a Terra. Seria o fim do nosso sistema solar e, naturalmente, da vida na Terra. Mas tudo isso iria levar muito tempo para ocorrer, pois o Sol estava ainda na flor da idade.
A humanidade sentiu que já era o momento de começar a agir visando o futuro dela e de todos os habitantes do planeta. Decidiu iniciar a colonização de Marte.
Se fosse analisar o motivo pelo qual todo este esforço começara, pareceria um contra-senso. Se o Sol, num futuro muito longínquo iria engolir boa parte dos seus planetas, por que então colonizar Marte?
A idéia não era absurda. O colapso solar estava muito distante. Até ele ocorrer seria o suficiente para a humanidade colonizar totalmente o planeta vermelho durante milhares de gerações.


O homem virtual fez uma análise criteriosa do planeta rubro e traçou um plano de ocupação. Inicialmente seria mandada uma pequena missão de pouco mais de cem pessoas para o planeta. Seriam pessoas altamente capacitadas em várias áreas do conhecimento humano.
Já era do conhecimento humano que havia água em forma de gelo nos pólos do planeta. Esta água seria utilizada tanto para consumo quanto para produção de oxigênio e hidrogênio inicialmente. Também fora checado que na atmosfera de Marte havia uma enorme concentração de dióxido de carbono – um enorme problema a ser resolvido; que a temperatura na região do seu equador poderia chegar até 20ºC e que, assim como a Terra, possuía quatro estações.
No passado foram mandadas várias missões tripuladas a Marte, no entanto, naquela época não se conseguiu implantar uma colônia lá porque os interesses eram mesquinhos.
A primeira missão, que tinha como objetivo colonizar o planeta vermelho ocorreu quase no fim do século XXIII. Na região do equador do planeta foi construída uma enorme moradia subterrânea segundo os moldes das residências terráqueas. Havia muita diferença em relação àquelas casas da terra, pois foi preciso construir um envoltório em torno dela, selado hermeticamente, para proteger os seus habitantes das condições ainda inóspitas do planeta. O ar externo não poderia ser respirado em hipótese alguma. A temperatura e a radiação solar eram grandes problemas. O envoltório servia como um isolante para sanar estes inconvenientes.
As pessoas levaram sementes da Terra e passaram a cultivá-las na grande moraria estufa. Com esta atividade garantiria parte dos alimentos e parte do oxigênio. Levaram também peixes que passaram a ser criados para consumo na grande colônia. Seguindo os princípios de se aproveitar tudo e nada descartar adotado na Terra, da mesma forma estes procedimentos foram adotados em Marte.
O maior objetivo dos humanos era transformar Marte em um futuro planeta habitável. Era necessário então interferir na composição química de sua atmosfera, de forma sábia, para, decorrido algum tempo, este sonho ser possível.
A idéia inicial era desenvolver bactérias anaeróbias resistentes ao clima marciano que se alimentassem dos compostos orgânicos do planeta e que, através do processo de fermentação, produzissem gás carbônico que, gradualmente, promoveria um aquecimento gradual na superfície do planeta.
Uma vez que houvesse a presença deste gás na atmosfera, seriam introduzidas plantas especialmente manipuladas para o clima marciano. Estas plantas começariam então a produzir oxigênio, gás essencial para a vida dos terráqueos.
Mas este plano seria posto em prática de maneira bem gradual. Não havia pressa porque a temperatura não poderia subir rapidamente senão o gelo dos pólos poderia derreter-se muito rapidamente e o resultado disso poderia ser desastroso para a colônia.
Os experimentos com a bactéria foi posto em prática e demonstrou ser eficaz; foi então introduzida ao ambiente marciano, mas precisamente na região mais quente, numa quantidade suficiente para promover um aumento na ordem de 5ºC na temperatura.
O gelo começou a derreter lentamente e a água a escorrer freneticamente para os vales profundos do planeta. Com o passar do tempo, começou a ocorrer um fenômeno bem conhecido dos humanos: a chuva. Também passou a nevar. Já era o momento de se introduzir a planta manipulada no solo marciano.
O homem, usando da inteligência oferecida por Deus, agora procurava imitá-Lo dando início ao processo da vida em um planeta.



Capítulo V
As transformações

Com o início das chuvas e o aumento da temperatura em Marte, formou-se então a condição necessária para a introdução das plantas geneticamente manipuladas para o clima marciano. Eram plantas resistentes à baixa temperatura e também à radiação solar. Também foram introduzidas espécies de microalgas aquáticas que se proliferavam rapidamente. A intenção inicial era criar as condições necessárias para introduzir ao meio ambiente marciano espécies de anfíbios, crustáceos, minhocas e alguns insetos.
O nível de oxigênio aumentava à medida que o tempo passava. Ainda não era o ideal para a vida humana, mas, segundo os cálculos do homem virtual esta meta seria alcançada rapidamente.
Foram introduzidas algumas variedades de minhocas para acelerar a fertilização e oxigenação do solo. Mais tarde iniciou-se a introdução de samambaias e musgos.
À medida que a concentração de oxigênio aumentava na atmosfera, a temperatura também foi aumentando e, neste período começaram a ocorrer tempestades violentas com descargas elétricas. Na altura do equador do planeta o ambiente já havia mudado muito. As samambaias, os musgos e outras espécies proliferavam com vigor. Já era possível observar uma boa adaptação daquelas espécies vegetais terrestres ao clima e solo marcianos.
Nos vales profundos do planeta, agora repletos de água liquefeita, as microalgas se reproduziam aceleradamente. Nesta fase foram lançados neles espécies de peixes e crustáceos aclimatados.
O mais interessante que se observou nesta fase de colonização foi a “aparição” de alguns microorganismos tanto no solo quanto na água do planeta vermelho. Após serem cuidadosamente analisados pelo homem virtual, descobriu-se que eles foram antigos habitantes do planeta, num período bem distante, quando o planeta possuía um clima totalmente diferente de antes da colonização humana. Estas eram, de fato, as primeiras espécies legitimamente marcianas.
O tempo foi passando e a atmosfera de Marte foi ficando cada vez mais parecida com a da Terra. O nível de dióxido de carbono foi caindo vertiginosamente, tornando o ar menos tóxico. Nesta fase foram introduzidas espécies de gramíneas, de leguminosas e de árvores frutíferas. Também foram lançados ao ambiente, insetos polinizadores. As espécies se adaptaram rapidamente porque antes eram aclimatados e modificados em laboratório no próprio planeta.
Neste período já existia várias colônias humanas no planeta.


Algo muito interessante que foi observado pelos cientistas em Marte foi uma tendência ao gigantismo no planeta. Este fenômeno estava ocorrendo até com os humanos que moravam ainda em estufas.
No ambiente externo do planeta as espécies vegetais e os insetos estavam crescendo, em média 20% mais que os seus parentes terráqueos. Foram feitas várias análises com o auxílio do homem virtual e descobriram-se as causas. Era a combinação da força gravitacional menor do planeta associada à oferta maior de oxigênio. A explicação era simples: como as espécies tinham vindo de um planeta cuja força gravitacional era maior (a Terra), para compensar a diferença, os organismos sofreram um aumento de massa corpórea. Também estes organismos terráqueos gastavam menos energia em Marte que na Terra. Havia uma concentração de oxigênio maior no ambiente; esta condição somada à anterior, favoreceu o surgimento do fenômeno.



Capítulo VI
Meio século mais tarde

Cinqüenta anos havia se passado desde o início da colonização do planeta. Os pioneiros já se sentiam em casa.
A primeira geração de crianças marcianas encontrava-se na fase madura da vida. O ambiente marciano estava muito mudado. As estações do ano estavam cada vez mais regulares; as chuvas ocorriam com mais freqüência; as espécies vegetais tomavam conta de boa parte do planeta. As variedades frutíferas já forneciam alimentos aos humanos. Os insetos polinizadores povoavam várias partes do planeta. Nos grandes lagos os peixes e os crustáceos se reproduziam rapidamente e passaram a serem consumidos pelos humanos. Os pássaros de várias espécies salpicavam o céu rosado de Marte.
Já era possível respirar sem a ajuda de aparelhos. A única restrição ainda para os humanos terráqueos, era quanto aos perigos da radiação solar. Mas o mais interessante era que os humanos que nasceram por lá, apresentavam uma perfeita adaptação às condições gerais do clima. Começava a ocorrer um processo natural de seleção.


Estes seres humanos adaptados começaram um trabalho minucioso para desvendar todos os segredos do planeta e gerar todo um conjunto de conhecimento, cujo intuito maior seria o de criar um novo programa baseado no homem virtual: “o marciano virtual”. Com isto, deu-se princípio a uma nova fase da humanidade.


Apesar de todo estudo produzido até aquele momento, boa parte do planeta ainda era um grande mistério. Um bom exemplo era quanto ao comportamento das placas tectônicas do mundo vermelho. Ao contrário do que se pensava, havia sim atividades vulcânicas e movimentações de placas; vez ou outra ocorriam pequenos tremores. Foi necessário, então, considerar estes fatores na construção das novas moradias e infra-estruturas.
Por todo o planeta era possível avistar vários vulcões já extintos, sendo que o maior deles era várias vezes mais alto que a mais elevada montanha da Terra.





Capítulo VII
A exploração consciente dos recursos do planeta

Finalmente depois de muitos anos de esforço para criar as condições ideais para a vida em Marte, seus pioneiros já podiam começar uma empreitada maior, que era fazer um levantamento total dos recursos do planeta, assim como traçar a melhor estratégia para explorá-los sem causar mal algum ao meio ambiente. O ser humano já havia acumulado todo um conhecimento sobre os cuidados necessários para a preservação do ambiente e aplicou-o de forma integral.
O trabalho era imenso. O homem marciano estava sendo o agente responsável por promover a vida a um planeta que até algumas décadas atrás era inóspito. E graças a um planejamento correto, estava ocorrendo tudo o que havia sido mostrado nas simulações do homem virtual.
Os desbravadores confirmaram aquilo que era uma forte suposição no passado: Marte realmente possuía enormes jazidas de ferro. Em virtude disso, este metal passou a ser usado como matéria prima na fabricação, tanto das residências, quanto dos vários utensílios domésticos.
Uma preocupação que se teve desde o início da colonização foi a de não levar nada de Marte para a Terra. Os homens decidiram que todos os recursos do planeta explorado, deveriam permanecer lá mesmo e servir de usufruto apenas aos seus habitantes. Tratava-se de uma preocupação pertinente, pois se a humanidade agisse como uma espécie de predadora de mundos e levasse tudo o que encontrasse de recursos para a Terra, poderia levar o planeta azul ao colapso.
Além de ferro, havia outros metais em abundância no planeta, alguns, inclusive, que não se encontravam na Terra.
Todas as descobertas eram cuidadosamente catalogadas e enviadas imediatamente para o homem virtual. Ao mesmo tempo todas estas informações eram passadas para todos os humanos da Terra e do quarto planeta do sistema solar.
A vida estava se reproduzindo de forma espetacular naquele planeta. Aonde se ia era possível presenciar pequenos arbustos, árvores vistosas já frutificadas, pássaros alegres e seus filhotes voando livres, insetos polinizando as flores que já perfumavam o ambiente. Como era bonito presenciar este momento por que passava aquele planeta.
O homem ao se instalar em Marte ganhara uma oportunidade ímpar de construir um novo lar, onde poderia sanar todos os defeitos que já existira na Terra.
Durante toda a sua vida na Terra o homem enfrentou vários desafios para permanecer vivo: inúmeras doenças, problemas climáticos e, talvez o maior deles, o egoísmo humano. Este último quase pôs fim à sua existência.
Foi necessário passar por inúmeras desgraças para se conscientizar de que para se viver em harmonia com o mundo havia a necessidade de banir o egoísmo do seu coração.
Através dos estudos descobriu que as doenças não representavam somente o mal; elas eram de certa forma, um estímulo à sapiência humana. Quando surgiam estimulavam a busca de novas formas de profilaxia das mesmas.
Da mesma forma os problemas climáticos que foram ocasionados pela forma atabalhoada como a humanidade tratava o planeta antigamente, serviram para mostrar-lhe o caminho a ser seguido. O sofrimento foi grande, mas, enfim, foi assim que a mudança para melhor se fez.
Apesar de todo o progresso tecnológico e moral que o homem havia conquistado, tinha consciência que ainda não dava para dispensar as virtudes do homem virtual. As suas fraquezas no campo moral poderiam comprometer o bem-estar comum. Desta forma, havia um enorme trabalho pela frente.
Marte estava sendo “construído” para tornar-se um lugar para servir de modelo.


Foi descoberto um metal muito estranho, que fora batizado de “Gresmelinita”, no planeta vermelho. Tratava-se de um metal muito resistente à temperatura, bastante maleável e que apresentava uma excelente condutividade. Quando era fundido com o ferro, um fenômeno muito peculiar acontecia. Qualquer peça feita com esta liga, que recebeu o nome de “Marcinita”, quando sofria uma deformação causada por qualquer força, imediatamente voltava à forma anterior. Razão pela qual passou a ser utilizada na fabricação de modernos meios de transportes. Como a proporção de ferro era de apenas 0,001% na liga, e o metal Gresmelinita era muito leve, a liga resultante era ideal para tal fim.
Também foi descoberto um gás subterrâneo que, depois de pesquisado, descobriu-se que se fosse liberado para a atmosfera, contribuiria para acabar de vez com o problema da radiação solar; pois este gás, que fora batizado de “Isaiônio”, possuía a capacidade de bloquear os raios UV, tornando-os inofensivos aos seres vivos pouco resistentes. Além disso, conservava o calor, não permitindo que a temperatura caísse bruscamente.
Resolvidos estes grandes problemas com a descoberta e utilização do gás, foi possível introduzir outras espécies terrestres.




Capítulo VIII
As novas descobertas e a busca pelo progresso

Decorridos mais cinqüenta anos, Marte se tornara um modelo de boa gestão humana. O homem virtual marciano já era realidade e o planeta já estava quase que completamente explorado.
Procedimentos amplamente aceitos na Terra, não faziam sentido no planeta vermelho. Então foi necessário direcionar todo conhecimento humano nas mais variadas áreas, levando-se em consideração as condições gerais que o planeta apresentava.

As viagens entre a Terra e Marte tornaram-se cada vez mais corriqueiras. Sempre que havia alguma necessidade por parte de marcianos ou vice-versa, a ajuda recíproca ocorria.

Nesta época ocorreram muitos avanços na área da tecnologia de transportes e em outras dezenas de segmentos. Com a utilização da liga metálica Marcinita, a indústria pôde desenvolver veículos mais modernos, seguros e resistentes.
Os estudos em relação à tecnologia do teletransporte avançavam rapidamente. Descobriu-se que a Marcinita possuía uma característica que lhe era muito peculiar: enquanto outras ligas metálicas “perdiam” parte da energia que transportava sob a forma de calor, ela – ao contrário – transportava exatamente 100% da energia, sem nenhuma perda. Essa descoberta foi importantíssima, pois representava a maior dificuldade para a criação da tão sonhada máquina de teletransporte.
O teletransporte era um sonho muito desejado pela humanidade, mas que não se concretizava, porque o entrave da não conversão de 100% da matéria transportada inviabilizava o empreendimento. Com a tecnologia disponível só se conseguia resultados próximos, porém nunca com a exatidão necessária. Isto, evidentemente era um enorme problema, pois ao se cogitar converter a massa corporal de um homem, em energia codificada sob a forma de dados, esperava-se, na reconversão, um resultado exato; no entanto o êxito não ocorria. Uma fração ínfima se perdia sob a forma de calor devido à deficiência condutiva dos materiais utilizados.
A Marcinita veio para resolver este problema. Foram desenvolvidos vários protótipos de máquina de teletransporte. O princípio básico era muito bem conhecido da ciência: fazia uso de uma lei universal da física que sentencia que “uma forma de energia não pode ser destruída, apenas transformada”. Como toda matéria é, na verdade, um estado da energia, ela então pode ser transformada e depois voltar às suas características iniciais.
A máquina foi finalmente criada. No começo era necessário ter uma máquina no local onde a pessoa ou qualquer outra matéria fosse ser transportada; e outra no destino. O funcionamento dela era semelhante a uma comunicação via satélite. A matéria primeiramente era convertida em energia elétrica; depois em ondas de rádio. Do outro lado as ondas de rádio eram novamente convertidas em impulsos elétricos e finalmente na matéria original.
Quando se tratava de um ser vivo, era necessário sedá-lo, pois o processo gerava um incômodo até então inexplicável. Mas quando a pessoa transportada estava dormindo, nada sentia: era como se todo o processo não passasse de um sonho. Mais tarde, com os estudos mais aprimorados, descobriu-se que o incômodo era causado pela separação abrupta do corpo físico do corpo espiritual, assunto a ser abordado mais à frente.
Superado o primeiro desafio quanto à máquina de teletransporte, o ser humano deu um salto tecnológico estupendo.


A segunda geração da máquina de teletransporte foi uma solução brilhante que possibilitou incorporar, num mesmo aparelho, também o dispositivo de comunicação por pensamento. Tratava-se de uma diminuta cápsula que era implantada atrás da orelha. Quando o indivíduo queria ir para algum local, era só se deitar em algum lugar confortável, fixar o pensamento na localidade e esperar um pouco. O aparelho mandava um impulso elétrico para a área do cérebro responsável pelo sono. Uma vez que o indivíduo adormecia, seu espírito se afastava do corpo e dirigir-se-ia para o local desejado. O corpo físico, ligado ao espírito por um fio de energia, percorreria o mesmo caminho após transforma-se em ondas de rádio. Ao ligar-se no destino com o espírito novamente, estaria concluído o teletransporte que passou a chamar-se “Desdobramento da matéria”.













Capítulo IX
Intercâmbio com outra civilização

Com o êxito da colonização do planeta Marte, outra empreitada audaciosa era iniciada: tratava-se de buscar outros mundos que fossem semelhantes aos nossos planetas. A humanidade já tinha mapeados vários planetas com tais características, mas eles estavam situados em constelações muito distantes. Seria necessário desenvolver um meio muito veloz de transporte. Até então o mecanismo mais rápido era o teletransporte, mas mesmo com ele, esta viagem não seria possível, pois para se transportar um veículo seria preciso que outra máquina estivesse no destino da viagem, e isto ainda não era viável.
O homem já era capaz de desdobrar-se de um local para outro, mas somente para locais que conhecia.



Através de relatos de algumas pessoas – na verdade várias – que afirmavam terem visitado outros mundos habitados por criaturas semelhantes a nós, foram iniciados vários estudos para desvendar este mistério. Várias perguntas foram formuladas: haveria alguma verdade nestas experiências? Como seriam possíveis estas comunicações ocorrerem, se o planeta mais próximo que possuía características semelhantes às da Terra encontrava-se a alguns anos-luz daqui? E o mais intrigante: no desdobramento a matéria viajava justamente na velocidade da luz; se tal indivíduo almejasse visitar um planeta tão distante, teria que conhecê-lo primeiramente, para depois dirigir-se até ele. Mas como era uma viagem muito longa, mesmo em velocidade tão alta, não seria possível porque ninguém agüentaria permanecer vivo durante tanto tempo sem alimentar-se. Mas como algumas pessoas afirmavam que viajaram até lá, dando inclusive, detalhes incríveis dos lugares e de seus habitantes? É o que veremos a seguir.


Os estudos revelaram o que já se suspeitava há muito tempo: havia sim uma velocidade muito maior que a velocidade da luz: era a velocidade do espírito. A velocidade da luz era, até então o parâmetro de maior velocidade existente. Com esta descoberta, outras se sucederam e todas baseadas nela.
A velocidade da luz estava intimamente ligada à matéria física, palpável; enquanto que a velocidade do pensamento ou espiritual estava atrelada ao mundo dos espíritos. Fez-se necessário então organizar uma força tarefa mundial para estudar profundamente esta nova realidade, pois a Física, baseada nas teorias existentes, não conseguiam desvendá-la.


Todas as pessoas que, comprovadamente, afirmavam categoricamente terem visitado mundos distantes foram objetos de estudos exaustivos. Alguns anos se passaram e, finalmente os cientistas, liderados pelos homens virtuais, chegaram aos primeiros resultados.
Tais indivíduos possuíam uma faculdade rara entre os demais humanos: conseguiam desdobrar-se sem a ajuda do aparelho de teletransporte. Possuíam o dom do desdobramento espiritual naturalmente; e com o auxílio desta faculdade, conseguiam romper a velocidade mais alta conhecida da humanidade – a da luz.


Um novo ramo da ciência se inicia justamente para estudar este fenômeno. Viajar através do pensamento já era uma realidade, mais ir mais longe era privilégio de apenas alguns indivíduos. O grande desafio era desenvolver um mecanismo que permitisse levar, não só uma pessoa, mas também outro tipo de matéria, como um veículo, por exemplo.
Paralelamente ao estudo do desdobramento, foram pesquisados também os casos de desmaterialização e materialização que ocorriam de forma natural. Algumas pessoas possuíam o dom de tais fenômenos. Os homens virtuais perceberam que estes fenômenos poderiam resolver o problema das longas viagens.


Longos anos se passaram e as pesquisas finalmente chegaram aos primeiros resultados expressivos. Eles demonstraram que aquelas pessoas que conseguiam desdobrar-se sem o auxílio de mecanismos artificiais eram, (assim como aqueles que possuíam outros dons) na verdade, missionários de outros mundos onde este “poder” era comum a todos os seus habitantes. Como possuidores de tais faculdades, estes indivíduos tinham como missão auxiliar os demais fazendo bom uso do dom que receberam de Deus.
Estes seres eram criaturas de mundos distantes que já haviam passado pelo mesmo processo de evolução da Terra. Agora estavam entre nós para auxiliar-nos no processo de aprimoramento constante. É importante salientar que, a bem da verdade eles sempre estiveram entre nós. Para percebermos tal afirmação basta olharmos para o passado da humanidade e relembrarmos os grandes nomes da ciência e de outras áreas importantíssimas que habitaram o planeta, prestando grandes contribuições para o progresso da humanidade. Antigamente a nossa civilização não percebera tal realidade porque não possuía ainda as condições necessárias para “enxergá-la”.
Depois da elucidação deste grande mistério, a humanidade da Terra já sabia o que tinha que fazer para um dia habitar estes mundos distantes: evoluir.


O planeta mais próximo habitado por tipos humanos semelhantes a nós encontrava-se a pouco mais de quatro anos-luz da Terra. Era um planeta de tamanho próximo ao da Terra; sua atmosfera também era quase igual à nossa; diferenciava-se apenas na porcentagem maior de oxigênio; as outras características eram parecidas. Possuía mais área verde que a do nosso planeta e uma proporção de massa líquida que chegava aos 80%; não havia porções desérticas ou semi-áridas – com exceção apenas para as regiões geladas dos pólos que, assim como no nosso planeta natal, localizam-se nas extremidades norte e sul sucessivamente.
Sua geologia era bem diferente da Terra. Seu núcleo era composto de um metal inexistente nos nossos planetas: tratava-se do “Willienésio”. Devido à presença deste metal, o lugar possuía uma proteção natural que consistia, na verdade, de um verdadeiro campo magnético que o envolvia, protegendo-o de qualquer agressão externa como, queda de meteoros ou qualquer outra ameaça. Este metal era muito leve e altamente resistente às temperaturas altas. Logo após o núcleo vinha uma camada de “Camonionita”, uma rocha muito resistente ao calor e, quando em estado sólido, flutuava na água; devido a esta característica era utilizada para construção de embarcações. A camada superficial era composta por uma fina camada de argila e rochas dos mais variados tipos.
Tais características geológicas conferiam ao planeta VivaBach, muita leveza e nenhum problema de acidentes sísmicos ou vulcânicos. Fenômenos comuns na Terra como, tempestades violentas, terremotos, maremotos e tantos outros grandes problemas terráqueos, não aconteciam por lá.
Seus oceanos eram calmos e cristalinos. Neles habitavam uma infinidade de criaturas que conviviam em harmonia com o meio ambiente. Além dos homens que habitavam a porção seca do planeta, havia também uma outra espécie inteligente que habitava os mares daquele planeta; e ambas as espécies viviam em perfeita sintonia, ajudando-se mutuamente.
As florestas de VivaBach eram exuberantes. Nelas as árvores gigantescas conviviam harmoniosamente com espécimes menores; as variedades frutíferas produziam alimentos tanto para os homens quanto para as outras criaturas que habitavam aquele mundo equilibrado; os perfumes exalados pelas flores das plantas faziam qualquer criatura viva sonhar os mais belos sonhos.

Uma característica interessante que era comum a todos os habitantes de VivaBach era o fato de que não existia animais que se alimentavam de outros animais. Tanto os homens, quanto as outras criaturas restantes, alimentavam-se de frutas e vegetais em seu estado natural. Portanto não se encontrava na natureza criaturas predadoras; uma realidade ainda muito distante de ocorrer em nossos dois planetas. O que houve naquele mundo foi uma evolução lenta e gradual, às quais tornou possível a todos os seus habitantes chegarem a tal estágio de desenvolvimento. Os organismos das criaturas de VivaBach não necessitavam de proteína animal; ao contrário dos organismos de boa parte das espécies terráqueas.
Vale a pena ressaltar também que algumas espécies de animais conseguiam alimentar-se da energia solar, assim como as plantas.


Os vivabachianos agora se comunicavam com os terráqueos com bastante freqüência, auxiliando-os nos mais variados ramos da ciência, pois entenderam que a humanidade do planeta azul e do vermelho havia chegado ao estágio de desenvolvimento adequado para que tal fato acontecesse. Eles ficaram muito felizes com o trabalho dos homens em Marte; salientaram que, em uma época muito distante eles tentaram fazer algo parecido, mas fracassaram. Deixaram bem claro que, desde o início da ocupação humana no planeta vermelho, estavam participando indiretamente do árduo trabalho. Para que esta ajuda fosse possível, se comunicavam com seus conterrâneos infiltrados entre nós; demonstravam assim, um enorme amor aos humanos, que representavam, de certa forma, o passado deles.
Com este intercâmbio os humanos puderam avançar cada vez mais e também passaram a auxiliar outros mundos que também eram habitados por criaturas semelhantes a nós, mas se encontravam em estágios de desenvolvimento bem inferiores ao nosso.
Era chegado o momento de fazer uma separação na sociedade humana: aquelas pessoas que já estavam sintonizadas com a atual etapa de desenvolvimento dos nossos dois planetas ficariam aqui dando a sua parcela de contribuição permanente; os outros que não possuíam este perfil, seguiriam o seu destino evolutivo num mundo adequado ao seu estágio.

Capítulo X
Novas tarefas

O processo evolutivo é uma trajetória sem fim; é possível evoluir mais rápido dependendo do caminho que se percorre; ou permanecer estacionado; regredir não é possível.
Durante muito tempo os homens, nos mais variados estágios de desenvolvimento, conviveram juntos e em desarmonia, aprendendo duras lições necessárias ao aprimoramento moral, tanto daqueles mais evoluídos neste aspecto quanto aos outros nem tanto assim. Enquanto alguns tinham, por exemplo, que aprender sobre a importância da honestidade, outros já haviam conquistado este quesito moral. A convivência tão heterogênea na Terra servia para que aqueles mais atrasados aprendessem com os mais adiantados; estes, por sua vez, também aprendiam com os mais errados, tendo-os como exemplo a não ser seguido.



Finalmente chegara a hora de fazer a separação para transformar, tanto a Terra, quanto o planeta vermelho em um lugar mais harmonioso. Os homens destes dois planetas receberam instruções para darem início à nova empreitada.
Milhares de trabalhadores com o perfil adequado foram recrutados para aprenderem uma lição muito importante: seriam co-criadores de novos seres humanos em outros mundos. Aqueles indivíduos menos evoluídos receberiam uma nova oportunidade nestes novos mundos.
Uma vez que um indivíduo renascesse novamente em um mundo mais atrasado que o seu de origem iria contribuir, em muito, para o progresso do mesmo. Estaria em relação a este mundo em particular, um pouco mais à frente na linha evolutiva. Uma aparente punição era, na verdade, uma outra chance para o indivíduo redimir-se.


Capítulo XI
A Terra em transformação

A sociedade humana estava se tornando cada vez mais igualitária. As pessoas que não compreendiam as diretrizes da nova sociedade recebiam outra oportunidade em colônias de recuperação. Lá teriam que trabalhar para o sustento próprio e também para o equilíbrio de toda a colônia. Para que isso fosse possível, eram disponibilizados todos os recursos necessários: solo, ferramentas e as informações importantes para que o empreendimento resultasse em êxito.
Muitas pessoas conseguiram se recuperar e eram incentivadas a promoverem o auxílio às outras pessoas que enfrentavam o mesmo problema em outros cantos do mundo. Outras se entregavam ao desânimo e à anarquia, causando, com isso sérios danos em seu processo evolutivo individual. Essa forma de enfrentar este problema foi aos poucos, promovendo uma seleção na sociedade humana, tornando-a mais fraterna. O indivíduo que não conseguia se adequar à nova ordem mundial, era mandado para as colônias de recuperação e, após sua partida definitiva da Terra, nasceria em um planeta adequado ao seu perfil. Assunto a ser abordado em outra oportunidade.



Capítulo XII
Novo dia, o despertar...

Após uma noite turbulenta de intenso sonho despertei para a realidade. Mas tudo que vi e vivi em sonho parecia tão real, tão verdadeiro, que decidi, naquele momento, tomar um novo rumo na minha vida. No café da manhã comentei sobre o sonho com minha esposa e esforcei-me para não deixar nenhum detalhe de fora da explicação. Externei a ela as minhas decisões; primeiramente de publicar um livro e depois, iniciar um projeto de uma Ong cujo trabalho seria voltado à conscientização das pessoas – sobretudo das crianças. “Eu acho que você tem que rezar antes de dormir”. Este comentário, por parte dela, me encorajou muito mais, pois sempre foi meu costume rezar antes de dormir.
Iniciei a seguir mais um dia de trabalho. No trânsito meus olhos fotografavam imagens que me traziam à mente o sonho da noite anterior. Carros poluidores, buzinas e mau-humor; bitucas, gomas mastigadas e embalagens usadas sendo lançadas pelos motoristas; crianças e adultos mendigando nas ruas; rios de merda percorrendo canais sem vida. Fiquei ao mesmo tempo revoltado e descrente em relação a um futuro promissor da nossa espécie.











Capítulo XIII
O homem orientado por objetos
A humanidade chegou até esta fase nada agradável de crescimento desordenado devido às escolhas erradas que fez. É imprescindível que haja um engajamento mundial, no sentido de se adotar bons modelos; e, também, que descartemos aqueles que, comprovadamente são nocivos ao futuro do planeta.
O ser humano, quando nasce, é um ser vazio; com o passar dos anos, vai aprendendo como viver neste planeta. Da mesma forma ocorre com outras espécies da Terra. O grande problema deste paradigma está na formação precária da maioria das pessoas – a começar dos nossos líderes. A criança cresce e logo aprende que para se “conseguir a paz” o homem busca a guerra; que a fartura de uma nação se constrói em detrimento da degradação de outros povos; que o modo de viver baseado na cultura do descartável é garantido por conta da deterioração do planeta.
Acho que chegou a hora de mudarmos esta realidade, adotando para isso, modelos que já existem na Terra há milhares de anos. Um belo exemplo é uma colméia de abelhas; nela cada indivíduo possui uma função: os zangões fecundam a abelha rainha; ela põe os ovos que darão origem a todos os indivíduos da colméia – inclusive da sua substituta no futuro. As abelhas operárias alimentam as larvas, colhem o néctar, fabricam o mel e protegem a comunidade. É, sem dúvida, uma relação perfeita com a natureza. As abelhas retiram somente o que precisam do meio onde vivem. Neste sentido acho que elas servem como paradigma para a humanidade.
Se o homem fosse orientado por excelentes parâmetros desde a mais tenra idade e houvesse, sobretudo, um esforço concentrado para que isso fosse possível, creio que nossa realidade seria bem diferente. Por exemplo, se um indivíduo aprendesse desde cedo a respeitar a natureza, mas não somente ele, todas as pessoas – não existiria tanta desgraça ambiental e, em última análise, este modelo de desenvolvimento baseado no petróleo jamais seria adotado pela humanidade, pois seria interpretado como um meio energético inviável com o futuro do planeta.
Esta cultura nefasta do descartável não seria nem discutida, se o homem nascesse num ambiente onde seus semelhantes respeitassem a natureza igual o fazem as abelhas, por exemplo.


Para concluir este trabalho, proponho que o homem se esforce no sentido de “reprogramar-se”. Acho que cada pessoa precisa mergulhar dentro de si própria e começar o árduo trabalho de consertar os erros de “seu programa”. Para ilustrar este parágrafo, mostrar-lhes-ei algumas péssimas atitudes que, às vezes tomamos:
“Quando eu terminar de tomar a água deste coco vou jogá-lo pela janela deste ônibus”;
“Vou jogar este lixo aqui mesmo, ninguém está vendo...”;
“Vou trapacear este otário”; estas são apenas algumas das más atitudes que boa parte de nós nos pegamos constantemente fazendo. Torna-se necessário uma reforma íntima, uma mudança de paradigma. Cada um deve entrar no seu código-fonte e deletar os comandos errados; deve substituí-los por outros. Mas isso é possível? Se for, como pode ser feito?

Grandes homens já passaram por aqui e deixaram importantes contribuições a toda a raça humana; um deles foi Jesus. Acho que não preciso mostrar aqui o valor de sua obra; mas afirmo, com toda certeza que o conjunto dos seus ensinamentos serve como paradigma moral. Da mesma forma, acredito que o modo de viver em harmonia com a natureza, como fazem boa parte dos animais da Terra, serve como modelo para nós humanos.
O trabalho de “reprogramação” deve ser constante; cada um sabe das suas virtudes e das suas fraquezas; é bem verdade que estamos mais habituados a enfatizar somente nossas virtudes e neste sentido, nos escondemos por detrás do nosso orgulho.
Camões há alguns séculos escreveu, em “o desconcerto do mundo”:

“Os bons vi sempre passar
No mundo graves tormentos
E para mais me assustar
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos

Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado
Fui mau, mas fui castigado
Assim que só para mim
Anda o mundo concertado”

O grande poeta lusitano, se vivo hoje fosse, talvez escrevesse os mesmos versos, pois a grande orquestra planetária ainda continua “desconcertada”. Cabe a todos nós “concertá-la”.
Biografia resumida do autor

Isaías Rodrigues de Oliveira nasceu na cidade de São Paulo, no dia 14/05/1972. Mora na Vila Guiomar, extremo sul da zona sul, desde seus dois anos de idade. Ganha a vida como microempresário no ramo flexográfico. É praticante de capoeira, tendo ensinado a arte-luta brasileira por três anos, como voluntário, na escola Profº. Samuel Morse, no Jd. Capela, onde cursou o ensino fundamental.
Atualmente está no segundo ano do curso de Análise de Sistemas, na UNIBAN – CL.
Este é seu primeiro trabalho, tendo sido inteiramente produzido em sua microempresa.