quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

O mistério das muletas abandonadas do Tietê

O mistério das muletas abandonadas do Terminal Tietê



Apenas mais um dia de trabalho como outro qualquer para aquele funcionário responsável pela seção de achados e perdidos no Terminal Tietê. “Mais um par de muletas... Eu não consigo entender como alguém pode esquecer um par de muletas!” Naquela entulhada sala, entre os milhares de objetos deixados, havia um espaço dedicado somente para as muletas. Era um mistério que ninguém conseguia desvendar.
Mas voltemos àquele par de muletas do início para se saber quem havia deixado ele lá no terminal.
Severino, com muito custo, conseguira chegar à plataforma de embarque com uma hora de antecedência. Não sem antes passar pelo transtorno no corredor norte-sul – uma rotina insalubre para quem mora na maior cidade do país. “Obrigado Roberval, não se preocupe comigo que daqui em diante eu me viro sozinho”. Agradeceu ao amigo e ficou aguardando pacientemente o horário de embarque. Sentou-se numa cadeira e alguns minutos depois estava dormindo. Não percebeu quando aquele homem se aproximou. O estranho então puxa conversa: “Que agitação hein!” “Aqui é sempre assim no final de ano, todo mundo viajando para ver a família...”
O estranho disse a Severino que ali estava em uma missão especial. “Na verdade eu estou aqui para lhe dar um presente... “Como assim?” – interrompeu-o Severino. “Você não vai mais precisar dessas muletas ai... “Como assim?” – berrou Severino, agora incrédulo. O estranho apenas olhou nos olhos arregalados de Severino e abriu um sorriso. “Não fica assustado não meu filho, há coisas nessa vida que não tem explicação, que simplesmente acontecem; alguns chamam isso de milagre, de obra divina, e tantas outras designações, mas o que lhe ofereço é algo que lhe é de direito; é de seu merecimento. Eu estou muito feliz por ter sido o escolhido para lhe trazer este presente. Você é uma pessoa especial e já aprendeu o que tinha que aprender com a sua condição, agora enfrentará uma nova etapa que, desde já eu lhe alerto, vai ser mais difícil.”
Severino não se conteve e começou a chorar. Sentiu um sei quê de bondade nos olhos de anjo daquele homem.


Severino desperta de repente e leva um susto quando olha para o relógio. “Meu Deus, faltam apenas dez minutos para o embarque!” Levantou-se rapidamente e esbarrou-se naquele par de muletas. “Mas que estranho! Quem será que deixou isso aqui?” – pensou. “Bom, vou entregar para algum guarda”, concluiu.
E assim terminava mais uma missão para aquele estranho que contribuía para tornar o espaço da seção de achados e perdidos, destinado para as muletas, cada vez mais entulhado.
Dona Severina – mãe de Severino, ao ver o filho chegar, ajoelhou-se no chão e pôs-se a chorar. “Valei-me minha nossa senhora! Milagre!” Desmaiou.



Fim – Isaías Gresmés 31/12/2008

Um comentário:

  1. Muito interessante o teu conto"O MILAGRE DAS MULETAS ABANDONADAS DO TIETÊ". Creio que a maioria das pessoas em nossos dias, de alguma maneira, vive a carência de um milagre em sua vida. Existe aqueles que não acreditam em milagres, achando que tudo acontece por obra do acaso, há, entretanto, aqueles que acreditam e vivem um milagre constante em suas vidas. Na verdade, acreditando ou não, milagre sempre existiu e sempre vai existir!

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