sábado, 27 de março de 2010

O que dizer

O que dizer

O que dizer da vaidade
Senão que ela se vai com a idade

O que dizer da ambição
Senão que ela é coisa do cão

O que dizer da verdade infinda
Senão que ela não existe ainda

O que dizer da felicidade
Senão que ela deixa uma saudade

Isaías Gresmés 27/03/2010

sexta-feira, 19 de março de 2010

OPUS VITAE

OPUS VITAE

Eu e a poesia vivemos entre o céu e o inferno
Quando no céu, meus versos são ternos, feito riso de bebê
Quando no inferno, meus versos são rudes, feito escarro de bebum

Minha poesia brota dos meus dedos
Os mesmos dedos que acaricia no ato do amor
E que, em outros momentos, executam as minhas tragédias pessoais:
Parte da minha poesia deve permanecer obscura

Pois

Minha poesia eu sou
Com a difícil tarefa de tornar-se carne a cada novo dia


ISAÍAS RODRIGUES DE OLIVEIRA 19/03/2010

terça-feira, 9 de março de 2010

Sussurros de um futuro bom

Sussurros para o futuro bom

Agasalhei, em meu colo, a melhor parte de mim
E beijei-lhe a face com toda ternura
Prometi-lhe, em pensamento, a mais linda aventura
Que é a alegria de a vida viver

Ela nada disse, apenas espreguiçou

Continuei a dizer-lhe palavras de amor
E afaguei seus cabelos com dedos de algodão

Ela, por instantes, me olhou e sorriu
E dormiu confiante num futuro bom

Isaías Gresmés 09/02/2010

sexta-feira, 5 de março de 2010

A SORTE POR UM TRIZ

A SORTE POR UM TRIZ

-Você tem que começar a me ajudar! Veja se eu não tenho razão: quase trezentos reais, só da loja de roupas! Assim não dá porra!
-E você quer que eu ande por ai que nem uma mendiga? É isso o que você quer? – Quando você me tirou da casa dos meus pais, me prometeu o mundo e o fundo, agora fica reclamando? Pois pode parar de reclamar e trate de me valorizar viu, meu nego! Eu não sou sua escrava não viu!
-Para de falar Maria, que eu já estou ficando doido! Puta que pariu! Você fala pra caralho! – Vou trabalhar, pois já não estou aguentando sua ladainha!
-Vai seu ingrato! Neste momento Maria começa a chorar. – Você um dia vai se arrepender de todas essas ofensas que me faz! – Vou ligar pra mamãe!
-É hoje! É hoje!
E assim terminava mais uma discussão entre aquele casal; discussão, aliás, que já estava virando rotina. A renda do casal se resumia no que João ganhava como policial e nos “bicos” que ele fazia para complementar a renda, pois seu salário era bem parco.
João coloca seu cinturão, checa sua pistola, olha para a mulher com cara de poucos amigos e sai para o trabalho.
“Ô vida desgraçada! – trabalho feito um escravo para sustentar esta miserável e ela ainda não reconhece... Que merda! Vou ter que passar na lotérica para pagar esta maldita fatura... ainda bem que tá perto...”
João seguia seu rumo em direção à lotérica, amarrado em pensamentos nada animadores.
Chegando ao estabelecimento, ele fez uso da sua autoridade e passou na frente de todos.
- Eu quero parcelar esta fatura em três vezes – ordenou ele à moça do caixa.
- Vai levar um bolão hoje, seu João? – aproveita o troco e leva, ofereceu a moça, sorrindo.
-Tudo bem, responde João, irritado com a demora da moça.
João pega a fatura paga e coloca no bolso; dobra o jogo do bolão e segura em uma das mãos.
Na saída da lotérica, para em uma banca de churros e compra um. Sai mordendo o meloso doce... Após tê-lo devorado, restou-lhe apenas o papel na mão. “Que droga! – não tem sequer uma lata de lixo nesta porcaria de cidade!” Fez uma bolinha com o papel e passou-a para a mesma mão onde segurava o jogo do bolão da Mega-Sena. Continuou na caminhada. Mais à frente, na calçada, avistou um monte de lixo; decidiu jogar a bolinha de papel ali mesmo. Ao dispensar a bolinha de papel, o jogo foi junto. Um senhor, que aparentava ter por volta de quarenta anos, pegou os dois papéis e em seguida gritou:
-Ei policial! – que coisa feia! – uma autoridade, que deveria dar exemplos à sociedade, joga lixo na rua, assim, em plena luz do dia! – o senhor não tem vergonha na cara não?
-Ora, mas quem é você, seu filho da puta! – com quem você pensa que está falando hein?!
-Eu sou um cidadão, cumpridor dos meus deveres e não admito que uma pessoa, que deveria zelar pela ordem pública, dê um tremendo mau exemplo, como foi esse que acabo de presenciar!
-Ah é! – você não admite!? – então toma desgraçado!
João desfere dois tiros à queima roupa naquele homem. Por coincidência, passava uma viatura naquele momento ali. Os policiais desceram do carro e se dirigiram ao João em busca de uma explicação.
-O que aconteceu companheiro? – disse um deles.
-Esse... – esse indivíduo tentou fazer uma “saidinha” aqui na lotérica... Mentiu João, tentando imprimir confiança no absurdo que acabara de dizer.
-... Ele agarrou a bolsa de uma senhora... Neste momento eu cheguei e o abordei... Foi quanto ele esboçou uma reação de pegar uma arma... Então saquei a minha e o alvejei.
- Calma amigo! – Fica calmo, que já passou!
As pessoas começaram a se aglomerar em torno do local. Alguns, inconformados, iniciaram um coro: “Assassino!” Os policiais sacaram as armas e afastaram os mais exaltados.
Um jovem, beirando uns quinze anos, fura toda aquela confusão e grita mais forte que todos:
-Meu Deus! – é o meu pai! – O que fizeram com o senhor, meu pai! O adolescente se agarrou no pai que agonizava no chão, chorando de uma forma que comoveu quase todos que ali estavam.
-Quem fez isso com o senhor! – Por quê!?
O homem, na agonia da morte iminente, balbuciou:
-Meu filho, toma... joga isso no lixo... da maneira como eu te ensinei. O rapaz pega a bolinha de papel e o jogo e, em seguida, enfia-os no bolso. Olha para o pai e grita:
-Não morra pai!
Mas não havia mais nada o que se fazer para salvar aquele pobre senhor.
– Meu pai morreu! – Quem matou meu pai? Ao terminar de proferir esta última frase, perdeu os sentidos.


Dois dias após o ocorrido, João se dirigiu para os fundos da sua casa. Lá pegou uma folha de papel e escreveu sua última redação: “Minha querida esposa, não tenho mais vontade de viver. Devido ao meu temperamento explosivo, pus fim à vida de um inocente e, por consequência, desestruturei completamente uma família. Fui um covarde e manchei a honra de um homem correto. Ele foi assassinado por mim e eu, não tendo coragem de assumir a culpa, acabei por construir uma farsa; farsa esta que não está me deixando viver mais.
Quero dizer que te amo e que sempre te amarei. Foi uma pena que não tivemos nenhum filho... Se isso me deixa triste, por outro lado me deixa mais aliviado para a decisão que tomo de por um fim à minha vida. Fica com Deus minha querida.
Como último pedido, peço-lhe que vá até o distrito policial onde foi registrada esta ocorrência e divulgue ao delegado a verdade do fato.”

Maria acorda com o estampido. Ainda zonza, sai correndo para os fundos da casa.
-Não! – O que você fez amor! – o que você fez?
Maria ajoelha-se ao lado do marido morto, chorando compulsivamente. Pega a folha de papel da mão dele e inicia a leitura do seu conteúdo.
Ao final da leitura, olha para o marido estirado no chão, segura uma das mãos dele e, com ela, faz um carinho na própria barriga. “Seu tolo! – nosso bebê está aqui!”
Naquele mesmo dia, em outro canto da cidade, dona Gresmelina, mulher do senhor assassinado, retoma a dura rotina de dona de casa, mas agora com um pouco mais de dificuldades, pois ficara viúva, com quatro filhos para criar e ainda tentava engolir aquela injustiça que fizeram com seu marido. “Meu marido não é e nunca foi ladrão não senhor!” Ainda se lembrava do apresentador de TV, sensacionalista, que passou um programa inteiro chamando seu marido de “safado”, “pilantra”, “vagabundo”, “trombadão” e tantos outros termos nada agradáveis.
A triste senhora pega o cesto de roupas sujas. Começa então um ritual que toda dona de casa realiza nessa hora: revista, peça por peça, seus bolsos, em busca de algo esquecido ali. Assim ela acha a bolinha de papel e o bilhete do bolão. Como ela não sabia ler, chamou o filho:
- José! – que papel é esse meu filho, que eu achei no bolso da sua calça?
O rapaz vem até a mãe e diz:
- Recebi este papel e uma bolinha, também de papel, da mão do pai antes dele morrer... Fez uma breve pausa e continuou. – Ele me falou “Joga no lixo filho, como eu lhe ensinei...”
– Assim que ele me entregou, deu o último suspiro e se foi.
- E foi meu filho! – Mas que miséria de papel é esse?
- Dá aqui mãe, deixa eu ver...
-É um bolão da Mega-Sena. José olha para o calendário na parede e comprova que é quinta-feira.
- Mãe, deixa eu ir à lotérica para conferir este jogo?
- Não! – De jeito nenhum! – Espera um pouco que eu vou com você! - Nem você nem seus irmãos – enquanto vida eu tiver – voltarão lá sozinhos!

Duas horas depois, mãe e filho se aproximam da lotérica. De longe um imenso cartaz chamou a atenção do rapaz. “Aqui saiu o bolão premiado do maior concurso da história da Mega-Sena: R$ 180 milhões! – 10 felizardos estão milhonários...” José cutuca a mãe e pede o bilhete:
-Vai logo mãe! – passa logo o bilhete!
Abaixo do anúncio do prêmio, em destaque, aparecia a sequência premiada: 1-2-5-10-34 e 45.
-Meu Deus mãe! – estamos ricos!

Isaías Gresmés 05/03/2010 - FIM

quarta-feira, 3 de março de 2010

AS POSSÍVEIS LIÇÕES DE UM SONHO

AS POSSÍVEIS LIÇÕES DE UM SONHO.

Quando abri meus olhos, sem entender por que, me vi naquele horrível local. Era um pequeno espaço, com pouca luz e horrivelmente sujo. Também não sei a razão, de repente me deu uma vontade imensa de evacuar; neste momento percebi que estava apenas com uma camiseta e uma cueca. Percorri com o olhar, todo o recinto à procura de um banheiro; vi, num canto do recinto pestilento, algo que parecia uma latrina. Dirigi-me até ela. Não gostei da aparência dela, pois estava repleta de fezes, vermes e urina velha. O odor que dali exalava deixou-me nauseabundo. O pior foi quando olhei para os meus pés (eu estava descalço!): percebi horrorizado que pisava em fezes de ratazanas e também em fezes humanas. “Deus! Que lugar maldito é esse?” – pensei inconformado.
Após ter me aliviado naquela tétrica latrina, constatei consternado que havia uma descarga e, pasmem! – havia água! “Mas por que essa imundície toda?” – mais uma vez perguntei para o além.
Olhei mais uma vez para os quatro cantos daquele espaço imundo e, só então pude comprovar que não me encontrava sozinho. Num canto, sentado numa lata, encontrava-se um homem. Seu semblante me dizia que ele teria por volta de quarenta anos. Era possuidor de uma vasta cabeleira castanha clara, uma barba densa de igual cor; usava óculos e estava bem vestido. Percebi que ele gesticulava com veemência enquanto falava com um olhar perdido... Senti que ele não notava minha presença.
Aproximei-me dele a fim de escutar o que ele falava. Pude notar, pelas suas queixas, que ele estava muito zangado com toda aquela sujeira.
“Mas isso é uma pocilga! – por que ninguém limpa este lugar? – onde está o responsável por este lugar? – vocês sabem quem sou eu? – quando eu sair daqui vou chamar a vigilância sanitária e mandar lacrar este local desprezível!”
“Nossa, este homem está uma fera!”. “Acho que ele é uma figura importante, pois nem deu trela à vassoura e ao material de limpeza que se encontra bem ao seu lado!”
Logo ao lado do homem alterado encontrava-se uma mulher deitada. Quando cheguei perto dela, levei um susto: ela estava olhando para mim; mas não foi isso que me assustou, foi a sua aparência; na cabeça daquela mulher pude contar dois imensos chifres! Sim, chifres! Ela não dizia coisa inteligível, de forma que eu nada entendi do seu balbuciar; pareceu-me que ela encontrava-se sob efeitos alucinógenos...
Desviei meu olhar, em busca de melhores imagens, mas só vi vultos e nada mais. “Meu Deus, será que eu estou no inferno?” Mais uma vez ninguém me respondeu.
Sem mais pensar em nada, corri de encontro à porta e, quando consegui abri-la, acordei daquele pesadelo nojento.

Após o café da manhã comecei a debulhar aquele sonho, para tentar entendê-lo. Por que aquele local era sujo, sendo que havia água, vassoura, material de limpeza e pessoas lá? O que um homem, aparentemente intelectual, estaria fazendo naquele local? Seria para me ensinar que a água, a vassoura e o material de limpeza, sozinhos, não fazem nada? Mas, isso não é óbvio demais? E o intelectual, o que ele queria me dizer? Será que é para me alertar que falácias não movem vassouras? E a mulher chifruda e drogada, o que queria me dizer? Seria para me mostrar como é feio ser olhado e não ser enxergado? Seria tudo isso?

Rezei um Pai Nosso em pensamento e voltei a dormir. - FIM


ISAÍAS RODRIGUES DE OLIVEIRA – 03-03-2010

Vou escrever palhaçadas

Vou escrever palhaçadas

Vou escrever palalhadas
Descargas da minha mente
Que o coração não sente
Embora sejam rimadas

Vou gorfar titicas
Que a razão não aprovou
Mas que o mal gosto arrotou
Postado aqui fica

Vou adubar o terra
Com essa merda de verso
"Air bus" sem reverso
Guerreiro sem guerra

Vou ser inconveniente
Porque estou alterado
Por isso perdoem-me esse enfado
De alguém inconseqüente

Até merda tem sua serventia
Processada, alimenta os vegetais
É caviar para alguns animais
Até bosta tem sua magia...

Isaías Gresmés 18/07/2008