domingo, 31 de agosto de 2008

A voz de Deus em melodias

Raiou o dia,
E os passarinhos iniciam
Uma doce melodia,
Repleta de harmonia,
Em belo arranjo musical.

O sabiá no embuzeiro
Faz um dueto maneiro
Com o estranho urutau.

As pequenas andorinhas,
Com um perfeito bailado
Buscam os cupins alados,
O alimento preferido
Enquanto isso as maritacas
Iniciam algazarras,
Em verdadeiro alarido;
A singela corroíra
Faz seu ninho no telhado,
E constrói um lar amado
Pra criar a sua cria.

Todo dia é assim:
Fica aqui, eu escutando
A voz de Deus se propagando
Nos confins da minha terra.

Contente e feliz
Decido então cantar.
E sinto que a voz de Deus
Ajudo a propagar.
Assim faço a minha parte
Externando a alegria,
Que em mim o Pai plantou,
Logo ao nascer do dia
Aqui, neste canto preservado,
O meu lar idolatrado:
A minha terra querida.

Eu amo os passarinhos;
Essas beldades aladas
Que trazem no coração
O cantar com paixão:
A voz de Deus em melodias


Isaías Gresmés 31/08/2008

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Minha bela flor

Minha linda flor
Singela, tão bela:
Seus olhos são duas sementes
De amor.
Quando eu te vejo
Sorrindo,
Meu peito, feliz,
Zabumba
Com todo fervor.

Pequena criança
De rosto tão belo,
Seu jeito singelo
É apaixonante.
Você é uma joia,
De gema brilhante,
É um diamante
De brilho eterno;

Sua voz é música,
De linda harmonia,
Que traz alegria
Aos meus ouvidos.
Sua fala errada,
Meio atropelada,
Me faz dar risada
Das suas frases
Sem nenhum sentido.

Bela flor, linda criança,
Você, minha princesinha,
Simboliza a esperança
De um futuro lindo,
Pois você é uma joia
E seu destino é brilhar.
E eu, enquanto vida tiver,
Já sei que a minha sina
E te amar menina,
Até quando Deus deixar.

Isaías Gresmés 29/08/2008

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Um berimbau na minha vida

Fui buscar no matagal
Uma madeira perfeita,
Bem formosa, bem direita
Pra fazer meu berimbau.

Não! Não pode ser bambu!
Nem peroba ou aroeira;
Jatobá ou castanheira;
Mas serve o guatambu.

Achei a verga ideal.
Agora é só esperar
Ela naturalmente secar,
Pra então levar um grau.

Faz-se necessário lixar
Com toda delicadeza,
Pra tirar a aspereza
E ela, lisinha ficar.

O courinho vai na ponta,
Fixado com tachinha,
Com espessura bem fininha
E com uma forma redonda.

O arame eu vou tirar
Do pneu com a turquesa,
Sem força, só com destreza;
Sem pressa, bem devagar

É dele que sai o som.
Por isso eu vou lixá-lo
Para, com isso, limpá-lo
E torná-lo, assim, bom.

Quem escolhe a cabaça
É a verga, não sou eu.
Não importa o gosto meu:
Até parece pirraça

Amarrei no arame o cordão,
Para um som, enfim, tirar.
Se ele grave soar
É um gunga muito bom.


Mas se o som não for assim
Muito grave, meu irmão:
É um médio ele então;
Esse será o seu fim.

Entretanto, se o som soar
Com um timbre bem agudo,
Pode se esquecer de tudo:
É viola – de improvisar.

Está pronto meu berimbau,
Que é parte da minha vida;
E voz da gente sofrida
Que penou levando pau.

Mas que viu aqui nascer
Uma arte magistral,
Que no toque do berimbau
Faz qualquer mortal tremer.

Isaías Gresmes 21/08/2008

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

O girassol

O girassol acompanha
o seu amor com o olhar
Sem nem um instante se desviar

Quando o dia está fechado
Ele fica cabisbaixo
Esperando o sol voltar

E quando as nuvens se vão
Ele começa a veneração
Até a noite chegar
Uma vez que ela chega
Ele fica ali quetinho
No silêncio do escurinho
Esperando o sol voltar
No horizonte da mãe terra.
Sempre foi assim
Do princípio ao fim
No passar de tantas eras

E eu que já os observei
Também me apaixonei
Por este amor tão intenso
Que só pára por um momento:
Quando a força do vento
Lambe as pétalas já murchas
E espalhalha as sementes
Sobre o solo fecundo
Ofertando assim, ao mundo
Milhares de girassóis
Que iniciar-se-ão
Uma nova geração
No equilíbrio da natureza
E com certeza eles serão
Movidos pela paixão
E amigos das borboletas


Isaías Gresmés 20-08-2008

sábado, 16 de agosto de 2008

Rosa

Ela era uma menina ainda, tinha apenas quatorze anos. Rosa era seu nome. Embora tivesse nome de flor, não trazia em seu semblante nada que lembrasse pétalas; sua áura era carregada não por perfume, mas por pontiagudos espinhos.
As pessoas, quando a viam murmuravam em coro:


Pessoas:

Olha quem tá indo à feira
É a rosa
A asquerosa
A lixeira

O resto ela vai catar
Das coisas que cai no chão
Ela não tem nojo não
Dá ânsia só de pensar

Entre aquelas pessoas, poucas, bem poucas, sentiam alguma compaixão e não ridicularizavam a menina. Diziam sentir dó da sua situação infeliz.

Pessoa “boa”:

Amigos, pobre coitada
É essa menina Rosa
Coitada, tão maltratada
Se eu pudesse ajudava
Essa pobre tão judiada

Mas o que ganho
É tão pouquinho
Que não sobra nem um restinho
Pra fazer ação de graça


E assim, entre maledicências e caridade só da boca pra fora, Rosa seguia sua triste sina.
Toda quarta-feira, dia da feira local, Ela era despertada aos berros, por sua mãe:

Mãe:

Acorda logo Rosa
Vai lá pegar o que achar
Não tem nada pra preparar
Na peste dessa palhoça
E vê se não me enrola
Volte logo sem demora

O nenê está chorando
E meu leite ta secando
Seu pai já foi lá pro bar
Encher a cara de mé
Só volta de quatro pés
Com aquele bafo horrível
Então vai logo, anda!
E não demora
Senão acaba a sobra
Traga tudo que for possível


Rosa, embora fosse mulher, não costumava chorar com facilidade; aquela vida de sofrimento foi endurecendo seu coração. Mas em pensamento ela sofria demais. No caminho para feira, chorou, e chorou muito, mas foi um choro da sua alma; dos seus olhos não saíram uma lágrima.

Rosa

Oh, meu Deus que agonia
Como é triste minha vida
Minha alma está doída
E sinto isso todo dia

Por que tem que ser assim
Por que esse sofrimento
Oh meu Deus, por um momento
Por favor, pense em mim

Rosa estava muito triste, mas seguiu rumo ao seu destino. Chegando à feira, foi entrando embaixo das bancas de frutas e legumes, catando tudo aquilo que dava para aproveitar. Alguns feirantes não aprovavam a sua presença.

Feirante:

Sai pra lá! Sai pra lá
Senão minha freguesia
Você vai espantar

Vai! Some daqui!
Senão minha freguesia
Não compra o meu kiwi

Ela estava com bastante fome, pois não havia comido nada ainda, pega uma banana, metade estragada, metade boa e devora a parte aproveitável ali mesmo. Uma freguesa vendo aquilo se assusta:

Freguesa

Menina, não come isso não!
Pois isso caiu no chão
E o chão tem porcaria
Sua mãe não está aqui não?

Rosa balançou a cabeça negativamente. A freguesa continuou suas compras, indignada com a miséria daquela menina. Ainda comentou com outra mulher do seu lado: “ É fogo né! Tem gente que coloca filho no mundo somente para sofrer...”

Com o saco de estopa
Repleto até a boca
Rosa volta contente
Com a comida garantida
Já não sentia mais fome
Esse monstro que só consome
As pessoas esquecidas

No caminho Rosa encontrou-se com seu pai. Vinha cambaleando, costurando a rua, tropeçando nos próprios pés. Ela, pacientemente segura numa mão o pesado saco e na outra auxilia o pai a equilibrar-se.
Chegando em casa Rosa entregou o saco e o pai à sua mãe. O saco a mãe pegou. O marido a mãe xingou, bateu e empurrou para o quartinho imundo deles.

Mãe

Dorme lazarento
Traste vagabundo
Verme imundo
Burro! Jumento!

Rosa se afastou da casa para fazer aquilo que era a sua única diversão: cuidar da horta que havia feito junto com sua mãe. Chegando à horta ela se sentia no céu. Ali ela se esquecia de todas as mazelas da vida.

Minha querida plantinha
Que da semente vi nascer
Você é tão bonitinha
Com essas suas folhinhas
Como é bom vê-la crescer!

E você, linda abobrinha
Vejo que está bela
Já tem até cinturinha
Já, já estará gordinha
Com a casca toda amarela

Olá meus tomatinhos
Vocês, verdes ainda estão
Mas depois, bem vermelhinhos
Bonitos e graudinhos
Garanto que ficarão

Naquele lugarzinho Rosa não se sentia triste. Ali sua alma se libertava das amarguras da vida e era também ali que ela sonhava os mais belos sonhos, embora estivesse sempre acordada.
Estava viajando num mundo onde todas as pessoas eram felizes quando foi desperta por um homem que a chamava, no outro lado da cerca, seu nome era Gabriel:

Gabriel:

-Olá menina, estou vendo que você cuida bem da sua horta. Qual é o seu nome?
- Meu nome é Rosa.
-Muito bem Rosa, eu poderia conversar com seu pai ou sua mãe?

A vida da menina Rosa
Mudou naquele dia
Gabriel, alma bondosa
Conversou com a mãe da Rosa
E disse que compraria
Toda a produção da horta

E como adiantamento
Deu como garantia
Uma expressiva quantia
Num total de mil e quinhentos
Mas não foi em dinheiro não
Foi em alimentação
Pra família ter sustento

E comprou roupa prá Rosa
Para que ela fosse à escola
Essa era a condição
Que o contrato de ocasião
Foi imposto à família
Gabriel, homem bondoso
Aceitou com todo gosto
Ter a Rosa como filha


Os meses foram passando. A Rosa agora já não ia à feira buscar resto, muito pelo contrário, agora ia para trabalhar ao lado do seu segundo pai na barraca de legumes. Gabriel se sentia orgulhoso do que fez e sempre pensava contente: “Como foi bom eu seguir a minha intuição naquele dia, quando ouvi a Rosa conversando tão alegremente com as plantinhas...”.
A vida daquela menina, que outrora era tão triste, tal qual uma flor murcha, transbordava alegria. Sua mãe ajudava seu pai, que graças à ajuda do Gabriel, conseguira largar da bebida e pegava cedo no trabalho lá na horta. Dava prazer em ver o que aquele cantinho se transformara.

Com a graça do céu
Foi enviado Gabriel
Amigo, homem comum
Que tocado por Deus,
Sendo apenas um
Fez o que o coração
Pediu-lhe naquele dia
Quando ouviu o que Rosa dizia
Tão feliz na plantação

E assim a menina Rosa prosseguiu na sua nova vida. Quando passava na rua, as pessoas comentavam:

Lá vai a Rosa
Tão bonita
Tão cheirosa

Olha só as unhas dela
Tão lindas
Tão brilhantes

Olha o vestido dela
Parece uma linda flor
Com cores tão vibrantes....


É , a Rosa agora finalmente desabrochara.


Isaías Gresmés 16/08/2008


































segunda-feira, 11 de agosto de 2008

AMOR PATERNAL

O AMOR PATERNAL

Seu José:

-Acorda filho! Já passa das 7h00 da manhã! Vamos, senão não encontraremos mais nada. Seu José desperta o filho João para mais um dia de trabalho duro. Sabe que aquela rotina é pesada para ele, mas não há outra forma de sustentar a família, composta por mais três filhos menores: Camila, um bebê de um ano, Danilo, de 6 e Regina, de oito anos.

S. José
Acorda filho meu
Vamos para o batente
Antes que o sol esquente
Pois o dia amanheceu

João:
Meu pai, deixa eu dormir
Somente mais um pouquinho
Aqui está tão quentinho
Hoje eu não quero ir


Seu José se sentia culpado por não poder proporcionar ao filho uma infância normal, como de quase todas as crianças da sua idade. João ajudava o pai das 8h00 às 14h00, de segunda a sábado; depois freqüentava a escola, onde cursava o ensino fundamental. Seu José sempre se lamentava em pensamento “... até quando meu Deus, vamos levar essa vida?! Ele só tem 11 anos!”

O trabalho é iniciado
Pela dupla de valentes
Retrato da nossa gente
Em troca de alguns trocados

A carroça, o pai puxando
E o filho indo atrás
Catando materiais
Pelas ruas vão andando

Parando aqui e ali
Pegando toda tranqueira
No plano e na ladeira
Amarando pra não cair

João:
Meu pai, veja o que eu achei
É um livro de poesias
De um tal de Jeremias
Por ele me encantei

S. José:
Meu filho, larga mão disso
Que isso não vale nada
Atenha-se à catar latas
Estamos aqui pra isso

Poesia é ilusão
Não enche a barriga não
Então vê se me ajuda
Largue disso e não se iluda

João, obediente, acatou o conselho do pai e prosseguiu na busca pelos materiais recicláveis, mas no seu coração, aquelas poucas palavras que tinha lido naquele livro velho e sujo do tal Jeremias, já tinham sido gravadas. “Quando eu chegar em casa, vou ler todo o livro”, pensou João.

Com a carroça entulhada
Deu-se fim à empreitada
E os dois seguem para a missão
De vender a produção

E o que der de dinheiro
Será gasto por inteiro
No mercadinho Comprebem
Onde o preço não convém...

Com dois quilos de arroz, um quilo de feijão, dois quilos de batata, três quilos de farinha, um quilo e meio de “retalhindo” e um litro de leite, seguem pai e filho para casa, após cumprir mais uma jornada.

S. José:

Só falta a lenha meu filho
Encheremos a carroça
Com algumas madeiras grossas
Seguras com amarrilho

Depois disso vamos embora
Pois está quase na hora
De você ir estudar
Então vamos nos apressar


Com a compra e a madeira, seguem finalmente os dois para casa, onde esperam por eles D. Conceição e as demais crianças.
Após tomar um banho rápido, João vai para a escola – sem comer – pois sua mãe estava esperando que o marido e o ele próprio, trouxessem alguma coisa para fazer. “Eu como o lanche lá da escola”, conformou-se.
No caminho João foi folheando aquele livro que achara no lixo e ficou encantado com a beleza dos versos. Leu um poema que falava dos pais e lembrou-se do seu velho. Uma lágrima rolou na sua face:

“O pai é o porto onde ancoramos nosso barco.
Da nossa vida, é a estrutura;
Da nossa ponte é o arco;
É o bronze da escultura
Da nossa vida futura -
Em nossa lembrança será um marco.”

Na hora do lanche João devorou a refeição rapidamente e procurou um cantinho mais sossegado para continuar a ler o surrado livro. Enquanto isso, seu José iniciava mais uma rotina... triste rotina. Dirigiu-se para o boteco da esquina para iludir sua mente com cachaça.

S. José
Vou beber no bar da esquina
Porque ando descontente
Dessa vida inclemente
E da loucura da minha sina

Eu não agüento mais ver
Minha família sofrendo
O meu peito está doendo
Acho que quero morrer...

E essa rotina prosseguiu. Seu José chegava em casa cada vez mais embriagado e D. Conceição discutia com ele. As crianças ficavam chorando. João entristecia com a situação do seu querido velho.
Certo dia, voltando da escola, encontrou seu velho caído no campinho de terra perto da casa.

João
Acorda pai! Levanta!
Aqui não é lugar de ficar
Anda!

Meu pai, mas que pele fria
Mas está tão quente o dia
Levanta!

Meu pai, num durma aqui não...

Seu José não mais acordou. João seguiu na luta sozinho, ou melhor, na verdade agora acompanhado dos dois irmãos: Danilo e Regina. Era ele o comandante agora. Era ele que ensinava aos irmãos mais novos a dura batalha da busca pelo sustento diário. Mas no seu coração ficara gravado as lições que aprendera com o pai: “trabalha meu filho, que Deus há de olhar por você”.
Hoje João é pai. Possui uma vida confortável que foi construída à custa de muito trabalho. Sua estante é repleta de livros. E há um lugar especial dedicado à foto de seu querido pai e àquele livro surrado, do tal poeta Jeremias, que serviu também como base em sua formação.

FIM

Isaías Gresmés 11/08/2008

domingo, 3 de agosto de 2008

O amor maior é Deus

O amor maior é Deus
Vem meu amor
Cai, com se fosse a chuva
No momento de secura
De fazer bicho arfar

Vem meu amor
Como se fosse fartura
Num momento de amargura
Quando a fome está no ar

Vem meu amor
Assim, como a paz
Onde a vida não quer mais
Neste solo germinar

Vem meu amor
Vem acabar com a guerra
Triste invenção da Terra
Que faz o homem chorar

O amor maior é Deus
Isso eu posso afirmar
Ele fez o universo
E fez um “cisco” aqui, em versos
Esse amor se expressar


Isaías Gresmés 3/08/2008