sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

BORBOLETA AZUL

BORBOLETA AZUL


Voando entre as margaridas
Eu vi uma criatura
Que abalou minhas estruturas
Era linda! Azuladinha
Tinha em seu voar
Um quê de brandura
Dois quês de ternura
Mais parecia um levitar

Era azuladinha
A linda criaturinha
Assim como é o mar
Ai meu Deus
Que linda criaturinha
Bonita azuladinha
Olhando-a, pus-me a sonhar
E quando me despertei
Tentei, juro que tentei
Mas não consegui parar
E, a partir daquele momento
Para meu contentamento
Àquela criaturinha
Bonita e azuladinha
Conjuguei o verbo amar

Isaías Gresmés 26/02/2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

NOVO LAR*

NOVO LAR*

Depois de decorridos uns trinta minutos, a portinha daquela singela salinha se abre. Do lado de dentro, um senhor de barba longa e já totalmente branca, faz um sinal para aquela senhora entrar.
- Boa noite minha senhora, qual é o seu nome e em que posso ajudá-la?
-Boa noite. Meu nome é Maria, fez uma pausa, enfiou a mão no bolso do casaco e pegou um lenço para enxugar as lágrimas que recomeçaram a cair e continuou, - estou aqui em busca de ajuda...
Dito isso, a pobre mulher se inundou em lágrimas.
O senhor de barba branca saiu detrás da mesinha onde se encontrava e foi de encontro a ela na intenção de confortá-la.
-Acalme-se dona Maria, pois eu tenho certeza que a senhora vai sair daqui hoje bem melhor do que quanto entrou por esta porta. Vamos, confie em mim e me ajude na prece do Pai Nosso, tudo bem? A triste senhora concordou com o olhar ainda inundado.


“Primeiramente, muito obrigado pela ajuda que o senhor está prestando a mim e a minha mãe. O que vou lhe ditar agora foi exatamente como aconteceu o fato. Era sexta-feira e eu já estava contente só em pensar nas horas a mais de sono no sábado. A noite se mostrava espetacular, apesar do intenso frio do mês de junho. Na rua não se via mais ninguém, afinal no relógio da esquina eu pude ver que faltavam somente quinze minutos para meia noite. Resolvi apressar os passos para não perder o último trem que passava exatamente às 0h05. Quando eu estava quase chegando à estação, um objeto brilhante caído no canto da calçada chamou minha atenção. Abaixei para pegar. Era um colar. Sua composição era bem simples: um singelo cordel de fibra natural entrelaçada, com uma letra “i” de mais ou menos uns quatro centímetros no centro. Andei mais rapidamente até um portão onde havia uma luz forte, a fim de checar mais detalhes. Para minha surpresa pude ler, sem dificuldade, uma estrofe que, de início, achei bem enigmática. Assim estava escrito:

‘Dentro desta letra há uma instrução
A qual deverá cumpri-la direito.
No fim ganhará como premiação
A magia do amor que está no meu peito.’

Meio confuso e sem entender direito o que queria dizer aquilo, resolvi abrir a tampinha da letra, o que fiz sem problema algum. Retirei um pequeno papel e, ao desenrolá-lo, pude ler a tal instrução: ‘Nosso dia chegou meu amor. Meia noite, nesta estação’.
Fiquei mais confuso ainda e comecei a bombardear minha consciência com várias perguntas e tentava, em vão, respondê-las. Medo eu não senti, muito pelo contrário, senti crescer dentro de mim uma curiosidade que há muito eu não experimentava. Quem me chamava de amor? Será que a mensagem se dirigia a mim? Eu estava ficando maluco? Por que eu me arrepiei só em imaginar que poderia, finalmente encontrar a minha amada? Justo eu que nunca namorei e que, por isso sempre fui motivo de chacotas por parte dos amigos e parentes!... Será que o meu esforço em me preservar para alguém, que eu sempre tive certeza que um dia chegaria, valeu? Decidi acreditar que sim.
Faltavam apenas alguns segundos para meia noite quando cheguei à estação. Não havia mais ninguém, somente eu. Uma sensação de descontentamento começou a se apoderar de mim. Olhei o relógio novamente: cinco... quatro... três... dois... um. De repente um clarão... O ambiente frio e malcheiroso devido ao rio poluído que morria ao lado, naquele instante ficou todo envolto numa névoa perfumada e brilhante. E, flutuando encantadoramente, apareceu a mais bela criatura que meus olhos já viram. Sim! Eu já vira esta beldade em meus sonhos mais lindos e, naquele instante tive a certeza de que ela era a dona de todo o amor que eu pacientemente guardei por todos estes anos!
Ela nada me disse com a boca, mas me disse tudo o que eu queria ouvir com apenas um sorriso.
A partir daquele momento eu já não mais vivia para a matéria; mas, no entanto, renascia para o verdadeiro amor, pois aquele derradeiro encontro, na verdade, foi apenas mais um reencontro entre nós, em nossa trajetória em conjunto, rumo à eternidade."


Ainda em transe, o bondoso senhor entrega a mensagem à dona Maria que, imediatamente, começa a lê-la. À medida que a leitura avança, seu semblante vai se tornando mais sereno. Ao final da leitura ela continuava a chorar, mas também ria. Suas lágrimas já não mais estavam carregadas de dor, agora estavam impregnadas de esperança, de resignação, de paz.
-Muito obrigado meu amigo. Fica com Deus!
-Vai com ele também dona Maria!

FIM – ISAÍAS GRESMÉS – 21/02/2010 * (Conto inspirado no soneto “Novo Lar”, de minha autoria).


NOVO LAR

Em uma calçada encontrei um colar,
De fino cordel e simples labor,
Com uma letra “I” a se destacar,
E nela, um escrito era instigador:

“Dentro desta letra há uma instrução
A qual deverá cumpri-la direito.
No fim ganhará como premiação
A magia do amor que está no meu peito.”

Meia noite... confuso e ressabiado...
Dirigi-me então ao local combinado:
Uma velha e erma estação de trem...

Foi então que uma deusa surgiu do além,
Ofertando a mim um lindo sorriso:
Era o meu bilhete para o paraíso.

Isaías Gresmés 07/12/2008

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um outro olhar*

UM OUTRO OLHAR*


-Oi vô, tudo bem?
-Oi meu querido, que bom que você veio me visitar!
-Ah vô, eu não via a hora de chegar as minhas férias escolares para vir aqui e escutar aquelas estoriazinhas que só o senhor sabe! Ainda me lembro de todas elas... Sabe vô, algumas vezes eu até sonhava com elas!
-Bondade sua meu querido... Bom, então vem aqui e me dê um abraço, um beijo e um aperto de mão, pois, como você já sabe, este é meu pagamento antecipado.
-Oh vô! – me desculpe (neste momento o neto abraça o avô calorosamente, em seguida beija-lhe a face enrugada e finaliza com um afável aperto de mão)!
-Muito bem, já fui devidamente pago (fala o avô sorrindo), agora vou narrar a estória de um homem de valor que jamais se deixou abalar pelo peso da vida (deu um longo suspiro, mirou o horizonte com um olhar perdido e começou a narrar).
-Certo dia, como lhe era habitual no dia do recebimento da aposentaria, João, esse era o nome desse homem valoroso, pedira à irmã mais velha, cujo nome era Maria, para acompanhá-lo até a agência bancária, que ficava bem distante da periferia onde eles moravam (respirou um pouco e continuou). No meio do caminho, Maria começou a se aborrecer com o que via:
-Ah João, que coisa triste! Várias crianças mendigando na rua!
João ao escutar o lamento de Maria, procurou confortá-la, mas não conseguiu, pois o que ela presenciou a seguir, a deixou furiosa.
-O que aconteceu vô?
-Uma coisa lamentável: do outro lado da rua havia um homem mal encarado recolhendo os trocados que os meninos recebiam como esmolas dos transeuntes!
-E o que ela fez? – E o João, o que fez?
-Calma ai que já conto (fez uma pausa, olhou nos olhos atentos do neto e continuou). – Maria começou a xingar aquele homem, mas com a voz bem baixa, de forma que somente João pode escutar.
- Maria, não se preocupe com isso minha irmã! Lembre-se do ensinamento do nosso Senhor: “benditos são os que têm sede de justiça...” (apertou a mão da irmã e prosseguiu) - Minha querida irmã, eu tenho certeza que essa esmola que você viu este homem tomando das crianças, será o preço que a vida vai cobrar dele. Quanto às crianças, bem, acreditemos na justiça divina!
-Ah, eu sei meu irmão, mas é que eu não consigo ver estas coisas e me conformar, entende?
-Entendo! Entendo sim minha irmã! Mas vamos! - vamos seguir nosso caminho, tudo bem?
-Nossa vô, esse João me parece ser um cara sereno, enquanto que a Maria parece ser um tanto quanto temperamental, não é verdade?
-Sim, você observou bem, é isso mesmo (o avô gostava quanto o neto interagia com ele: era sinal que já estava enxergando a estória), pois, mais à frente, outro fato fez Maria perder as estribeiras, havia vários rapazes, alguns até mais novo que você, fumando maconha!
-Tá vendo? Eu não aguento isso meu irmão, esses moleques não sabem nada da vida ainda, no entanto, já estão se envenenando com essa droga maldita!
-É irmã, eu estou sentindo o cheiro desta erva maldiçoada. Concordo com você querida, eles não sabem nada da vida, muitos até perderão a vida antes de saber alguma coisa, mas Deus é misericordioso e mostrará àqueles que optarem pelo caminho reto, que sim, é possível viver na dura vida das periferias, sem a ilusão das drogas.
-É irmão, você sempre tem uma palavra de conforto para mim, obrigado! – Vamos, pois já estamos bem próximos da agência bancaria.

-Vô, uma coisa está me intrigando nesta estória, o João não podia andar sozinho devido a alguma deficiência nas pernas, por isso que ele era sempre acompanhado pela irmã?
- Não meu querido (respondeu o avô, sorrindo), João andava para todos os lados, embora com um pouco de dificuldades, mas andava. O problema dele era a cegueira, sim, ele nasceu cego!
-Cego vô?
-Sim, nunca viu nem o próprio rosto! No entanto enxergava como ninguém a alma humana.
-É vô, deu para perceber isso mesmo, ele procurava “ver” a vida sempre pelo lado positivo, já a irmã...
-É meu neto, a Maria falava que se sentia cega quando o irmão estava do lado dela, porque ele “enxergava” nas situações cotidianas, alguns detalhes que ela não conseguia visualizar. – Bem, meu querido neto, por hoje é isso, essa estória acaba por aqui, mas de onde ela veio, tem mais viu!
-Obrigado vô! Outro dia volto aqui para escutar outra hein!

FIM – Isaías Gresmés 13/02/2010 – *Conto inspirado no soneto “NADA VEJO”, de Josafá Maia


Nada vejo

A minha volta nada vejo de tristeza,
Não vejo a boca a mendigar migalhas,
Não vejo a podridão do vil canalha,
Não vejo d’alma negra a impureza.

Não vejo a maldade que se espalha,
Não vejo as crianças indefesas,
Não vejo do bandido a pobre presa,
Não vejo o pobre a carregar cangalha.

Não vejo a densa nuvem de fumaça
Que sobe da maconha em plena praça.
Não vejo nada, mas tampouco nego.

Pois Deus, em sua bondade infinita
Livrou-me dessa infame vista aflita,
Não vejo esse mundo. Eu nasci cego!


Josafá Maia da Costa