sábado, 25 de fevereiro de 2012

JAPÃO x ITÁLIA - COPA DO MUNDO 2014




Começa a transmissão da final da Copa do mundo do Brasil 2014.
Na rádio Gresmelândia inicia-se a execução do logoton das transmissões futebolísticas.

(Após o logoton, entra o grande, o maioral, o colossal, Zé Cemitério).

“Zé-zé-zé-Zé Cemitério!”

- É isso mesmo! – pode acordar almas penadas do meu Brasil, pois começa mais uma transmissão deste locutor que vos fala! E se o Brasil não chegou à final, não vai ser por isso que deixaremos de levar até vocês todo o nosso entusiasmo nesta tarde. E já estão posicionadas em cada lado do campo as duas seleções finalistas desta copa do mundo: de um lado o selecionado da Itália, e do outro, a surpreendente seleção japonesa.
(Após demorada análise do mala do comentarista, Zé Cemitério chama o repórter de campo.)

- E agora eu chamo o nosso repórter de campo para nos passar a escalação das duas equipes: é com você Trovoada!
- Segura ai Zé: a seleção da Itália começa como 1- Maquecuzone no gol; 2 – Cagone, lateral direito;  6 - Putani, lateral esquerdo; 3 - Pontapezoni, zagueiro pela direita,  4 – Colizione, zagueiro pela esquerda; 5 – Maquetanque, volante; 8 – Pertomeuscunhone, meia direita; 10 – Priquitone, meia esquerda; no ataque: 7 – Chutone; 9 – Caralhone e 11 – Pintone. – Depois eu passo o banco.

- E para segurar a fortíssima seleção da Itália, como vem armado o Japão, Trovoada?
- Anota aí Zé Cemitério: a seleção do Japão começa como 1- Nakata Enunsorta no gol; 2 – Takashute Nakara, lateral direito;  6 – Sometu Upé, lateral esquerdo; 3 – Sotomu Inundô, zagueiro pela direita,  4 – Soquebru Ascoshas, zagueiro pela esquerda; 5 – Tadanu Nafussa, volante; 8 – Tanaka Kitoka, meia direita; 10 – Tanaka Kipassa, meia esquerda; no ataque: 7 – Kishute Dahora; 9 – Sometu Nugoro e 11 – Kimedu DipiKa. – Depois eu passo o banco, pois já vai começar a partida Zé!

(Toca o logoton mais uma vez)

- Começa a partida! – Pertomeuscunhone toca a bola para Pintone, Pintone enfia a bola para priquitone, chega Sotomu Inundô  e toma a bola para o Japão! ...

...- Meu amigo, você já tomou a cerveja Nokumi? – Não? – Então toma! – Você vai beber e dizer feliz: Nokumi é refrescante, Nokumi é da hora! – Então meu amigo, peça Nokumi, eu por exemplo, adoro quando alguém Nokumi dá!...

... - Desce o Japão em contra-ataque com Tanaka Kitoca, que lança na esquerda para Tanaka Kipassa, o japonês liga na ponta para Kimedu Dipika que lança na área para Sometu Nugoro, Sometu chuta a bola, pula Maquecuzone , não pega nada e gol! – e que golaço!
- Gooooooooooooooooooooooooooooool, do Japão!
 – Diz aí Trovoada, o que só você viu?!
- Muito bem Zé Cemitério, num contra-ataque fulminante do selecionado Japonês, após falha individual do meia Priquitone, o zagueiro japonês Sotomu Inundô, tomou a bola e ligou o contra-ataque, que culminou no gol da seleção do Japão.

- E aí meu amigo, você quer que eu confirme o tempo e o placar do jogo? – Na marca dos 44 minutos, primeiro tempo da final da copa do Brasil 2014, temos: Japão, 1; Itália, nada!


- E apita o juiz! – Fim do primeiro tempo! –

(Após os comerciais, entra o comentarista chato, o que foi citado mais acima.)

- Diga aí InseNeto, qual a sua análise sobre este primeiro tempo entre o Japão e a Itália?
O mala começa a falar:
- Ó, pra dizer a verdade, eu acho que a que a Itália ta afinando muito pro Japão viu! Esse Caralhone ta de brincadeira rapaz! – Ta entrando muito mole na jogada! Isso sem contar esse Priquitone, pô, só toma bola nas costas, ta de brincadeira! – Já a seleção do Japão ta jogando uma bola redondinha Zé. Esse menino,o Sometu Nugoro é muito bom atacante, até parece que tem dois pulmões! Esse outro menino... Como que é?... Eu esqueci o nome dele... o meia esquerda...
 – O Tanaka Kipassa, acode o pentelho, Trovoada, o repórter que não dá mancada.
– Grande Trovoada, elogia o comentarista pentelho, - esse pega na bola quase igual como eu pegava, porque para pegar igual a “eu” é difícil... (dois minutos depois de autoelogios, segue a análise) – Bom, eu acho que o técnico italiano tem que tirar o Priquitone e colocar o Bucetone, que é um jogador que gosta de jogar ali na frente do Caralhone, fazendo um, dois. “Quando” ao Japão, eu acho que deveria recuar o Kimedu Dipika e avançar o Tadanu Nafussa para fazer um, dois, com o Sometu Nugoro.

- Apita o juiz!...

 ... Desce o Japão com Kimedu Dipika, que toca para Tadanu Nafussa, Tadanu vira o jogo e toca para Sometu Nugoro que vem no meio para buscar a bola, ele toca para Tanaka Kitoca; chega Maquetanque e toma a bola para Itália; ... e olha para o lado esquerdo e passa a bola para Bucetone, que entrou no lugar de priquitone. Bucetone fica trocando passes curtos com Caralhone, e os dois entram na pequena área envolvendo a defesa japonesa; Bucetone passa por Takashute Nakara, vem Soquebru Ascoshas que leva um chapéu de Bucetone, sem deixar a bola cair lança para Caralhone, que chuta e, gol!  E que golaço!
- Gooooooooooooooooooooooooool!, da Itália!
- E aí Trovoada, qual foi o lance que só você viu?
- Numa jogada construída um pouco depois da linha do meio de campo, entre Bucetone e Caralhone, que ficaram trocando passes ali, num vai-e-vem frenético, terminou com uma pintura de gol de Caralhone que entrou com bola e tudo na meta do Japão, empatando a partida para Itália...

...- E ai meu amigo, já tomou a cerveja...

... - Quando o relógio marca 45 minutos do segundo tempo, será que teremos tempo extra?...
 – De repente não! – Vem o Japão com Tanaka Kitoka, que olha para o lado e enfia a bola para Kishute Dahora, ele olha o goleiro Maquecuzone adiantado, chuta de cobertura e, gol! – Puta que pariu, que golaço!
-Gooooooooooooooooooooooooooooool!, do Japão! – E não há mais tempo pra nada! – O Japão é campeão mundial da copa do Brasil 2014! – Pode comemorar colônia japonesa do Brasil, o Japão é campeão do mundo!



ISAÍAS RODRIGUES DE OLIVEIRA, 25/02/2012














quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

POETAS MORTOS*


POETAS MORTOS*

Certo dia, ao chegar em casa após uma rotina extenuante de trabalho, Dr. João Kukaboa, respeitado psicólogo, pressente algo de errado em sua residência. Notou que o vidro da porta estava quebrado e que a mesma estava entreaberta. Ficou tomado por um calafrio, mas decidiu verificar o que havia acontecido. Ao adentrar a casa, escutou a esposa lá no quarto, o que o deixou aliviado, mas o medo logo tomou conta de si quando viu um vulto no banheiro. Dirigiu-se a passos largos até lá. Foi quando foi surpreendido por um dos seus pacientes.
- O senhor me disse que os meus sonetos eram ótimos!
- Calma Sem-as-mões! Vamos conversar!
- Conversar que nada! – Grita o sonetista infeliz – e saca de uma arma, apontando-a para o corpo do psicólogo.
- Abaixa esta arma, vamos conversar! – Respira fundo, acalme-se!
- Acalmar uma porra! – Você me disse que meus sonetos eram perfeitos, que tinham rimas ricas, métrica, e blá-blá-blá, aí eu acreditei e postei lá no Recanto das Letras e sabe o elogio que eu recebi seu filho da puta?
-Não, qual foi?
- Só do tipo assim: “Adorei o seu soneto. Me visita” – Ou “Seu soneto está legal, mas e a métrica?”
Dr. João estava ciente que a situação fugia cada vez mais do seu controle. Decidiu efetuar uma manobra mais ousada.
- Faz o seguinte, abaixa a arma, e toma esta pílula aqui ó (Dr. João oferece um medicamento ao Sem-as-mões).
O poeta infeliz ficou então mais possesso.
- Enfia este remédio no...
Neste momento ele foi interrompido pelo médico.
- Calma aí rapaz! – Quer saber de uma coisa? – gritou o Dr.
O doido infeliz - pego de surpresa, responde.  – O quê?
- Os seus sonetos são uma porcaria mesmo! – Eu não aguentava mais ouvir você declamando-os para mim, paciência tem limites, faça-me o favor, vai ser chato assim lá nos raios que o parta!
- Ah é, é! – Então toma!
O pseudopoeta efetua um disparo no abdome do médico. Ele cai.
O xerox de poeta, ao ver a besteira que acabara de fazer, dá cabo da própria vida ali mesmo.
- A esposa do médico chega logo em seguida, aos berros, e logo tenta socorrer o esposo.

PARTE II

Dias depois Dr. João estava andando perto de uma biblioteca pública quando, ao olhar para uma das entradas, viu a figura de um menino que lhe chamou a atenção. Decidido, segue em direção dele. O menino, ao perceber que estava sendo seguido por ele, foge. O Dr. Não desiste e chega até o menino.
- Olá, como é o seu nome?
O menino nada diz. Apenas arregala os olhos e foge.

No outro dia, no mesmo horário, o médico se depara com o enigmático menino. Resolveu mais uma vez ir até ao menino, mas desta vez não o deixaria escapar. Foi seguindo ele até uma das prateleiras de livros. Lá iniciou um diálogo.
- Olá, como se chama?
O menino apenas olha para ele e nada diz. – Posso saber o seu nome?  - Por que vem tanto aqui? - E por que você está com esta pilha enorme de livros sobre Física Quântica?
- Meu nome é José, mas me chamam de Zezinho.
- Viva! – Que bom que decidiu falar comigo! – Mas me diga Zezinho, qual o seu interesse em um assunto tão adulto e tão complicado como a Física Quântica?
- Se eu falar o senhor promete que não ri?
- Claro meu querido, pode se abrir comigo!
O menino, ainda meio ressabiado, decide então se abrir com o médico.
- Sabe o que é – fala quase sussurrando – eu escuto POETAS MORTOS!
O médico, surpreso pela revelação, pergunta:
- Como assim?
- Eles estão por toda a parte... Escreveram a vida toda, na esperança de terem o reconhecimento do grande público, mas o que acontece, na maioria das vezes, é que eles morrem sem reconhecimento algum... Eu os vejo por toda parte.
- Você tem certeza que eles, esses poetas os quais você se referiu, estão mortos?
- Tenho! – E presta atenção no que eu vou lhe dizer... – Zezinho faz uma pausa e continua – Eles só veem o que querem ver e só gostam de ouvir elogios sobre as suas obras.
- Tudo bem, responde Dr. João, mas eu fiquei com uma dúvida: - por que você vem aqui nesta biblioteca e retira esta pilha de livros sobre Física Quântica?
- Ora, o senhor não sabe?
- Não.
- Eu descobri que a quase totalidade dos poetas odeiam Física! – Então passei a estudar esta ciência na esperança de me livrar deles e, quem sabe, atrair a atenção de alguém como Einstein, Newton...
- Entendi.
Agora me dá licença, pois preciso ir.


Ao voltar para casa, o médico notou que a sua esposa deixara a porta da casa fechada.


No outro dia, no mesmo local, Dr. João se encontra com o menino. Resolveu se aprofundar no assunto que começara no dia anterior.
- Explica-me tudo o que conversa com os poetas mortos.
O menino fala que os poetas são, na maioria, tristes, sobretudo porque não obtiveram o reconhecimento em vida e, agora, após a morte, foram esquecidos até pelos amigos virtuais. Zezinho disse que eles se queixam pelo fato de não poderem mais deixar suas emoções registradas em forma de versos.
- E o que você faz quando eles ficam insistindo em se comunicar com você?
- Eu pego um livro de Física e começo a explicar a Teoria da Relatividade para eles. Não dá dez minutos e todos somem no além!
- Presta atenção, você não vai mais fazer isso! – De agora em diante, quando eles quiserem se comunicar com você, atenda-os, entendeu?
- Mas eu tenho medo! – E, além disso – odeio poesias! – meu negócio é Física!
- Mas você não quer se livrar deles? – pergunta espertamente o médico.
 - Sim, quero!
- Então faça isso e conseguirá esse intento.


PARTE III

E, daquele dia em diante, a rotina de Zezinho mudou. Passava o dia ouvindo as declamações dos poetas mortos.
Tinha dia que só vinham trovadores. Outros dias, sonetistas. O pior dia para o menino era quando apareciam os cordelistas, os contistas e os cronistas; ele ficava até com dor de cabeça. Mas seguiu firme.
Depois de ouvi-los, passava um relatório minucioso ao médico. Ele, por sua vez indicava qual tipo de abordagem o menino deveria utilizar, de acordo com a gravidade do caso.
E assim Zezinho foi se acostumando cada vez mais com aquela sua estranha habilidade. O médico notou que, a cada dia que passava, ele ficava mais calmo, mais sereno.
O menino relatava os progressos obtidos com os poetas mortos. Dizia que muitos deles não mais apareciam para ele, e se dizia estar feliz por isso.


PARTE IV

Ao chegar novamente em sua residência o médico notou que a porta estava fechada. Deu então uma volta por trás dela e de lá viu uma cena que não gostou. A sua esposa estava nos braços de um amigo. Notou que ela chorava. Nada entendeu. Completamente decepcionado, saiu zanzando pelas ruas sem rumo definido.

Passaram-se vários meses. Sempre quando ele voltava para casa encontrava a porta fechada.
Certo dia, chegou no exato momento em que a sua esposa saía com o seu amigo. Quis correr até aos dois, mas conteve-se.


Em mais um dia de encontro com o menino, o médico decide fazer uma pergunta que queria fazer a muito tempo.
- Zezinho, no primeiro dia em que nos encontramos você me disse que eles, os poetas mortos, só veem o querem ver e só ouvem o que querem ouvir.
- É isso mesmo!  - Alguns pensam que ainda estão vivos!

Dr. João ficou mais confuso ainda depois da explicação do menino.

Ao voltar para a sua casa, desta vez encontrou a porta aberta.
Entrou e, só ai, lhe veio à memória todo o ocorrido. Lembrou do paciente doido que lhe aparecera de súbito, do tiro que levara e da sua esposa aos prantos. Concluiu, sem que lhe restasse nenhuma dúvida, que estava morto.
Foi até o quarto. Lá encontrou a esposa dormindo. Percebeu que ela estava em estado de sonambulismo, pois falava alguma coisa. Conversou com ela. Disse que a amava, mas que ela deveria seguir com a sua vida e esquecê-lo. Que estava bem e jamais a esqueceria.
Ela, no seu estado de sonolência, também lhe disse que o amava e que jamais o esqueceria.

No outro dia, ao encontrar-se com o garoto, o médico, em lágrimas, apenas disse:
 - Adeus!

Texto inspirado no filme “O SEXTO SENTIDO” de  M. Night Shyamalan.*

ISAÍAS GRESMÉS, 22/02/2012








 




  

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

O CALDINHO E A GEMADA COM AMENDOIM




O CALDINHO E A GEMADA COM AMENDOIM

   Já faz algum tempo que alguém me contou esta história, e agora vou relatá-la aqui.
   Havia um casal de velhinhos que vivia em uma casa enorme numa cidadezinha do interior de São Paulo. João era o nome do velho e Emengarda o da simpática senhora. Já beiravam os 80 anos e nunca tiveram filhos. Passaram boa parte da vida naquele casarão estilo colonial, na companhia dos animais domésticos.
    Foi durante um café da manhã que o velhinho João revelou uma ideia sua à esposa:
   - Gardinha, estou pensando em pedir para o Menelau que me mande uma menina lá da cidade dele para vir trabalhar aqui, o que acha minha velha?
    - Sei não fio, gente nova não gosta de lidar com velhos...  – mas você que sabe... O que você decidir ta bom!
    - Então está decidido! Amanhã eu ligo pra ele.
    No outro dia João ligou para Menelau e  acertou tudo.

    Menelau sempre foi um homem muito bem relacionado lá na cidadezinha ande morava, Sátiro Dias, na Bahia. Conhecia todo mundo. Ele era muito respeitado por todos e o povo sempre o consultava para resolver os mais variados problemas. Se alguém estava doente, era ele quem indicava o doutor; se havia uma mulher para dar a luz, corriam atrás dele e Menelau já mandava buscar a parteira. E assim o bondoso homem foi ganhando fama naquele lugarejo e conseguiu se eleger vereador por dois mandatos consecutivos. Depois resolveu deixar a política porque não concordava com os poderosos do local. “São todos uns filhotes de ronquifuças”, saía vociferando, quando indagado sobre o porquê de ter abandonado a política.

    João ligou para o irmão e Menelau logo se prontificou a ajudá-lo.
    - Pode ficar tranqüilo meu irmão, vou mandar uma menina que trabalha aqui para mim e ela vai cuidar muito bem de vocês. O nome dela é Carminha.
     João fez menção em recusar, pelo fato da moça trabalhar para o irmão, sob o argumento de que assim estaria prejudicando ele. Mas Menelau o convenceu do contrário e, dias depois chegou Carminha.

    Carminha  foi recebida pelo casal na porta.
João, ao vê-la de frente, não pôde deixar de admirar a beleza jovial da moça. “Meu Deus, que criatura linda!”
    - Entra minha querida, adianta Emengarda, pegando na mão da mocinha, levando-a para o interior da residência. João ficou ali estático, mergulhado em pensamentos.

     O tempo foi passando e, a cada dia, Carminha se entrosava mais e mais com o casal de velhinhos. Ela descobriu que a velhinha não podia consumir muito sal porque era hipertensa, mas uma vez por semana, preparava para Emengarda, um caldinho de mocotó com lascas de gerimum e ainda acrescentava uma pitada de pimenta do reino e cheiro verde. A velha adorava, embora no início tivesse recusado. Mas depois que experimentou, passou a exigir o caldinho milagroso todos os dias.
     - Mas, e o coração dona Gardinha! – ponderava Carminha.
     -Esquenta não, fia, se eu morrer depois de tomar o seu caldinho, morro feliz!
     - Fale isso não mulher!

      Carminha também passou a preparar uma iguaria para João, que deixava o velho subindo pelas paredes. Era uma gemada com amendoim e leite de cabra.
      João também era hipertenso, mas não conseguiu se render aos encantos culinários da linda Carminha. Sem contar que depois da gemada turbinada ela fazia uma massagem nele por mais de uma hora.
     - Ai Carminha, assim você me mata!
     - Num fala isso não, seu João, que eu fico sem graça.

     Foi numa tarde de verão, fazia uns 32 graus e a Emengarda pediu o seu caldinho. Carminha foi à cozinha, preparou o prato e logo voltou. A velha senhora tomou o caldinho e foi se deitar em seguida. Não mais se levantou.
    Durante o seu velório todo mundo comentava que ela estava com semblante de feliz, e, embora estivesse morta, parecia estar sorrindo.

     João ficou muito triste, mas foi muito bem amparado pela Carminha.              Ela passou a fazer, não uma, mas três massagens no velho.

    -Sabe Carminha, não sei o que seria da minha vida sem você. Minha vida melhorou muito desde a sua chegada aqui.
    -Bondade da sua parte seu João!
    -Não querida, eu não sei se conseguiria continuar vivendo sem você por perto. E num esforço hercúleo o velho agarrou forte o braço da moça e a puxou em sua direção. Decidido, o velho lascou um beijo nos belos lábios de Carminha. Ela correspondeu e agarrou o morto ressuscitado do velho. Sim, ressuscitado, porque a parte viril do velhinho só voltou à vida depois da gemada dela.
     E foi uma noite daquelas.
     - Ai Carminha, eu te amo minha querida! Quero me casar com você amanhã!
     Carminha nada dizia, apenas mordia as orelhas cabeludas do velho ancião.

      No outro dia João chamou o advogado e solicitou a ele que providenciasse as papeladas referentes ao casamento.
Foi uma cerimônia rápida. Menelau veio abençoar a união.
     -Parabéns meu velho! Carminha é uma bela mulher.

     E a vida seguiu agitada para o recém casal. João todo santo dia consumia a gemada da Carminha, mas não sem antes agradecer com beijos a adorável esposa.
    - Eu te amo Carminha! Você é uma deusa, minha querida!
    - Ai meu velho, venha cá, venha!
     E beijo vai, beijo vem. Afagos vão, afagos vêm. Foi num dia desses que o velho João não resistiu e virou os olhos e, desta vez, não foi de prazer: teve um ataque fulminante durante uma bela tarde de amor com Carminha. Morreu com um lindo sorriso nos lábios. Carminha ficou aos prantos.
     Foi seu Menelau quem veio acudi-la.
     -E agora Menê, o que faço?
    -Chore não minha nega, você vem comigo e tudo voltará a ser como antes...

     Um mês depois Carminha voltava para a casa do Menelau, agora rica, pois herdara tudo o que João e Emengarda haviam juntado durante a vida toda.
     Menelau não cansava de elogiar a bondosa cunhada. “Essa mulher é boa demais!”

ISAÍAS RODRIGUES DE OLIVEIRA, 17/02/2012

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

É AMIGO, O AMOR MAIOR É DEUS!


          

É amigo,
O amor vem de Deus!
E o exemplo maior está naquele que o sentiu
Quando, na relação amorosa,
Ao invés de somar, dividiu...

E doou-se por inteiro somente na esperança de agradar...
E recebeu de presente, um Deus a palpitar no peito.

É amigo,
O amor é Deus!
E Ele mora no coração daquele que ama indistintamente,
Sem querer outra coisa senão amar.

Feliz é aquele que recebe este amor,
Pois antes fez por merecê-lo.

Abençoado é aquele que ama:
Porque, de Deus, aprendeu a Maior lição.

ISAÍAS GRESMÉS, 3/02/2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O BEBÊ DA PROPAGANDA




“Que criaturinha linda!”, fiquei eu me derretendo em pensamento após assistir ao comercial daquele famoso banco. A imagem do bebê se acabando na risada ao ver seu pai (ou quem quer que seja) rasgar o papel que estava em suas mãos, é daquelas propagandas que entram na mente e lá faz morada.
 Quero deixar bem claro ao leitor deste texto que não estou aqui fazendo “merchan” para banco nenhum! Eu não gosto de bancos, pois não tenho muito o que guardar neles, e se tivesse o que guardar, não sei se mudaria de opinião. O motivo é outro: vou tentar esmiuçar aqui alguns significados para a espetacular risada do bebê.

1 – Será que aquele papel era uma lista de serviços “prestados” pelo banco? E quando o indivíduo leu aquelas siglas indecifráveis e os valores cobrados, resolveu se vingar rasgando ao meio e dando a outra parte para o bebê?
2 – Seria o saldo da conta dele?
3 – Ou será que o bebê é o futuro herdeiro do banco e aquele papel rasgado na frente dele seria, na verdade, a lista de reclamações dos clientes junto ao PROCON?
4 – Se for, o que o homem diz ao bebê?
5 – Seria: “Olha aqui meu filho o que o papai faz ó: rasg! Dá risada filhote dos otários, digo, clientes que compram títulos de capitalização! Rasg! - Olha aqui, estes estão no cheque especial! Rasg! Veja filhote, este é o faturamento do papai!...”

Que maldade! Prefiro acreditar que aquela criaturinha fofa é apenas uma criaturinha fofa, uma licença poética que não combina com propaganda de banco.


ISAÍAS GRESMÉS, 01/02/2012