sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

A rua da minha infância

A RUA DA MINHA INFÂNCIA

Agora que alguns anos me deixaram menos menino e mais homem, parei para sentir saudades da rua da minha infância, saudades de um tempo em que o tempo era também menino, e eu não precisava fazer economias, barganhar descontos, me preocupar com o mundo...
Minha rua querida era de terra batida, com um buraco para cada morador. Quando chovia o caminhão de gás não passava por ela. Quem precisasse de um botijão tinha que se dirigir até a venda do Seu Geraldo. Eu, da minha parte, não me incomodava, uma vez que na minha casa não havia fogão a gás; minha mãe cozinhava num fogareiro à lenha... Mas, voltemos para os dias chuvosos: eu os adorava!
-Ei, Chimango, vamos brincar na rua! - Vamos fazer uma lagoinha! - Vem logo meu!
-Tô indo! - Chama o Zezinho!
E ali permanecíamos brincando no barro, jogando lama e sapos uns nos outros, até aparecer uma mãe com uma vara nas mãos... Ai era um Deus nos acudam! Cada um saía correndo para sua casa, sujo até nas pontas dos cabelos.
Um dia teve uma festa de aniversário na casa do Gil, filho da Dona Chica. Era já quase noite e algumas horas antes havia chovido. A rua estava cheia de poças d’água e para onde se olhava só se via os pequenos anfíbios pulando de um lado para outro. O céu começava a se pintar de brilhantes e o chão da minha rua, de repente, ficou toda iluminada de pequenos pontos verdes: eram nossos amigos vagalumes!
- E ai caras, vamos ou não vamos no aniversário do Gil?
-Mas a gente nem foi convidado Creonte! - Você sabe que a Dona Chica não gosta da gente meu!
-Ah, mas vamos assim mesmo, procurei incentivar a galera.
-Então vamos! Você vai na frente.
E lá fui eu... sujo de lama até o focinho! O resto da cambada mais parecia um bando de pequenos leitões. Dona Chica, quando nos viu, soltou um grito:
- Fora daqui seus porcos! - Somem daqui ou eu vou chamar os seus pais!
Nós saímos correndo, mas eu não me conformei com aquela desfeita da Dona Chica e resolvi aprontar com ela. Chamei meus amigos e detalhei o meu plano...
Vinte minutos depois nós carregávamos um saco cheio de sapos. Dirigimo-nos então, até os fundos da casa daquela mulher chata e, vupt! Lá se foi o saco recheado de sapos, que caiu do céu estrelado diretamente no meio da festa! Foi um pandemônio!
- Ai meu Deus! - Socorro! - Quem foi o maldito que fez isso?!
Corremos muito. Bem longe dali a gente “rachava o bico” de tanto gargalhar.
- Vocês escutaram? A Dona Chica vai passar a noite catando sapo!

Não foi bem isso o que aconteceu. O traíra do Chimango, dando uma de bom moço, se ofereceu para retirar os sapos do recinto. Como recompensa ganhou bolo e pode ficar na festa... Eu ganhei uma boa surra de vara. Meus demais colegas também.
No outro dia quem ganhou uma surra foi o Chimango... Mas depois nós o perdoamos e fomos brincar de bolinha de gude na nossa querida rua, a rua da nossa infância.

FIM – ISAÍAS GRESMÉS – 06/01/2010

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