O sol já
estava se pondo quando me despertei. Numa rápida olhada procurei por minha mãe
e as minhas irmãs, mas elas não estavam ali. Através de uma das frestas na
tábua da parede pude ver minha avó, mãe do meu pai, no tanque, lavando roupas.
Mas algumas luzes estranhas desviam minha atenção para o fundo do pequeno
quarto. Tomei um susto, mas não gritei. Fiquei a fitar “aquilo”. Confesso que
jamais havia visto algo daquele jeito na minha curta existência (eu tinha
apenas seis anos!).
A criatura,
seja lá o que fosse, emitia luzes pelo corpo todo, nas cores: verde, amarela,
vermelha e azul. Hoje eu diria que se assemelhava a um robô.
Eu fiquei em
pé na cama, e o “não sei quê”, veio na minha direção sem fazer um só ruído. As
luzes pulsavam como a imitar um coração – um silencioso coração. À medida que
ele se aproximava de mim, eu me afastava dele andando de costas na direção
oposta. Eu estava muito amedrontado, mas sentia no meu íntimo ainda verde de
criança, uma certeza de que aquela criaturinha não estava ali para me fazer
mal. Apesar dessa confiança que crescia dentro de mim, senti-me mais aliviado
quando o “abajur ambulante” retornou para o seu ponto de partida no fundo do
quarto. Mais rápido que minhas próprias pernas, avancei na direção da porta,
abri a tramela e fui de encontro com a minha avó.
“Sua mãe te
deixou sozinho?” Respondi que sim. Ela pegou na minha mão e me levou com ela.
Eu olhei para o pequeno barraco onde morava com a minha família e pude
comprovar que aquele ser ainda estava lá, pois suas luzes se propagavam pelas
frestas do casebre.
Mais ou menos
uma hora depois chegam minha mãe e minhas irmãs. Elas estavam no poço
comunitário lavando nossas roupas. Fui ao encontro da minha mãe que trazia uma
lata d’água na cabeça, majestosamente equilibrada numa rudia de pano; e em cada
uma das mãos, um balde cheio de roupas lavadas. Fiquei super feliz porque a
mulher mais forte do mundo estava ali para me proteger daquele sujeitinho
esquisito. Após rápida conversa minha mãe se despediu da minha avó e finalmente
nos dirigimos à nossa humilde casa.
Minha heroína
abril a tranca improvisada que mantinha a porta fechada por fora e, para minha
surpresa, a criatura não mais estava lá!
Hoje,
passados mais de trinta e três anos, ainda tento entender o que era, o que
estaria fazendo ali e por que me visitou aquele ser provido de luz própria.
No decorrer de todos esses anos ouvi inúmeras
explicações para o fato, algumas interessantes; mas a maioria somente chacotas.
Esse episódio marcou a minha vida e, de certa maneira, influenciou-me até nos
meus escritos. Procuro sempre ser racional sem me prender em misticismos ou
coisas semelhantes. Sendo assim, racionalmente, espero a visita do serzinho
iluminado novamente, e agora com uma mentalidade de adulto. Pretendo travar
diálogos intermináveis com ele, sem ser abusivo, é claro! Vou tratá-lo da
melhor forma possível, pois acho que ele vem de longe. E quem se presta a tão
longa viagem, por certo, merece todo meu apreço. Quem sabe, não é mesmo?
ISAÍAS
GRESMÉS, 13/04/2012
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