sábado, 17 de dezembro de 2011

O NATAL DE MARIA


O NATAL DE MARIA

Para a maioria das pessoas que transitavam freneticamente por aquela rua de comércio era a contagem regressiva para o começo da ceia de natal. Para Maria apenas mais um dia a ser vencido duramente. Seus olhos esquadrinhavam cada centímetro do chão em busca de algo para comer ou para vender como sucata. Seu corpo esquelético, encoberto por trapos, não era percebido por ninguém.

Narrador

Num vai-e-vem frenético
De pessoas apressadas
No meio está Maria
Com suas roupas rasgadas
A sua mente só pensa
Em ter a fome sanada

Esquadrinhando o chão
Com sua vista sofrida
Na esperança de achar
Algum resto de comida
Mesmo não achando logo
Ela não se dá por vencida

Maria olha adiante
Alguém comendo um pastel
E sente a barriga roncar
E triste olha pro céu
“Meu Deus, por que é que eu vivo
De forma assim tão cruel?”

Ali, do outro lado da rua alguém a observa atentamente. Maria de repente percebe e se assusta, pois ela já não se lembrava da vez que alguém dirigia um olhar daquele em sua direção. Fez menção de fugir, mas conteve-se diante do sorriso da enigmática figura. Sentiu uma estranha sensação que não conseguia traduzir.

O estranho se aproxima, olha nos olhos dela e nada diz. Maria já não sentia medo e estendeu sua mão em direção dele no momento em que ele lhe solicitou.

Narrador

Com as mãos dadas ao estranho
Maria avança sorridente
Na direção em que o sol
Faz bocejos no poente
Já não se sentia só
Voltou a sentir-se gente

Nesse exato momento João trafegava por ali, estressado pois aquela seria a sua última entrega na véspera de natal. Já não via a hora de chegar em casa para finalmente participar da grande ceia familiar.
 João

 “ Ai meu Deus, esse transito que não anda!
 – Mas o que é isso! – meu Deus, sai da frente! Nãoooooooooooooooo!”

Narrador 

Maria morreu na hora
Com a batida do caminhão
Apesar de todos os esforços
Que se mostraram em vãos
Da equipe do SAMU
Que ali fazia plantão

“Morreu na contramão atrapalhando o trânsito.”

Narrador

Do alto, Maria observava seu corpo estendido na rua e nada entendia. Sentiu a pressão da mão do estranho que, sorridente, a puxava na direção do sol poente. E juntos com o sol, ambos sumiram no horizonte.


ISAÍAS GRESMÉS 17/12/2011






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