domingo, 21 de fevereiro de 2010

NOVO LAR*

NOVO LAR*

Depois de decorridos uns trinta minutos, a portinha daquela singela salinha se abre. Do lado de dentro, um senhor de barba longa e já totalmente branca, faz um sinal para aquela senhora entrar.
- Boa noite minha senhora, qual é o seu nome e em que posso ajudá-la?
-Boa noite. Meu nome é Maria, fez uma pausa, enfiou a mão no bolso do casaco e pegou um lenço para enxugar as lágrimas que recomeçaram a cair e continuou, - estou aqui em busca de ajuda...
Dito isso, a pobre mulher se inundou em lágrimas.
O senhor de barba branca saiu detrás da mesinha onde se encontrava e foi de encontro a ela na intenção de confortá-la.
-Acalme-se dona Maria, pois eu tenho certeza que a senhora vai sair daqui hoje bem melhor do que quanto entrou por esta porta. Vamos, confie em mim e me ajude na prece do Pai Nosso, tudo bem? A triste senhora concordou com o olhar ainda inundado.


“Primeiramente, muito obrigado pela ajuda que o senhor está prestando a mim e a minha mãe. O que vou lhe ditar agora foi exatamente como aconteceu o fato. Era sexta-feira e eu já estava contente só em pensar nas horas a mais de sono no sábado. A noite se mostrava espetacular, apesar do intenso frio do mês de junho. Na rua não se via mais ninguém, afinal no relógio da esquina eu pude ver que faltavam somente quinze minutos para meia noite. Resolvi apressar os passos para não perder o último trem que passava exatamente às 0h05. Quando eu estava quase chegando à estação, um objeto brilhante caído no canto da calçada chamou minha atenção. Abaixei para pegar. Era um colar. Sua composição era bem simples: um singelo cordel de fibra natural entrelaçada, com uma letra “i” de mais ou menos uns quatro centímetros no centro. Andei mais rapidamente até um portão onde havia uma luz forte, a fim de checar mais detalhes. Para minha surpresa pude ler, sem dificuldade, uma estrofe que, de início, achei bem enigmática. Assim estava escrito:

‘Dentro desta letra há uma instrução
A qual deverá cumpri-la direito.
No fim ganhará como premiação
A magia do amor que está no meu peito.’

Meio confuso e sem entender direito o que queria dizer aquilo, resolvi abrir a tampinha da letra, o que fiz sem problema algum. Retirei um pequeno papel e, ao desenrolá-lo, pude ler a tal instrução: ‘Nosso dia chegou meu amor. Meia noite, nesta estação’.
Fiquei mais confuso ainda e comecei a bombardear minha consciência com várias perguntas e tentava, em vão, respondê-las. Medo eu não senti, muito pelo contrário, senti crescer dentro de mim uma curiosidade que há muito eu não experimentava. Quem me chamava de amor? Será que a mensagem se dirigia a mim? Eu estava ficando maluco? Por que eu me arrepiei só em imaginar que poderia, finalmente encontrar a minha amada? Justo eu que nunca namorei e que, por isso sempre fui motivo de chacotas por parte dos amigos e parentes!... Será que o meu esforço em me preservar para alguém, que eu sempre tive certeza que um dia chegaria, valeu? Decidi acreditar que sim.
Faltavam apenas alguns segundos para meia noite quando cheguei à estação. Não havia mais ninguém, somente eu. Uma sensação de descontentamento começou a se apoderar de mim. Olhei o relógio novamente: cinco... quatro... três... dois... um. De repente um clarão... O ambiente frio e malcheiroso devido ao rio poluído que morria ao lado, naquele instante ficou todo envolto numa névoa perfumada e brilhante. E, flutuando encantadoramente, apareceu a mais bela criatura que meus olhos já viram. Sim! Eu já vira esta beldade em meus sonhos mais lindos e, naquele instante tive a certeza de que ela era a dona de todo o amor que eu pacientemente guardei por todos estes anos!
Ela nada me disse com a boca, mas me disse tudo o que eu queria ouvir com apenas um sorriso.
A partir daquele momento eu já não mais vivia para a matéria; mas, no entanto, renascia para o verdadeiro amor, pois aquele derradeiro encontro, na verdade, foi apenas mais um reencontro entre nós, em nossa trajetória em conjunto, rumo à eternidade."


Ainda em transe, o bondoso senhor entrega a mensagem à dona Maria que, imediatamente, começa a lê-la. À medida que a leitura avança, seu semblante vai se tornando mais sereno. Ao final da leitura ela continuava a chorar, mas também ria. Suas lágrimas já não mais estavam carregadas de dor, agora estavam impregnadas de esperança, de resignação, de paz.
-Muito obrigado meu amigo. Fica com Deus!
-Vai com ele também dona Maria!

FIM – ISAÍAS GRESMÉS – 21/02/2010 * (Conto inspirado no soneto “Novo Lar”, de minha autoria).


NOVO LAR

Em uma calçada encontrei um colar,
De fino cordel e simples labor,
Com uma letra “I” a se destacar,
E nela, um escrito era instigador:

“Dentro desta letra há uma instrução
A qual deverá cumpri-la direito.
No fim ganhará como premiação
A magia do amor que está no meu peito.”

Meia noite... confuso e ressabiado...
Dirigi-me então ao local combinado:
Uma velha e erma estação de trem...

Foi então que uma deusa surgiu do além,
Ofertando a mim um lindo sorriso:
Era o meu bilhete para o paraíso.

Isaías Gresmés 07/12/2008

5 comentários:

  1. Bem, não vou comentar o mesmo conto que Kelly, mas comentarei o NOVO LAR...hihi

    Entendo quase nada de contos, talvez por ler mais poemas, com estes eu consiga discernir melhor quando esta ou não bem escrito...na forma como eu sinto isto.
    Mas 'sentindo' o conto, querido Isaías, achei que ficou um pouco confuso. Demorei para perceber que o homem da barba branca estava lendo uma mensagem, provavelmente mediúnica.
    Talvez algum ajuste na estrutura do conto fosse bem-vinda e orações menores (refiro-me ao final da mensagem do falecido).
    Quanto a mensagem transmitida é bonita, é romântica, mas de um romantismo tétrico...hihi

    Um abraço, amigo!

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  2. Querida amiga Anorkinda, obrigado pelo comentário. É provável que o texto esteja realmente confuso, porque toquei num assunto que não é muito comum (a psicografia). Na verdade o velho não está lendo uma mensagem, e sim produzindo uma mensagem. Este fato só se comprova no final do texto (na maior parte do texto quem narra é o protagonista já falecido), quando o velho entrega, em transe ainda, a mensagem para dona Maria... É um papo meio confuso, mas eu,particularmente, quase sempre abordo em meus escritos (mediunidade). Agradeço-lhe imensamente pela visita neste humilde blog.

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  3. kkkkkkkk, descullpe-me...as vezes penso estar emburrecendo!

    vou comentar no lugar certo!

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  4. Deixo aqui registrado que acatei o conselho da amiga Anorkinda e efetuei algumas mudanças no texto acima. Creio que agora ele está mais coeso. Obrigado amigos.

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  5. Caro Isaías, desnecessário dizer da admiração que tenho por você e seus textos, como Anorkinda, também me senti um pouco perdido e confuso quanto ao Conto, talvez por estarmos fora da criação, creio que vc como já disse acima tenha dado mais claridade ao entendimento dos leitores que a bem da verdade sempre será nosso público alvo, não é?

    Quero depois voltar a ler o Conto com essa nova transcrição.

    Abraços cordiais do sempre Fã Marçal Filho

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Eu, desde já agradeço a você, nobre amigo(a), pela presença aqui. Fique à vontade quanto ao seu comentário.