sexta-feira, 4 de março de 2011

A DEPILADORA

A DEPILADORA

-Vamos meu querido, confie em mim!
-Sei não, ainda me lembro da última vez... você quase que me mata!
-Ora, não seja exagerado! – vamos, eu prometo que vou ser mais cuidadosa... vem, deita aqui!
E assim, João era mais uma vez convencido pela esposa, depiladora profissional, a fazer sua barba com cera. O pobre coitado certamente já havia se esquecido da última vez...

Para você, caro leitor, que obviamente não sabe deste ocorrido, eu, o narrador desta história, revelar-te-ei o episódio em questão:

Numa tarde ensolarada
De um dia de verão
Lá vem Maria contente
Com um documento na mão
Correu para encontrar com ela
O seu marido João

JOÃO
Oh Maria, já acabou
Seu curso de depilação?
Agora você já pode
Exercer a profissão?
Oh amor, que coisa boa
Tremo até de emoção!

MARIA

Pois é meu esposo amado
Agora posso trabalhar
E pra mostrar-te que aprendi
Sua barba vou depilar
Seu rosto ficará lisinho
Somente para eu beijar

JOÃO

Oh Maria,minha flor
Assim fico ouriçado
Então me depila logo
Pois eu quero ser beijado
Manda brasa minha nega
Nesse seu negão safado

Maria, toda feliz, puxa João pela mão até a salinha que ele mesmo preparou para ela começar a trabalhar assim que terminasse o curso. Ligou a panela térmica para derreter a cera. Dirigiu-se até o rádio e sintonizou a rádio preferida do marido. Por “coincidência” estava tocando “Tocata e fuga em ré menor” de J. S. Bach e, João, todo feliz, comentou:

JOÃO
Oh Maria, minha deusa
Até Bach veio olhar
As suas mãos de princesa
Que irão me depilar
“Tocata e fuga em ré...”
Que mais posso desejar?

A música tocando, João , todo feliz, destilando os mais lindos elogios para amada e ela, mais feliz ainda, pediu para que ele deitasse na maca. Começou então a fazer uma carinhosa e instigante massagem em seu amado. João já estava pensando em, tão logo acabasse a sessão de depilação, levar a Maria para o quarto e solicitar muito mais do que beijos no seu rosto depiladinho...


Maria vai até a panela e certifica-se que a cera já está no ponto.

MARIA

Vamos começar querido?
Só vai doer um pouquinho
Mas fique calmo, meu nego
Que puxo devagarinho
E quanto a cera sair
Em seguida eu dou-lhe um beijinho
JOÃO

Tudo bem meu grande amor
Macho eu sou, vou aguentar!
Por isso mande a cera
Pois eu quero te beijar
E depois vamos pro quarto
Para, um pouco, “descansar”

MARIA

(Rindo) Nego ousado!

A tocata e fuga... de Bach já estava quase terminando. Maria pega a “pazinha” de madeira, mergulha-a na cera quente, dirige-a na direção do marido (que se encontrava de olhos fechados, sorriso nos lábios, só pensando no final, no final!).
Maria passa a cera em uma área de mais ou menos nove centímetros quadrados do rosto de João.
– Que quentinha!, balbucia João...
A doce esposa assopra de leve o rosto do seu amado... Ele se arrepia todo... Agora ela levanta, de leve uma pontinha da cera... João apenas solta um “Ai”... Maria segura a pontinha com toda sua força e puxa.

JOÃO

Aaaaaaaaaaaaaaaaai!
Sua louca, quer me matar?!
Já pode parar com isso
Pois não vou mais depilar
Se eu soubesse que era assim
Não iria nem começar!

Maria tentou convencer o marido dizendo que era “normal” sentir um “pouco” de dor, porém ele não quis mais conversa.

Agora, passados mais de três anos, João está de novo deitado na maca... O que será que vai acontecer hein?

FIM – ISAÍAS GRESMÉS, 04/03/2011

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