quarta-feira, 3 de março de 2010

AS POSSÍVEIS LIÇÕES DE UM SONHO

AS POSSÍVEIS LIÇÕES DE UM SONHO.

Quando abri meus olhos, sem entender por que, me vi naquele horrível local. Era um pequeno espaço, com pouca luz e horrivelmente sujo. Também não sei a razão, de repente me deu uma vontade imensa de evacuar; neste momento percebi que estava apenas com uma camiseta e uma cueca. Percorri com o olhar, todo o recinto à procura de um banheiro; vi, num canto do recinto pestilento, algo que parecia uma latrina. Dirigi-me até ela. Não gostei da aparência dela, pois estava repleta de fezes, vermes e urina velha. O odor que dali exalava deixou-me nauseabundo. O pior foi quando olhei para os meus pés (eu estava descalço!): percebi horrorizado que pisava em fezes de ratazanas e também em fezes humanas. “Deus! Que lugar maldito é esse?” – pensei inconformado.
Após ter me aliviado naquela tétrica latrina, constatei consternado que havia uma descarga e, pasmem! – havia água! “Mas por que essa imundície toda?” – mais uma vez perguntei para o além.
Olhei mais uma vez para os quatro cantos daquele espaço imundo e, só então pude comprovar que não me encontrava sozinho. Num canto, sentado numa lata, encontrava-se um homem. Seu semblante me dizia que ele teria por volta de quarenta anos. Era possuidor de uma vasta cabeleira castanha clara, uma barba densa de igual cor; usava óculos e estava bem vestido. Percebi que ele gesticulava com veemência enquanto falava com um olhar perdido... Senti que ele não notava minha presença.
Aproximei-me dele a fim de escutar o que ele falava. Pude notar, pelas suas queixas, que ele estava muito zangado com toda aquela sujeira.
“Mas isso é uma pocilga! – por que ninguém limpa este lugar? – onde está o responsável por este lugar? – vocês sabem quem sou eu? – quando eu sair daqui vou chamar a vigilância sanitária e mandar lacrar este local desprezível!”
“Nossa, este homem está uma fera!”. “Acho que ele é uma figura importante, pois nem deu trela à vassoura e ao material de limpeza que se encontra bem ao seu lado!”
Logo ao lado do homem alterado encontrava-se uma mulher deitada. Quando cheguei perto dela, levei um susto: ela estava olhando para mim; mas não foi isso que me assustou, foi a sua aparência; na cabeça daquela mulher pude contar dois imensos chifres! Sim, chifres! Ela não dizia coisa inteligível, de forma que eu nada entendi do seu balbuciar; pareceu-me que ela encontrava-se sob efeitos alucinógenos...
Desviei meu olhar, em busca de melhores imagens, mas só vi vultos e nada mais. “Meu Deus, será que eu estou no inferno?” Mais uma vez ninguém me respondeu.
Sem mais pensar em nada, corri de encontro à porta e, quando consegui abri-la, acordei daquele pesadelo nojento.

Após o café da manhã comecei a debulhar aquele sonho, para tentar entendê-lo. Por que aquele local era sujo, sendo que havia água, vassoura, material de limpeza e pessoas lá? O que um homem, aparentemente intelectual, estaria fazendo naquele local? Seria para me ensinar que a água, a vassoura e o material de limpeza, sozinhos, não fazem nada? Mas, isso não é óbvio demais? E o intelectual, o que ele queria me dizer? Será que é para me alertar que falácias não movem vassouras? E a mulher chifruda e drogada, o que queria me dizer? Seria para me mostrar como é feio ser olhado e não ser enxergado? Seria tudo isso?

Rezei um Pai Nosso em pensamento e voltei a dormir. - FIM


ISAÍAS RODRIGUES DE OLIVEIRA – 03-03-2010

3 comentários:

  1. Eu ainda nao havia lido esse conto. Fiquei impressionada. A cada linha que lia imaginava um lugar: Uma prisao, um manicomio, o próprio inferno...

    Reli e reli e a cada leitura entendia algo diferente. Será que nao estaria na escuridao para que visse a Luz? Nao estaria afastado Dela? Nao seria o fato de estar um homem mais velho, uma mulher e um homem mais jovem a demostraçao de que todos sao iguais? Afinal os tres evacuaram da mesma forma, ou seja, quando se morre todos apodrecem e fedem da mesma forma, independentemente de ser homem/mulher, rico/pobre, iletrado/ letrado.

    E a sujeira, nao serao os pensamentos ruins, os atos nem sempre nobres, as pequenas mentiras do dia a dia?...O instrumento para a "limpeza" está lá, basta por maos à obra.

    Sei que toda vez que eu vir aqui te reler sairei com uma nova impressao/liçao/mensagem.

    Muito obrigada pela maravilhosa oportunidade de te ler.

    kelly

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  2. Nossa Kelly, você fez indagações interessantes. Pode ser tudo isso mesmo, pois escrevi o texto acima, baseando-me num pesadelo que tive. Como ele permaneceu claro em minha mente assim que acordei, resolvi externá-lo aqui. Os sonhos dá margem às inúmeras interpretações e cada uma pode ser válida. Valeu amiga pelo carinho. Adoro quando um amigo me visita e deixa sua impressão.

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Eu, desde já agradeço a você, nobre amigo(a), pela presença aqui. Fique à vontade quanto ao seu comentário.